O número de insolvências entre as empresas portuguesas deverá crescer 2% este ano face a 2021, e quase 16% em 2023. As estimativas são da COSEC – Companhia de Seguro de Créditos, que acrescenta que o “crescimento previsto contrasta com a queda registada nos últimos dois anos: -2,3% em 2020 face a 2019 e -12,3% em 2021 face a 2020”.
“Nos últimos dois anos, a pandemia levou o Governo a implementar vários mecanismos de apoio às empresas, o que terá permitido limitar o número de insolvências. No entanto, a maioria dessas ajudas terminou no final de 2021”, começa por explicar Maria Celeste Hagatong, presidente do Conselho de Administração da COSEC.
E não tem dúvidas que “os efeitos já são visíveis”, dando exemplos: “Na subida de 19% dos Processos Especiais de Revitalização registados este ano, um sinal claro do aumento do número de empresas que enfrentem sérias dificuldades para cumprir pontualmente as suas obrigações”.
As estimativas da COSEC avançam ainda que o clima de incerteza económica na Europa, “onde estão os principais parceiros comerciais das companhias nacionais, a subida dos custos de produção – refletindo nomeadamente a escalada das matérias-primas – e a inflação elevada são desafios adicionais para as empresas, e que podem levar ao aumento das falências”.
Em Portugal, esta evolução deverá tomar ritmos mensais diferentes durante este ano: no primeiro semestre a tendência é de estabilidade e na segunda metade do ano as previsões apontam para um crescimento marginal mensal de 7% em comparação com o mesmo mês do ano passado.
Insolvências devem crescer 12% na zona euro
Já na zona euro, as insolvências devem aumentar 12% este ano face a 2021, prevê a Allianz Trade, acionista da COSEC, no estudo Global Insolvency Report: Growing risks and uneven state support. Já para o próximo ano, as estimativas apontam para uma subida de 16% face a este ano.
À escala mundial, a estimativa do crescimento de insolvências é de 10% neste ano e de 14% em 2023.
“A guerra na Ucrânia e os novos confinamentos decretados pelas autoridades chinesas para tentar travar a propagação da Covid-19 estão na origem de alguns riscos recentes para as empresas. Por um lado, as perturbações das cadeias logísticas continuam a verificar-se, afetando, nomeadamente, o transporte de bens. Por outro, a escalada dos preços das matérias-primas, incluindo das energéticas, traduz-se num aumento dos custos de produção e dos bens”, defende o estudo que relembra também a elevada subida da inflação “o que leva os principais bancos centrais a atuar de forma a travar a subida dos preços”.
Por isso defende que “a aplicação de políticas monetárias mais restritivas deverá ser sinónimo de uma subida dos custos de financiamento para as empresas”.
Ainda assim, os especialistas da Allianz Trade identificam três sinais que ajudam a explicar o motivo pelo qual não estimam uma subida abrupta do número de insolvências à escala mundial. A época de apresentação de resultados está praticamente no fim e, contas feitas, à escala mundial o total do saldo da tesouraria das empresas cotadas em bolsa era 30% mais elevado nos primeiros três meses deste ano que no mesmo período de 2019. Além disso, os depósitos das empresas não financeiras eram 29% mais elevados na Zona Euro no primeiro trimestre do que de janeiro a março de 2019. E, por fim, os dados da líder mundial de seguro de créditos apontam que o número de empresas em situação mais débil diminuiu, em particular em Itália e França.