Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) indicou na passada quarta-feira, que está «impedida por lei de iniciar um processo de classificação da obra desaparecida de Paula Rego ‘Os Cães de Barcelona’, por impossibilidade de notificar o proprietário». No principio da semana, o realizador Nick Willing, filho da pintora portuguesa Paula Rego, revelou à agência Lusa ter enviado um pedido para classificação da obra ao ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, por se tratar de uma peça «muito importante» para a artista radicada no Reino Unido. Na verdade, esse pedido formal e fundamentado de classificação já havia sido enviado à DGPC em outubro de 2021, pela historiadora de arte Raquel Henriques da Silva, com o apoio da coordenadora da Casa das Histórias Paula Rego, a historiadora Catarina Alfaro.
«Apesar do reconhecimento do inegável valor patrimonial das obras em causa – o paradeiro do quadro ‘Cabeça Heráldica, de Amadeu de Sousa-Cardoso, também foi interrogado -, passíveis de classificação de âmbito nacional, e atendendo ao desconhecimento do paradeiro das obras, a DGPC contactou a Polícia Judiciária questionando se as obras em referência integravam a denominada Coleção João Rendeiro ou se faziam parte da lista das obras arrestadas ou a arrestar, no âmbito do processo judicial em curso», indicou fonte oficial da DGPC, à agência Lusa. A DGPC garantiu ter sido informada de que «as obras em causa não foram identificadas na visita efetuada à residência de João Rendeiro, bem como se desconhece se estas se encontram na posse/propriedade de João Rendeiro». Por isso, explicou, «do ponto de vista jurídico, o desconhecimento do paradeiro das obras impede que seja dado seguimento ao pedido de abertura dos supracitados procedimentos de classificação, até que sejam obtidas informações que conduzam à realização das formalidades legais a que obedece o procedimento, concretamente a notificação e publicitação da decisão de abertura do procedimento».
Por sua vez, Willing disse à Lusa estar convicto de que «com a classificação, o quadro será mais difícil de vender ou de sair do país» e que esta obra é «muito importante para a Paula e é preciso fazer mais para tentar encontrá-la». O quadro foi pintado em 1964 e apesar de a cena descrita ser inspirada «num acontecimento ocorrido em Espanha, durante o regime político de Franco», a obra «remete para a situação política em Portugal», segundo Raquel Henriques da Silva.