Macron vai ter que governar sem maioria absoluta

A marcada subida eleitoral da esquerda radical e da extrema-direita deixou o Presidente francês sem muito para onde virar.

As projeções para a segunda volta das eleições legislativas francesas mostram que Emmanuel Macron vai enfrentar o pesadelo de governar sem a sua maioria absoluta. A coligação de centro-direita que o apoia, o Juntos (Ensemble), deverá ser a mais votada, mas obtendo somente uns 230 lugares no Parlamento, segundo as projeções da IPSOS para a France Press, quando Macron precisava de eleger pelo menos 289 deputados para ter maioria. É um choque para o Presidente de França, que terá de se entender com alguns dos seus adversários.

O parceiro mais óbvio do Presidente de França seria a direita tradicional, de Os Republicanos, que se antevê que obtenha uns 76 lugares parlamentares. É que um entendimento com o Reagrupamento Nacional (antiga Frente Nacional) de Marine Le Pen, na extrema-direita, que deverá eleger 85 deputados, talvez pudesse ter um custo político demasiado elevado para Macron. Já o grande vencedor da noite, uma coligação da esquerda radical, apelida de Nova União Popular Ecologista e Social (NUPES), que se prevê que consiga uns incríveis 149 deputados na sua primeira eleição, têm-se oposto ferozmente ao grosso da agenda legislativa de Macron, sobretudo no que toca à subida da idade de reforma, num país onde os direitos laborais são sempre uma questão quente.

Até alguns pesos pesados do partido de Macron, o Em Marcha, perderam os seus assentos de deputados. Incluindo o próximo presidente do Parlamento, Richard Ferrand, e ex-ministro do Interior, Christophe Castaner, segundo o Político. Já a ministra da Saúde, Brigitte Bourguignon, está em risco de sofrer o mesmo, o que a obrigaria a ter de se demitir.

Na prática. seria a primeira vez que um Presidente francês se via obrigado a governar com uma maioria relativa desde a década de 1980, nos tempos de François Mitterrand. O péssimo resultado de Macron, que ainda no final de abril sairia vencedor da segunda ronda das presidenciais contra Marine Le Pen, com 58,54% dos votos, parece confirmar o que apontavam muitos analistas. Ou seja, que na prática, dada a impopularidade de ambos os candidatos, o resultado fora sobretudo uma competição de quem era menos detestado.