Pela primeira vez em 101 anos, o partido nacionalista Sinn Féin, antigo braço político do IRA, o Exército Republicano Irlandês, e que defende a reunificação da Irlanda, conquistou, este sábado, a maioria no Parlamento da Irlanda do Norte e poderá agora designar o primeiro-ministro do governo descentralizado, com a candidata favorita ao posto a líder do Sinn Féin, Michelle O’Neill.
“Hoje é o início de uma nova era”, disse O’Neill. “Independentemente das origens religiosas, políticas ou sociais, o meu compromisso é fazer a política funcionar”, prometeu a líder do Sinn Féin.
O partido nacionalista conquistou 27 lugares na assembleia de 90 lugares, seguido pelo Partido Unionista Democrático (DUP), com 24 nomeações, e, firmando-se como a terceira força política da Irlanda do Norte, o Partido Aliança, de tendência centro-liberal.
Esta vitória política levantou preocupações entre os partidos alinhados com o Reino Unido de que o Sinn Féin possa criar um referendo para a união da Irlanda do Norte com a República da Irlanda, contudo, o primeiro-ministro da Irlanda, Leo Varadkar, afirmou que a vitória do partido “não aproxima necessariamente” o país de um referendo popular sobre a reunificação.
Para já, antes de pensar na reunificação, a líder do Sein Féin reforçou a importância de criar um executivo na próxima semana, uma vez que, caso este não seja formado nos próximos seis meses, o governo irá colapsar e será necessário novas eleições.
Isto não será uma tarefa fácil, uma vez que o Partido Unionista Democrático, maioritário nos últimos 20 anos, reiterou que não fará parte de um governo de coligação se as conversas mantidas por Londres e Bruxelas não levarem à eliminação do protocolo do Brexit para a região.
“Até que essa questão seja resolvida, podem realizar as eleições que quiserem, mas não haverá governo até que seja consertada a questão do protocolo”, disse Ian Paisley, deputado do Partido Unionista em Westminster.
O Brexit, rejeitado pelo eleitorado da Irlanda do Norte no referendo de 2016, teve consequências negativas no resultado do Partido Unionista, que continua a defender a saída do Reino Unido da UE, o que provocou a “divisão” do bloco protestante, conforme reconheceu o seu líder, Jeffrey Donaldson.
O Partido Unionista forçou a queda do governo em fevereiro último e agora não tem intenção de apresentar um candidato ao cargo de Michelle O’Neill, que defendeu que “quem é pela reunificação” vai defender esta posição, mas encorajou “os que não têm essa perspetiva a unirem-se ao debate, um debate saudável sobre o futuro e sobre o que é melhor para todos”.
Segundo o acordo de paz da Sexta-feira Santa (1998), que pôs fim ao conflito, nenhum dos dois cargos pode existir sem o outro e, embora ambos tenham o mesmo estatuto, o cargo de ministro-chefe tem uma enorme carga simbólica para o sindicalismo protestante.