Todos os olhos estão postos na Conferência dos Oceanos das Nações Unidas que arranca esta segunda-feira, em Lisboa. Mas este fim de semana já trouxe muitos discursos de mea culpa, de precaução e de alertas pelo estado do mar.
“Eu quero pedir desculpa, em nome da minha geração, à vossa geração, relativamente ao estado do oceano, ao estado da biodiversidade e ao estado das alterações climáticas”. O pedido de desculpas vem do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres que falou este domingo aos jovens na sessão de encerramento do Fórum da Juventude e Inovação da Conferência dos Oceanos da ONU 2022 que decorre na praia do Carcavelos.
Para Guterres é claro que a sua geração foi lenta ou até “sem vontade de reconhecer que as condições se estavam a deteriorar no mar”, pouco tendo feito para o evitar. “Mesmo hoje, estamos a caminhar lentamente no sentido de reverter a tendência e reabilitar os oceanos, salvar a biodiversidade e parar as alterações climáticas”, acrescentou.
Um discurso não muito diferente daquele que fez Marcelo Rebelo de Sousa que alertou os jovens de hoje para que tomem consciência da importância dos oceanos. “Têm de lutar por vocês, não confiem nos decisores, há exceções, há alguns serão sempre os vossos maiores aliados, mas não a maioria”, alertou o Presidente da República. E acrescentou: “A única forma de ser mais forte é lutar por isso e não acreditar que alguém lute por vocês”.
Marcelo diz que, para resolver estes problemas, é necessária “vontade política”. “Estes problemas não podem ser resolvidos por um único país, um único município, é por isso que esta conferência é tão importante, num momento em que tantos falam em unilateralismo, apostar no multilateralismo”, disse, dando o exemplo português: “No caso de Portugal, fomos pioneiros em muitos campos, como as renováveis. Quando começámos a substituir outras formas de energia alguns disseram éramos tolos, não éramos, agora queremos antecipar as metas internacionais”, frisou.
Quem também está em Portugal é o ator Jason Mamoa que é também um conhecido ativista. “O momento de atuar é agora”, começou por dizer o Aquaman que, no seu breve discurso em Carcavelos lembrou que “é preciso corrigir os erros do passado”. “Temos um compromisso de proteger os oceanos, que é onde a água começa e termina a sua viagem”, disse ainda.
“Ímpeto decisivo” O ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, disse esperar que a Conferência dos Oceanos das Nações Unidas dê um “ímpeto decisivo” para transformar a relação com os oceanos, acrescentando que este momento representa um marco histórico na cooperação entre a ONU e Portugal, sublinhando que a “promoção de uma gestão sustentável do oceano tem sido uma prioridade estratégica para Portugal”.
Esta é a segunda edição da cimeira dedicada aos oceanos. A primeira decorreu em 2017, em Nova Iorque. No final, será adotada uma declaração sobre a proteção e preservação de oceanos e áreas marinhas.
Zero pede ambição Quem se pronunciou sobre a Conferência foi a associação ambiental Zero dizendo que “são precisos líderes ambiciosos para travar o declínio dos oceanos”, defendendo que Portugal está numa posição privilegiada para assumir a liderança na concertação global para a proteção dos recursos marinhos.
“Os oceanos (…) são responsáveis pela produção de mais de 50% do oxigénio que respiramos, albergam mais de 220 mil espécies e garantem o sustento a mais de três mil milhões de pessoas, em especial nos países em desenvolvimento e países insulares”, lembra a Zero. E deixa o alerta: “Sem oceanos saudáveis não conseguiremos fazer face à crise climática”. Por isso, “é fundamental fazer cumprir o Acordo de Paris e limitar o aquecimento do planeta a 1,5ºC, para minimizar as consequências nos oceanos e evitar danos irreversíveis nos ecossistemas marinhos”.