por Elsa Severino
Arquiteta Paisagista
A atualidade determina o tema do festival -as alterações climáticas são o fio condutor destes 11 jardins, cujas propostas foram escolhidas pelo júri e executados no ‘parque dos labirintos’, junto ao Rio Lima. Os jardins são o meio para esta reflexão sobre a crise climática e as consequências da ação humana sobre o planeta. Como refere Francisco Caldeira Cabral, Presidente do Júri, «num ano de seca, particularmente duro em termos ambientais, o tema parece premonitório».
A par deste evento, temos a VII Edição do Festival Jardins Escolinhas, que conta com a participação dos alunos das escolas do ensino básico do concelho de Ponte de Lima, desde 2015.
Este parque dos labirintos (da autoria de Caldeira Cabral & Elsa Severino) surgiu em 2002, com o propósito de ser a âncora do Festival de Jardins, à semelhança de Chaumont-sur-Loire, em França.
No ano de 2005 arrancou a 1.ª edição deste evento, e ano após ano, o sonho de muitos jovens artistas concretizou-se neste parque urbano, outrora terreno agrícola, com as leiras separadas por ramadas de vinha, que se mantiveram até ao presente.
Aqui, e em Allariz, na vizinha Galiza, o vencedor será o mais votado pelos visitantes; estima-se que mais de 100 000 pessoas acorrerão ao festival, fazendo a sua escolha, em função da criatividade, da mensagem, ou de outros critérios.
Convém destacar a sustentabilidade deste evento; anualmente cada criação é feita quase exclusivamente com materiais reciclados. Além da economia de recursos é um sinal de um comprometimento com o ambiente, anulando todo e qualquer desperdício.
A sustentabilidade económica e ambiental é uma regra neste Festival de Jardins e no Parque urbano que o acolhe, assim como em toda a estrutura verde de Ponte de Lima.
21 foram as candidaturas a este festival, oriundas de 13 países: Áustria, Polónia, Itália, Alemanha, Brasil, Escócia, Espanha, Luxemburgo, Noruega, Portugal República Checa e Roménia.
11 foram os jardins selecionados, que descreveremos, porém nunca substituindo uma visita a Ponte de Lima. O 12º jardim foi o vencedor do ano anterior – Jardim do Diálogo.
‘Jardins Saudáveis’ – foi o tema escolhido para o ano de 2023, na 18ª Edição do Festival Internacional de Jardins de Ponte de Lima.
1 – Seja amigo do clima e da abelha selvagem
Alemanha/Áustria
Esta interessante proposta da University of Natural Resources and Life Sciences de Viena de Áustria assinala o efeito das alterações climáticas na biodiversidade, mas também a ação do homem na simplificação das paisagens. O efeito das monoculturas e o uso indiscriminado dos pesticidas afetam a vida selvagem e a diversidade florística. Segundo os autores, existem mais de 680 espécies de abelhas selvagens, essenciais à polinização, mas no entanto estão em risco permanente, com a mudança de habitats. Têm de migrar para as montanhas, por exemplo, mas também aí as condições tendem a piorar, devido às mudanças do clima.
2 – Água da vida
Polónia
Esta proposta da Vistula University considera a água como a base do equilíbrio biológico da Terra e dos seres humanos.
Este recurso encontra-se em perigo, pois com o aumento das temperaturas, estas reservas tornam-se mais escassas e assimetricamente distribuídas no planeta.
A espiral da composição simboliza a procura de água em diferentes ecossistemas terrestres.
3 – Revitalização do patrimóniohidráulico minhoto – Exemplo(s) de uma arquitetura sustentável
Portugal
A equipa portuguesa pretende que se valorize um conhecimento secular, presente no património hidráulico da região do Minho, associando-lhe no entanto novos usos. «Apoiando-nos na rede hidráulica preexistente, para abastecimento de tanques ou reservatórios, através de levadas ou regos, propomos a criação de microssistemas para usufruto público, cuja reutilização promova a salvaguarda deste mesmo património construído», afirmam as autoras.
4 – O jardim desmoronado
Polónia – Vístula University
«Aqui jaz o Jardim Desmoronado» – eis a forte mensagem de Arek Malinowski. Através de metáforas somos sensibilizados para a desmatação da floresta, o aumento do edificado, com o empobrecimento dos espaços verdes. A estrutura cinzenta, o edifício, afastou toda a anterior vegetação. «Hoje as pessoas estão mais preocupadas com a criação de novas maravilhas arquitetónicas do que com o cuidado dos jardins», refere o seu autor.
