por Carlos Moedas
Presidente da Câmara Municipal de Lisboa
Aproveitando uma viagem a caminho de Lisboa, o grande escritor espanhol Benito Pérez Galdós fez um retrato das relações luso-espanholas que ainda nos nossos dias não deixa de causar um certo eco na forma como os dois vizinhos ibéricos se veem. Dizia Galdós, nos finais do século XIX, que eles, espanhóis, se espantavam «pela escassez das relações que existem» entre Portugal e Espanha e com «a imensa distância moral, intelectual e comercial» que os separava. Continuava Galdós, rematando que «vivemos num mesmo solo e sob o mesmo clima, os nossos rios são os seus rios, as nossas línguas são semelhantes, e contudo entre Portugal e Espanha há uma barreira infranqueável».
Hoje tudo é certamente bastante diferente, e para melhor, apesar de ainda esperarmos pelo comboio de alta velocidade que liga Lisboa a Madrid – um sinal da aparente distância que teima em querer ser permanente.
Mas as semelhanças são fortes. Lisboa, capital marítima por excelência, e Madrid, núcleo da unidade espanhola, têm hoje mais em comum do que poderá parecer. Mesmo há poucos meses tive o gosto de participar na apresentação da ARCOLisboa 2022, uma prestigiada feira de arte contemporânea que tem a sua origem em Madrid. E ao preparar o desafio da organização da Jornada Mundial da Juventude de 2023, em conjunto com o município de Loures, olho para o exemplo de Madrid, que em 2011 deixou para a posteridade uma das edições mais bem-sucedidas de sempre: dois milhões de participantes, um grande impacto económico e uma projeção impressionante da capital espanhola. Também nós vamos concretizar um projeto extraordinário, que deixará por certo em Lisboa um forte impacto.
A afinidade entre as duas capitais ibéricas é evidente. E ela marca a visita que esta semana a Presidente da Comunidade Autónoma de Madrid, Isabel Ayuso, fez à nossa capital. O seu exemplo de governação impressiona. Num momento de dificuldades como foi a pandemia que nos afetou a todos, conseguiu assegurar a liberdade dos seus cidadãos para trabalhar e para viver, e foi capaz de preparar a retoma económica da região. Isabel Ayuso conseguiu que os madrilenos não perdessem a ilusión de um futuro melhor.
Lado a lado com Madrid, Lisboa também representa hoje uma forma diferente de fazer política. Uma alternativa à estagnação económica, ao divisionismo que segrega a sociedade e à política feita de costas voltadas para as pessoas. Em Portugal vivemos os efeitos desta forma velha de fazer política: uma fuga sem precedentes dos talentos mais jovens que procuram oportunidades lá fora, o caos na saúde, a escola pública contra o ensino privado e cooperativo, uma carga fiscal e burocrática insuportável para famílias e empresas.
Esta alternativa materializa-se na forma como é dirigida para servir as pessoas, para responder às suas expectativas, para garantir a sua liberdade. Tal como na região de Madrid, também em Lisboa a mensagem é simples: nós baixamos impostos. É por isso que aprovámos o aumento da devolução do IRS para 3% para os lisboetas, para chegar gradualmente aos 5% no final do mandato, e que estamos a trabalhar na isenção do IMT para aquisição de habitação própria pelos mais jovens. Também, como na região de Madrid, focamos a nossa ação política na transparência, que nos levou já criar o pelouro da transparência e combate à corrupção. E também temos como prioridade concretizar a transição energética, o maior desafio das nossas gerações e ao qual consagramos 40% do orçamento municipal dos próximos 5 anos. Mas não podemos superar este desafio contra as pessoas, impondo-lhes a transição energética; fazemo-lo ao lado das pessoas, cooperando com elas. A gratuitidade nos transportes públicos para os mais jovens e os mais velhos é disso exemplo.
Lisboa e Madrid partilham do mesmo lema: socialismo ou liberdade. Sei, tal como Isabel Ayuso, que o caminho é em direção à liberdade. O caminho da união, e não da divisão; da cooperação, e não da imposição; do crescimento, e não da estagnação. Sei que é este o caminho para o futuro.