Quando se pensa em carros caros, a mente foge imediatamente para as marcas Ferrari, Lamborghini, Bugatti, Aston Martin, BMW e, claro, Mercedes Benz. Se se perguntar a uma destas pessoas, ‘quanto’ é que é ‘caro’, as respostas talvez atinjam os cinco dígitos, quem sabe os seis, para os mais atrevidos.
Pois bem, depois de um leilão privado organizado pela RM Sotheby’s, no museu da Mercedes em Estugarda, na Alemanha, o título de carro mais caro de sempre foi conquistado pela venda de um Mercedes 300 SLR Uhlenhaut Coupé, dos anos 50, que foi vendido por cerca de 135 milhões de euros. Trata-se de um de apenas dois exemplares deste modelo existentes no mercado, e destronou, por larga vantagem, o Ferrari de 1962 vendido em 2019 por mais de 45 milhões de euros, que até agora guardava o título.
Mas afinal, o que tem de tão fascinante este Mercedes do ano 1955, que faz dele o mais caro de sempre? O Mercedes 300 SLR Uhlenhaut (apelido do seu criador, Rudolf Uhlenhaut) Coupé foi inspirado no Mercedes Benz W196, veículo de referência na Fórmula 1 da década de 50. É um modelo belíssimo, com as duas portas a abrir como asas de gaivota. Do ponto de vista dos detalhes técnicos, não resta sombra de dúvida: este é um bólide divertido, feito para os amantes do automobilismo. É que o 300 SLR Uhlenhaut Coupé gaba-se de ter um motor de 3,0 litros, de 8 cilindros em linha com 306 cv de potência e 317 Nm de binário. Demora apenas 7,4 segundos para chegar dos 0 aos 100 quilómetros por hora, e 20.2 segundos para atingir os 200 quilómetros por hora. Foi aliás considerado, naquela época, o carro mais veloz do mundo, atingindo uma velocidade máxima de 290 quilómetros por hora.
Nem tudo foi glória na sua história, no entanto. O 300 SLR Uhlenhaut Coupé vem acoplado com uma triste memória: no ano do seu lançamento, foi o protagonista de um aparatoso acidente na edição desse ano das 24 Horas de Le Mans. Durante o trajeto, quando seguia sob os comandos do piloto Pierre Levegh, o veículo embateu num rival, levantando voo e voando sob a arquibancada. Resultado? 83 vítimas mortais e cerca de 180 feridos, o que faz deste o pior acidente da história das 24 Horas de Le Mans.
O veículo foi, no fim dos anos 80, restaurado num minucioso processo que demorou cerca de seis meses, pela autoria de Tony Merrick, técnico e preparador automotivo de grande renome.
Tudo por uma boa causa
A história em torno da venda deste carro tem ainda mais um elemento curioso: o dinheiro arrecadado com a venda vai ser utilizado para financiar um programa global de bolsas de estudo, batizado Mercedes-Benz Fund.
O programa será dividido em duas subcategorias. A primeira dedicada a bolsas universitárias, com o objetivo de incentivar os alunos a realizar projetos na área das ciências ambientais. A segunda em torno de bolsas escolares, para que os alunos se envolvam com projetos ambientais locais nas suas comunidades locais.
«Com o Mercedes-Benz Fund, queremos encorajar uma nova geração a seguir os passos inovadores de Rudolf Uhlenhaut e desenvolver novas tecnologias incríveis, particularmente aquelas que apoiam o objetivo crítico de descarbonização e preservação de recursos», reagiu o Diretor Executivo da Mercedes-Benz, Ola Källenius, que, sobre o exorbitante preço do carro, disse: «Alcançar o preço mais alto já pago por um automóvel é extraordinário: um Mercedes-Benz é, de longe, o carro mais valioso do mundo».