Il bimbo!

Haverá alguma lógica razoável que nos explique porque é que os homens começam uma guerra? Como explicar sem dizer que existe um homem mau? E como é que podemos compreender o que é um homem mau, se não explicarmos o que é o mal? O como podemos explicar o que é o mal sem recorrermos…

Sou padrinho de um pequenino de quatro anos. A sua mãe é portuguesa, o seu pai é italiano. Ele fala italiano e português fluentemente desde bebé. Vive em Itália, mas visita-me de vez em quando… É um génio…

Um dia desta semana, sentado ao meu lado, no sofá, via comigo as notícias. Nas mãos trazia um caderno onde pinta, com coloridas cores, os carros e ursos e demais objetos. São duas coisas que ele gosta: música e pinturas… Esta semana passou horas a pintar lá em casa.

Dizia eu – sentado ao meu lado, com o caderno na mão, estava eu a ver as notícias e ele diz-me uma palavra que eu nunca tinha ouvido: É a «Rerra». Fiquei intrigado sobre esta nova palavra que ele me ensinava, porque eu nunca tinha pensado que existisse uma palavra chamada «Rerra»… tentei procurar na minha cabeço o que poderia significar em italiano tal palavra, mas não consegui compreender.

Olhei para a televisão e percebi logo… ele ainda tem dificuldade em distinguir o ‘g’ do ‘r’ e percebi logo que ele se estava a referir à ‘guerra’. Estava a dar imagens da Ucrânia onde havia vários confrontos acesos.

De repente ele pergunta: «Padrinho, o que é a guerra?».

O que vai uma pessoa dizer a uma criança – a um bambino – de quatro anos o que é a guerra? Como podemos explicar o que não tem explicação! O que é a guerra? Afinal, o que é a guerra? O que é?

Como explicar a alguém o que é a guerra senão com palavras tão simples como: «É um homem mau que anda a fazer a guerra!».

Mas depois veio a segunda pergunta que me deixou entre a espada e a parede: «Padrinho, porque é que andam a atirar às pessoas?».

Ui! Como explicar porque é que há pessoas que atiram noutras pessoas? Como explicar que aquilo não é um jogo – porque isso ele já percebeu – mas são pessoas reais que andam a mandar tiros umas às outras?

Passei a tarde toda a pensar? É que eu nem sequer sei como explicar isto para mim mesmo, quanto mais explicar um pequeno de quatro anos!

Haverá alguma lógica razoável que nos explique porque é que os homens começam uma guerra? Como explicar sem dizer que existe um homem mau? E como é que podemos compreender o que é um homem mau, se não explicarmos o que é o mal? O como podemos explicar o que é o mal sem recorrermos a uma linguagem religiosa?

De onde vem o mal? De onde provém, de facto, o mal? Como podemos nós explicar para as crianças, mas também para nós próprios, o que é o mal?

Fora da linguagem religiosa não existe uma forma de explicar o mal, a não ser dentro de uma linguagem jurídica, isto é, hoje para dizermos o que é mau ou o que é bem, temos de recorrer ao direito. Por isso dizemos que o que a Rússia está a fazer é um mal, porque está a violar o Direito Internacional e não tanto porque está a violar um valor sagrado – a vida!

Ora, quem é que construiu o Direito Internacional? Os homens! E quem são os homens para deliberarem o que é bem e o que é mal? Ninguém, diria Putin! Porque aquilo que a Sociedade das Nações ou as Nações Unidas convencionaram através de inúmeros tratados ratificados pelos diferentes países, também pode ser desfeito pelas próprias nações.

Isto nós percebemos que andamos a fugir das definições metafísicas do ‘mal’ ou das definições religiosas deste mesmo conceito, que no judeo-cristianismo é uma desobediência a Deus e à sua Aliança.

Agora, está provado que o Direito Internacional não é suficiente para explicar porque é que os homens atiram uns nos outros. O Direito Internacional é uma base para uma sã convivência entre os homens… mas é preciso evoluir e contemplar as bases para uma ética comum que se alarguem a uma experiência religiosa.