5 – Jardim mutante
Portugal
Uma escultura colorida atravessa na diagonal o jardim. Um túnel que nos remete para as alterações do clima; no início, as cordas azuis das paredes laterais indicam as temperaturas mais amenas dos últimos 100 anos; as cores intensificam-se passando do amarelo ao vermelho, simbolizando o aumento da temperatura. O caminho pode ser reversível caso as nossas ações sobre o planeta sejam mais sustentáveis.
6 – Jardim polinizador
Portugal – Luxemburgo
Através de uma intervenção «estética, ecológica e educativa», o autor defende que «os polinizadores desempenham um papel vital na reprodução das plantas», com um reflexo na abundância ou escassez de alimentos. As mudanças climáticas influenciam as abelhas selvagens, mas, fruto das alterações do clima, são obrigadas a migrar em busca de condições compatíveis à sua sobrevivência.
Um jardim «polinizador» será a melhor forma de atrair e proteger estas espécies, além de contribuir para a manutenção da biodiversidade, mesmo à pequena escala do jardim.
7 – À beira do amanhãRepública Checa
O planeta terra, estilizado, ocupa o centro do jardim, sofrendo o impacto lento, mas contínuo, das atividades humanas sobre a Natureza.
Algumas colunas, já derrubadas, configuram os ecossistemas danificados, com a perda da biodiversidade, essencial à vida humana.
O planeta fará o seu caminho, mas o Homem poderá sucumbir ‘À Beira do Amanhã’!
8 – Jardim do diálogo
República Checa– Espanha
Este foi o jardim mais votado pelo público em 2021, cujo tema era ‘As Religiões nos Jardins’.
O jardim transmite na sua composição «o diálogo, a tolerância e respeito mútuo entre as diferentes religiões no mundo».
Sete religiões estão refletidas em sete jardins – islâmico, cristão, judeu, o jardim do taoismo, hindu, budista e por fim o jardim étnico.
Ao centro, a oliveira, símbolo da paz, é o elemento aglutinador de todas as crenças religiosas.
9 – O Jardim da evolução
Escócia – Espanha
As autoras apresentam a evolução das plantas através das várias épocas geológicas:
– a era siluriana, com o Jardim dos Fungos, gigantes, que podiam atingir 8.00m de altura;
– a era carbonífera e gimnospérmica, representada por plantas perenes e lenhosas, que não produzem flores, apenas sementes, como as cicadáceas; era o tempo dos dinossauros.
Com o arrefecimento da atmosfera, na era Cretácea, deu-se o aparecimento das angiospermas ou plantas florais, tais como as magnólias. A era holocénica é aqui representada pelas gramíneas.
Esta evolução está a ser quebrada pelas alterações climáticas, e o regresso ao reino dos fungos, pode ser uma realidade e não apenas ficção.
10 – Jardim da reflexão
Brasil – Espanha
Eis uma reflexão sobre as ações humanas sobre o planeta; estamos perante uma crise climática generalizada, com o aumento gradual da temperatura, e a consequente diminuição da biodiversidade; assim, o visitante ao entrar no jardim depara-se com um memorial com a inscrição de plantas desaparecidas ou em vias de extinção; inicia-se um percurso da desolação à luz, com o propósito de repensar os nossos atos, com vista à inversão deste processo. A água está ao centro, símbolo da vida e da sustentabilidade do planeta Terra.
11 – Convívio
Itália
Como o próprio nome indica o jardim é um local de encontro, diálogo, troca e amizade, mas também o «espelho que reflete as alterações climáticas, a biodiversidade e a sustentabilidade».
O círculo tanto pode ser o planeta, como a união de forças; a ave representa a reconciliação entre o Homem e a Natureza.
O tabuleiro de xadrez, com múltiplos significados, tal como a esfera envolta em flores. Um caminho sustentável, em troncos de madeira liga-nos à floresta, ao Éden!
12 – Cada passo dado
Áustria – University of Natural Resources and Life Sciences – Viena
A crise climática sente-se no nosso quotidiano -cheias, incêndios devastadores, aumento das temperaturas, e do nível do mar, com o recuo dos glaciares.
Esta proposta enfatiza o nosso comportamento, pois todas as decisões têm consequências. Há opções que nos conduzem a um ‘Melhor Cenário’, enquanto outras vão desembocar no ‘Pior Cenário’.
A escolha é também do indivíduo e ‘O NOSSO FUTURO COMEÇA AGORA’.
Jardins escolinhas
Apresentam-se 12 jardins na VII edição do Festival dos alunos do ensino básico do concelho de Ponte de Lima. Ao conjunto de 11 criações junta-se o vencedor do ano anterior ‘Oração do anjo da Guarda’, sob o tema ‘As Religiões nos Jardins’.
Uma iniciativa estimável e pioneira em Portugal de incentivo ao estudo ambiental e artístico.