O “Nobel” da matemática, como são conhecidas as medalhas Fields, foi entregue ontem a quatro investigadores, entre as quais a ucraniana Maryna Viazovska, a segunda mulher galardoada nos 86 anos de história dos prémios. A cerimónia chegou a estar prevista para São Petersburgo, mas teve lugar em Helsínquia numa tomada de posição da União Internacional de Matemáticas: “A brutal guerra que a Rússia continua a travar com a Ucrânia não deixou outra alternativa”, disse Carlos Kenig, à frente da IMU.
Os vencedores são, além de Viazovska, o francês Hugo Duminil-Copin, o britânico James Maynard e o americano-sul-coreano June Huh. “É mais difícil do que ganhar o Nobel, porque um Nobel pode ser ganho até ao final da vida e as medalhas Fields são atribuídas até aos 40 anos, tem de se fazer algo excepcional muito cedo”, disse João Araújo, presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática.
Viazovska, de 37 anos, é de Kiev e trabalha na Suíça. Foi distinguida por ter resolvido um problema matemático que remonta ao século XVI, demonstrando a fórmula para o arranjo mais denso possível de esferas idênticas. Copin trabalha em “física estatística” e é distinguido pelo trabalho na teorização matemática das transições dos estados da matéria. Maynard avançou no estudo sobre os intervalos entre os números primos, os “átomos para os matemáticos”, disse ontem ao The Guardian. June Huh, da Universidade de Princeton, tem o percurso mais curioso: cresceu sem gostar de matemática e desistiu da escola aos 16 anos para ser poeta. Acabou por terminar o liceu e entrar na universidade, primeiro para estudar astronomia e física, até um professor o fazer descobrir a vocação já no fim do curso, o conceituado matemático Heisuke Hironaka, medalha Fields em 1970.