No dia 7 de outubro de 2018, Gourav Mukhi sentia-se, e com razão, no topo do mundo. Não é que alguém preste uma especialíssima atenção ao campeonato indiano de futebol, mesmo a partir do momento em que se tornou completamente profissional, mas o rapazinho tinha todos os motivos para dar largas à sua alegria. No jogo entre a sua equipa, o Jamshedpur, e o Bangaluru, entrou aos 71 minutos para o lugar do companheiro Jerry Mawihmingthanga, e dez minutos mais tarde marcava o golo do empate (1-1). A partida terminaria 2-2 e Gourav foi eleito o homem do jogo. Homem é como quem diz. Um miúdo. Com 16 anos acabados de cumprir, tendo recentemente representado o Estado onde nasceu, Jarkhand, no torneio indiano de sub-15, passava a ser o jogador mais jovem de sempre a marcar um golo na Indian Super-League. Uma satisfação gratificante para o seu pai, Chhotelal Mukhi, antigo jogador amador precisamente em Jamshedpur, uma cidade fortemente industrial, dominada pelo gigante económico indiano Tata, de tal forma que também é conhecida por Tatanagar. Fora aí, no clube dos trabalhadores das fábricas de aço da Tata, que Gourav dera os primeiros pontapés numa bola e conseguira chamar a atenção dos técnicos responsáveis pela seleção de sub-15 da região.
Bem, não demorou muito para que a vida de Gourav Mukhi começasse a correr mal. Depois de ter saltado para a ribalta, houve um jornalista mais coca-bichinhos que começou a puxar pelos fios da memória. O nome de Gourav fazia-lhe soar campainhas na cabeça e precisava de saber porquê. Deitou-se com fúria à investigação e descobriu, finalmente, que Gourav Mukhi fora um dos cinco jogadores suspensos da seleção de sub-15 de Jarkhand por se terem inscrito no campeonato do escalão com bilhetes de identidade falsos e as idades alteradas. Mais ainda: três anos antes, tinha sido suspenso do Campeonato Nacional de sub-16 por se ter comprovado que era bem mais velho do que reclamava. Em que ficávamos? Se já na altura tinha mais de 16 anos como podia tão descaradamente apresentar-se como o herói do Jamshedpur, festejado por todos como o mais jovem marcador de sempre da Super-League? Algo não estava bem. E quem não estava bem era Gourav Mukhi.
Inquérito e castigo Ao publicar o resultado das suas investigações, Jayesh Takhur obrigou a Federação Indiana a abrir um inquérito rigoroso ao passado de Gourav. Aliás, só por incompetência é que os serviços jurídicos federativos podiam ter ignorado os antecedentes do jogador nas seleções jovens. Mas, enfim, a Índia é a Índia, com os seus mais de mil milhões de habitantes e não é fácil andar a rondar os calcanhares de apenas um deles.
No dia 20 de novembro desse mesmo ano, Mukhi foi naturalmente suspenso de toda a actividade futebolística profissional. Se muitos perguntavam a si próprio como se tinham deixado enganar de forma tão descarada, outros enchiam a peitaça e entravam pelo caminho fanfarrão do: “Oh, pá! Estava-se mesmo a ver. Entrava pelo olhos dentro que o puto era um aldrabão. Eu topei-o a milhas!” Mentira, claro, ninguém o topou a milhas, de tal ordem que cumpriu uma época inteira na equipa B do Jamshedpur e ainda teve tempo de participar em mais três jogos do grupo principal antes de ser apanhado com a boca na botija.
A comissão de inquérito chegou à conclusão de que Gourav Mukhi não só não tinha os 16 e dois meses que apresentava no cartão de identificação como, pela investigação levada a cabo, ultrapassara mesmo os 28. O rapazinho mais velho do mundo, sem dúvidas. Ele próprio veio a público confessar a fraude o que lhe valeu a benevolência do comité disciplinar que lhe aplicou a suave pena de seis meses de suspensão. A 9 de setembro de 2019, já com os documentos corrigidos, viu-se livre do castigo e pode reentrar no mercado. Na época passada assinou contrato com o Mohammedan. Parece que não joga lá grande coisa…