Com um número recorde de pessoas registadas para as presentes eleições nas Filipinas, 67 milhões para ser mais específico, os filipinos dirigiram-se até às urnas para eleger o próximo Presidente. Apesar dos votos ainda não terem sido todos contados, especialistas afirmam que a vitória irá pender para Ferdinand Marcos Jr, filho do ditador Ferdinand Marcos (1965-1986), apesar do historial de violações dos direitos humanos e corrupção.
A maior ameaça que se encontra a competir contra Marcos Jr, mais conhecido como ‘Bongbong’, é Leni Robrebo, a atual vice-presidente e ex-advogada de direitos humanos pro bono, que prometeu uma governação boa e competente. Robrebo é a única mulher a concorrer à presidência filipina.
No cargo de vice-presidente, cargo eleito separadamente do de Presidente e que conquistou, em 2016, depois de derrotar o próprio Marcos Jr., Robrebo entrou em colisão por diversas vezes contra o Presidente cessante, Rodrigo Duterte, condenando a sua “guerra contra as drogas”, que, segundo grupos de direitos humanos, terá provocado cerca de 30 mil vítimas mortais, e levou o tribunal penal internacional a abrir uma investigação contra ele, e opôs-se ao projeto de restabelecer a pena de morte no país.
“Estas eleições transformaram-se numa campanha do ‘bem contra o mal’”, disse o cientista político da Universidade das Filipinas Diliman, Aries Arugay, à Al Jazeera. “Está claramente demarcado que Marcos representa a dinastia, autocracia e impunidade. Robredo representa o oposto disso: integridade, responsabilidade e democracia.”
O vencedor destas eleições irá substituir o ditador Rodrigo Duterte, que apesar de considerar Marcos Jr. “fraco”, o Presidente cessante acabou por apoiar a sua candidatura, enquanto a sua filha, Sara Duterte-Carpio, está a concorrer ao lado deste candidato e é uma das favoritas para vencer as eleições que lhe irão conferir o cargo de vice-Presidente.
Observadores internacionais consideraram esta uma tentativa de Duterte, alvo de um inquérito internacional pela guerra mortífera contra a droga, de obter garantias de que não será julgado.
Apesar do historial de violência e corrupção, a família Marcos desviou 10 mil milhões de dólares do Governo filipino (cerca de 9,4 mil milhões de euros), enquanto centenas de membros da oposição eram presos, torturados e assassinados, e de Marcos Jr. recusar condenar este passado, pelo contrário, até considerou o seu pai um “génio político”. Analistas, citados pelo Guardian, afirmam que, uma vez que esta família controla os meios de comunicação do país, estes tem o poder de fazer um “rebranding” do apelido Marcos ao “espalhar desinformação que minimiza ou nega atrocidades passadas”.
“Alegações falsas foram amplamente divulgadas online, retratando o governo de Marcos como uma era de ouro de prosperidade e paz”, escreve o jornal inglês.
Alguns eleitores relataram que diversas secções de voto têm sido incapazes ou lentas a digitalizar as cédulas de papel, levantando preocupações que os seus votos não sejam contados depois de serem instruídos a deixar os votos com as autoridades, enquanto começam a surgir alegações de que as autoridades estão a subornar, a manipular e, inclusive, a usar formas de violência para influenciar os eleitores.