Uma multidão de fãs da realeza e turistas reuniram-se próximo do Palácio de Buckingham, esta quinta-feira, para assistir ao defile militar e ter um vislumbre da Rainha Isabel II nas celebrações dos seus 70 anos de reinado. O entusiasmo visível nas ruas de Londres – fosse ou não, em parte, devido ao tempo solarengo, raro nas ilhas britânicas, ou aos dois dias de feriado em honra do jubileu de platina da monarca – deixou bem claro que, apesar dos recentes escândalos envolvendo a família real e do descontentamento nas antigas colónias, a monarquia ainda reúne algum consenso entre o público britânico.
“O meu pai marchou na coroação da Rainha”, gabou-se Becca Coker, de 39 anos, ao Guardian, no meio da enorme multidão que se juntou nos arredores do palácio de Buckingham, numa maré de azul, branco e vermelho, as cores do Reino Unido. À semelhança de 87% dos britânicos, Coker nunca conheceu outro chefe de Estado, tendo vindo de propósito de Oxfordshire para ver a parada. “É uma coisa mesmo positiva após os últimos anos de covid”, explicou.
A questão é que a monarca, aos 96 anos, já não vai para nova – aliás, Isabel II nem estará presente na missa do seu jubileu de platina, na catedral de São Paulo, esta sexta-feira, após sentir desconforto quanto assistia à parada, a partir da varanda do palácio, avançou a BBC, tendo sido tida em conta na decisão a “viagem e atividade requerida” – e até já começa a delegar no seu herdeiro, o príncipe Carlos. No entanto, dada a impopularidade deste quando comparado com a mãe – há grandes dúvidas quanto ao futuro da monarquia britânica.
Chegaram congratulações a Isabel II vindas de todos os cantos do planeta, de figuras tão dispares como Barack Obama ou do supremo líder norte-coreano, Kim Jong-Un, avançou a Sky News. No entanto, das antigas colónias britânicas, entre saudações amenas, também chegavam exigências com um corte com a monarquia.
“A Rainha foi uma rara constante, duradoura, inspiradora. Uma presença de calma, decência e força”, elogiou Anthony Albanes, primeiro-ministro da Austrália. Que, contudo, aproveitou para reafirmar a agenda republicana do seu partido, os trabalhistas australianos. E notando que a relação entre a Austrália e o Reino Unido já não é de “pai e novato, erguemo-nos como iguais”, descreveu. “Mais importante, como amigos”.
Aplausos à Rainha A Rainha Isabel II observou a parada militar e as acrobacias aéreas da varanda do palácio de Buckingham, sendo longamente aplaudida. Estava ao lado dos duques de Cambrige, William e Kate, mais os seus netos, George, com oito anos, Charlotte, com sete, e Louis, com quatro. O mais novo não resistiu a fazer caretas, tapando os ouvidos, incomodado com o som dos jatos que passavam, tornando-se uma das imagens mais icónicas do jubileu.
No entanto, havia ausências notórias. Nomeadamente de Harry e Meghan Markle, desavindos com a família real, mas que fizeram questão de estar em Londres para o jubileu de platina da matriarca, avançou a imprensa britânica, apesar de não terem comparecido a qualquer evento público esta quinta-feira. Também não apareceu o príncipe que mais embaraços trouxe à monarquia britânica, André, o filho mais novo de Isabel II, em tempos amigo do infame Jeffrey Epstein, tendo inclusive uma das vítimas deste bilionário pedófilo contado ter sido abusada por Eduardo.
As acusações judiciais contra o príncipe foram postas de lado, após ambas as partes chegarem a um acordo de compensação. O dinheiro para tal veio das finanças da Rainha, acendendo um debate quanto às finanças da monarquia entre o público britânico – o dinheiro da família real é privado ou da coroa, e como tal público? Seja como for, André não compareceu por ter dado positivo à covid-19, evitando embaraços.
Enquanto a imprensa britânica mantinha uma cobertura avassaladora do jubileu alguns não se mostram tão entusiasmados. “Tenta separar o teu republicanismo ardente daquilo que é de facto um ótimo fim de semana prolongado”, sugeriu a jornalista Helen Pidd, num artigo intitulado de “como sobreviver ao fim de semana do jubileu – para republicanos”, no Guardian. “Pode parecer idiota aplaudir alguém por se sentar num trono durante 70 anos. Mas muitas coisas que celebramos não fazem sentido”, lembrou.