Depois de dois meses de um intenso confinamento e medidas restritivas, as autoridades de Xangai, onde se viveu um dos piores surtos de covid-19 desde o início da pandemia, continuam a dar passos para o regresso à “normalidade” permitindo que os seus cerca de 25 milhões de habitantes possam sair livremente de casa, enquanto empresas e transportes públicos também voltam a funcionar.
Apesar do Governo já ter aligeirado algumas medidas, esta quarta-feira, foi permitido, em áreas de risco reduzido, que os cidadãos caminhassem livremente pela cidade, enquanto fábricas e negócios voltam ao ativo.
Também aos serviços de transportes públicos e táxis poderão retomar as suas atividades, assim como a circulação de automóveis particulares nas estradas, exceto nas áreas de médio e alto risco.
“Este é um momento pelo qual esperávamos há muito tempo”, disse num comunicado publicado nas redes sociais o Governo municipal de Xangai. “Devido ao impacto da pandemia, Xangai, uma megacidade, entrou num período de silêncio sem precedentes”.
“Estou um pouco ansioso com a situação futura no trabalho e na vida. Mas emocionalmente, é muito mais fácil do que os tempos que vivemos em confinamento”, explicou um jovem de 27 anos ao Guardian. “Já disse ao meu chefe que vou abandonar a China se a cidade entrar novamente em confinamento”.
As autoridades municipais também anunciaram hoje um plano de 50 medidas para revitalizar a economia local após dois meses de estrita contenção face ao pior surto de covid-19 na cidade desde o início da pandemia.
De acordo com a imprensa oficial, as medidas reduzirão a carga financeira das empresas e outros intervenientes no mercado em cerca de 300 000 milhões de yuan (mais de 41 930 milhões de euros, ao câmbio atual).
O regresso da “liberdade” na capital económica chinesa foi recebido com celebrações por parte da comunidade com, segundo relata o Al Jazeera, pequenos grupos de pessoas a juntaram-se na rua, com copos de champanhe e brindes enquanto gritavam ao “fim das restrições”.
“Foi um momento muito difícil”, disse a economista-chefe do Hang Seng Bank, Dan Wang, ao meio de comunicação do médio-oriente, confessando que teve de passar 70 dias em confinamento. “Aconteceram muitas coisas inesperadas e a confiança de muitas pessoas foi abalada, assim como o futuro da China. Acho que este foi o maior desafio que a China enfrentou na última década”, disse.
O rigoroso confinamento imposto à população de Xangai motivou protestos de muitos residentes devido a dificuldades no acesso a alimentos, perda de rendimentos e excesso de pessoas em centros de quarentena.
Ainda assim, mais de meio milhão dos 25 milhões de habitantes de Xangai continuam trancados em casa, em comunidades residenciais onde foram detetados casos de coronavírus nos últimos 14 dias.