A América apresentou esta semana o relatório sobre a Liberdade Religiosa no mundo. O Secretário de Estado, Antony Blinken, refere particularmente três países onde a liberdade religiosa não é respeitada ou, se quisermos, existe perseguição religiosa. Esses três países são: a China, o Afeganistão e a Arábia Saudita.
A Liberdade Religiosa foi conquistada ao longo de muitos séculos e reconhecida oficialmente pela Igreja Católica num documento do Concílio Vaticano II e que dá a cada homem a livre decisão de aderir e praticar a religião que quiser. Tendo havido uma necessária separação entre a Igreja e o Estado, a Igreja reconhece, hoje, que a Liberdade Religiosa é um bem e que deve ser fomentada.
Algumas pessoas, no entanto, rejeitam esta doutrina e classificam-na como de modernista com base num argumento: se existe uma religião verdadeira, quer dizer que todas as outras são falsas, logo, assumir que alguém possa ter o direito de aderir ao erro, seria uma contradição racional.
Isto, no entanto, tem um revés e que me parece não ser de menor importância. Se me for negado o direito de liberdade de escolha da minha religião, com base à não aceitação formal do erro, significa que eu terei de ficar sempre na Igreja Católica apenas por obrigação racional.
Ora, o ato de culto é, acima de tudo, um ato de amor para com Deus, qualquer que seja esse Deus. Ter um crente agregado a uma religião por obrigação e não por amor seria, no mínimo, a maior contradição.
A atitude religiosa, no entanto, está presente na vida espiritual do homem desde os primórdios da história da civilização. O homem não só é capaz da vida espiritual, como desenvolveu essa mesma capacidade de exprimir essa relação com uma realidade não sensível.
Estes países que não permitem o exercício da liberdade religiosa e que chegam mesmo a perseguir a organização da vida espiritual dos homens, vão contra um princípio básico de liberdade individual do homem.
Se no princípio os Estados quiseram emancipar-se da própria religião, penso que, hoje, fará todo o sentido que haja uma emancipação das religiões em relação aos poderes temporais. Sei que será muito mais fácil para as entidades religiosas e para o Estado ter um controlo da religião individual para estabelecer a ‘paz comum’.
Mais difícil, no entanto, é manter a paz social numa sociedade marcadamente pluralista onde cada religião se adapta e procura os seus próprios mercados’ para se realizar na vida de cada homem.
Se não conseguirmos separar a vida espiritual do controlo dos Estados, estaremos, seguramente, a afastar os homens do amor. E, na verdade, diz o apóstolo que no «amor, não há temor». O verdadeiro exercício da liberdade religiosa acontece quando os crentes se encontram com Deus no íntimo do seu coração para O amar.
Socialmente, a China, o Afeganistão e a Arábia Saudita, estão a fazer o mais correto: controlar a liberdade religiosa, servindo-se da religião para controlar a paz comum. Do ponto de vista espiritual, do meu ponto de vista, é o maior erro que podemos fazer… controlar o amor que cada um possa ter a Deus.
Mas a lista de países onde a Liberdade Religiosa não é respeitada vai muito para lá destes países que aqui referia. O exercício da religião, por enquanto, ainda se faz com alguma liberdade na Europa, mas vamos percebendo uma perseguição velada sob a capa da justiça ao exercício das religiões e, de forma particular, ao exercício do cristianismo que, em breve, se tornará uma religião absolutamente minoritária. É aí que aparecerá o amor!