Quando um funcionário da câmara de San Antonio ouviu um grito pedindo ajuda vindo de um camião TIR, não imaginava que lá dentro se vivia um cenário de horror. O veículo fora abandonado numa estrada secundária, pouco movimentada, debaixo do calor escaldante do Texas, que nesse dia oscilava entre os 32 e os 37.º C, provocando a morte de 50 pessoas, após cruzarem a fronteira entre os EUA e o México, na segunda-feira à tarde. Dezasseis pessoas foram hospitalizadas, incluindo quatro crianças.
O caso, uma das piores tragédias envolvendo migrantes traficados para os EUA e, entre os mortos foram identificados 22 mexicanos, mas também sete guatemaltecos e dois hondurenhos, anunciou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Marcelo Ebrard, no Twitter, assegurando que as autoridades do seu país estavam a tentar ajudar a expatriar os seus corpos.
As vítimas “tinham famílias e estavam a tentar encontrar uma vida melhor”, lamentou o presidente da Câmara de San Antonio, Ron Nirenberg. Acrescentando, em entrevista à CNN, que “as pessoas que são responsáveis por sujeitar outras pessoas a estas condições deverão ser processados até ao limite máximo da lei”.
Como é que se combatem as redes de tráfico humano, como a que se assume ser responsável desta atrocidade, é motivo de discussão. Se os republicanos têm apontando o dedo aos democratas, acusando-os de abrir fronteiras, outros consideram que, na prática, foram essas mesmas fronteiras que causaram esta tragédia.
“Estas mortes era previsíveis e preveníveis”, apontou Emily Kenway, autora de A Verdade acerca da Escravatura Moderna (2021), num ensaio publicado no OpenDemocracy. “É óbvio que tornar as fronteiras mais difíceis de atravessar não está a impedir as pessoas de tentar. Só as está a empurrar para tomar rotas mais arriscadas”.
“Do ponto de vista do Reino Unido, este incidente é demasiado familiar”, acrescentou Kenway, recordando a morte de 39 vietnamitas abandonados dentro de um camião no Essex, em 2019. Lembrando que, apesar das promessas de Joe Biden, de que acabaria com as políticas migratórias draconianas de Donald Trump, as detenções na fronteira com o México até aumentaram, batendo recordes. E tecendo paralelos com a proposta britânica de expulsar requerentes de asilo para o Ruanda, a pretexto de combater redes de tráfico humano.