Ontem foi a festa de finalistas do 1.º ciclo de um dos meus filhos. Foi emocionante assistir ao carinho com que todos os alunos e pais se dirigiram à professora que os acompanhou ao longo destes quatro anos. Nas mensagens que lhe escreveram, os alunos agradeceram por lhes ter ensinado a ler, a escrever e a fazer cálculos. São as primeiras aprendizagens formais do mundo dos crescidos e que serão essenciais para o resto do seu percurso escolar e da vida. E eles sabem disso. Referiam também com igual convicção (e comoção) o carinho, a atenção, a dedicação e a ajuda em todos os momentos, até a superar as situações mais difíceis. Sabemos bem como os professores às vezes ultrapassam bastante as suas funções, chegando até a intervir com as famílias mais frágeis.
O professor primário é, precisamente, este misto de didata, tutor, guia, amigo e confidente. É aquele que recebe na sua sala e na sua vida as crianças pequeninas vindas do jardim de infância – algumas ainda com cinco anos – e as inicia nas aprendizagens mais exigentes e sistemáticas, as ajuda a estarem mais tempo sentadas e concentradas e a organizarem-se para funcionarem como um novo grupo de trabalho, de aprendizes e de amigos.
Este é um percurso longo, com avanços e retrocessos, que exige muita dedicação e uma atenção e conhecimento permanentes de cada aluno, com as suas especificidades. Por tudo isto deveria ser obrigatoriamente um compromisso de quatro anos. Mas muitas vezes não é assim que funciona e nesta altura do ano surgem as incertezas, as injustiças e para alguns é tudo uma questão de sorte ou de azar. É a altura em que alguns alunos e professores se despedem sem saberem se continuam juntos no ano seguinte, continuando na dúvida quase até ao início das aulas.
Esta semana uma amiga que é professora primária partilhou nas redes sociais um bilhetinho que uma aluna lhe tinha escrito. Com a sua letrinha redondinha cheia de corações dizia que tinha adorado o ano letivo que passou com ela e que ficaria muito feliz se pudessem continuar juntas no próximo ano.
Além de injusto, faz toda a diferença perder um professor de quem se gosta no final de cada ano. Se em termos de aprendizagens é evidente que será sempre melhor ter um professor que conhecendo os seus alunos vai adequando o ensino ao longo de todo o primeiro ciclo, no que toca à relação afetiva que estabelece com os aprendizes este laço é fundamental. Ainda mais em crianças com vidas muito difíceis que chegam a ter o professor como o seu maior apoio e o seu porto de abrigo.
Há quem defenda que não há problema em mudar de professor todos os anos porque a vida adulta também é inconstante e assim já estarão preparados. Mas isto não faz qualquer sentido! Para estarmos preparados para a inconstância e imprevisibilidade – ou para o que quer que seja – temos de ter bases sólidas e seguras.
Se considerarmos a constância, a consistência e a solidez valores importantes no percurso escolar, na aprendizagem, no desenvolvimento e na vida de cada aluno, então devemos repensar esta modalidade de professores por turnos ao longo do primeiro ciclo.