EUA. Tiroteio em Buffalo foi “crime de ódio” e fez 10 vítimas mortais

Naquele que foi o 198.º tiroteio nos EUA, este ano, as autoridades confirmaram que o ataque foi um crime de ódio com motivações raciais. O autor do tiroteio matou dez pessoas e fez 3 feridos, entre os baleados, 11 eram afro-americanos.

Num momento em que o país está completamente mergulhado na violência armada, os Estados Unidos assistiram a mais um tiroteio a acontecer dentro das suas fronteiras, o 198.º registado este ano, em Buffalo, em Nova Iorque, que fez 10 vítimas mortais e 3 feridos. Entre as 13 vítimas, 11 eram afro-americanos, o que levou as autoridades a afirmar que o crime teve motivações raciais.

Segundo os meios de comunicação internacionais, o autor do crime é um adolescente branco, de 18 anos, Paytin S. Gendron que, equipado com roupas de estilo militar e um colete à prova de bala, entrou, na tarde de sábado, num supermercado desta cidade nova-iorquina e matou dez pessoas fazendo ainda três feridos durante este tiroteio em massa, nomenclatura utilizada quando o atirador faz pelo menos quatro feridos na mesma região, excluindo o próprio agressor.

No mesmo dia, as autoridades de Milwaukee foram obrigadas a declarar um toque de recolher obrigatório para jovens e intensificaram a vigilância na cidade, depois de 21 pessoas terem ficado feridas em três tiroteios no final de um jogo da NBA, entre os Bucks e os Boston Celtics.

Este ano já foram registados um total de 15 937 mortes relacionadas com violência armada, sendo 7027 destes casos relacionados com homicídios ou assassinatos, em comparação, desde o início da guerra na Ucrânia foram reportadas cerca de 3 500 mortes de civis durante este período.

 

Motivações raciais

As autoridades policiais afirmam que este foi um “crime de ódio e extremismo violento com motivação racial”, enquanto Gendron, que já tinha publicado nas suas redes sociais um “manifesto de supremacia branca”, foi detido sem direito a fiança sob a acusação de homicídio em primeiro grau e vai ser presente a um juiz na terça-feira de manhã, indicou, em comunicado a procuradoria.

Quando o autor do crime, que vive a 320 quilómetros do local do tiroteio e que transmitiu o tiroteio em direto na plataforma de streaming, Twitch, foi confrontado pela polícia dentro do supermercado onde baleou as vítimas, este apontou uma arma para o próprio pescoço, contudo, as autoridades convenceram-no a largar a arma e a render-se, acrescentou o chefe da polícia.

O presidente de Buffalo, Byron Brown, afirmou que “este é o pior pesadelo que qualquer comunidade pode enfrentar”, acrescentando que todos os habitantes estão a “sofrer”. “A profundidade da dor que as famílias que todos nós estamos a sentir neste momento não pode nem ser explicada”.

Este foi um crime que chocou a população desta zona, com o xerife do condado de Erie, John Garcia, a classificar este tiroteio como uma “pura maldade”. “Foi um crime de ódio motivado por questões raciais de alguém de fora da nossa comunidade, fora desta cidade de bons vizinhos… entrou na nossa comunidade e infligiu este mal sobre nós.”

O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, já reagiu a este tiroteio e divulgou um comunicado na noite de sábado enviando as suas “orações” para as vítimas e os seus familiares. “Eu e a primeira-dama estamos a orar pelas vítimas e as suas famílias, os corações de todo o país estão com o povo de Buffalo”, disse, acrescentando que “abominava” o crime que foi praticado.

“Ainda precisamos de investigar mais sobre a motivação do tiroteio à medida que a polícia faz o seu trabalho, mas não precisamos de mais nada para afirmar uma verdade moral clara: um crime de ódio motivado por questões raciais é abominável para o próprio tecido desta nação”, afirmou o Presidente. “Devemos fazer tudo ao nosso alcance para acabar com o terrorismo doméstico alimentado pelo ódio.”

 

Crimes de ódio a crescer

Os crimes de ódio nos Estados Unidos atingiram o seu pico dos últimos 12 anos em 2020, quando mais de 10 mil pessoas denunciaram ofensas relacionadas à sua raça, género, sexualidade, religião ou deficiência, escreve a BBC, acrescentando que estes números devem ser ainda maiores, uma vez que a polícia não é obrigada a enviar dados de crimes de ódio ao FBI. 

Segundo o meio de comunicação do Reino Unido, este ano foi registado um aumento de crimes contra americanos asiáticos e negros, afirmação corroborada por dados divulgados pelo FBI.

Dado o clima que se tem vivido nos Estados Unidos, o influente reverendo Al Sharpton desafiou a Casa Branca a convocar uma reunião com líderes negros, judeus e asiáticos “para enfatizar que o Governo federal (está) a intensificar os seus esforços contra crimes de ódio”, cita o Politico.

O ataque que ocorreu este sábado em Buffalo está a ser classificado como o pior tiroteio em massa de 2022, até ao momento, nos Estados Unidos. Segundo dados do Arquivo de Violência Armada deste país, já morreram 15 941 pessoas devido a armas, 7031 de homicídio voluntário ou involuntário e 8910 de suicídio, enquanto pelo menos 13 073 ficaram feridas.

Foram ainda reportados 9 assassinatos em massa, que, segundo o FBI, é quando quatro ou mais pessoas são assassinadas no mesmo local em simultâneo. O mais grave caso de assassinato em massa nos Estados Unidos ocorreu em Las Vegas, em 2017, durante um festival de música country, onde um homem de 64 anos fez 60 vítimas mortais e 867 feridos.

Mais de 44 000 pessoas morreram em 2021, a maioria por suicídio, de acordo com o Arquivo de Violência Armada norte-americano.

Apesar dos recorrentes tiroteios em massa e várias iniciativas para reformar as leis de controlo de armas, estas nunca foram aprovadas pelo Congresso dos Estados Unidos, deixando os estados e os conselhos locais decretar as suas próprias restrições.