Mário Ferreira

Falei a primeira vez com Mário Ferreira no seu Solar da Rede, em Mesão Frio, jantava ele discretamente com a mulher e um filho recém-nascido, na companhia do então meu amigo e presidente da Câmara local, Marco Teixeira da Silva. Foi um mero cumprimento de circunstância e de apresentação.

Por Luís Filipe Menezes, ex-presidente do PSD

Comecei a seguir muito cedo a carreira empresarial de Mário Ferreira. Praticamente desde o primeiro momento em que se tornou evidente a sua aposta no turismo fluvial no Douro.

Era algo de inovador e ‘fresco’, que vinha explorar o enorme potencial do recém ‘Douro navegável’  (é curioso, é injusto que, a este propósito, já ninguém recorde o papel então desempenhado, entre outros, por Paulo Vallada e Francisco Pinto Balsemão). 

Falei a primeira vez com Mário Ferreira no seu Solar da Rede, em Mesão Frio, jantava ele discretamente com a mulher e um filho recém-nascido, na companhia do então meu amigo e presidente da Câmara local, Marco Teixeira da Silva. Foi um mero cumprimento de circunstância e de apresentação.

Mais tarde, enquanto presidente de Câmara de Gaia, tivemos relações institucionais escorreitas e tive o privilégio de ser sempre convidado para todas as grandes cerimónias que marcaram o crescimento do seu grupo, com particular destaque para as inaugurações mais mediáticas dos seus barcos mais relevantes.

Julgo nunca ter faltado a essas solicitações e nelas sempre fui honrado com boa educação, gentileza, ficando sempre num lugar de honra perto do anfitrião.

A minha presença correspondia a uma óbvia obrigação protocolar, mas também não era imune ao bom trato que me era concedido e ao facto, que me revoltava e espantava, de assistir à sistemática ausência de outras autoridades públicas.

O presidente da Câmara do Porto, o ‘circunspecto’ Rui Rio, em 12 anos, nunca o vi por lá e o poder nacional era raro dar sinal de vida. Facto estranho e tonto que nunca entendi. 

Durante esse período lembro-me de ter tido uma única conversa sobre o projeto empresarial de Mário Ferreira. Foi com Miguel Cadilhe, que me fez rasgados elogios ao empreendedor. Para mim foi uma opinião marcante, dado o apreço que as suas opiniões sempre me mereceram.

Em 2013 participou na minha campanha autárquica, discretamente, num seminário sobre turismo realizado na Alfândega do Porto, mas, dessa forma, demonstrando um claro sinal favorável à minha eventual eleição. Fiquei-lhe grato. 

Nos anos que se seguiram, já não ocupando cargos públicos, como ‘espectador comprometido’, cem por cento independente, fui seguindo as peripécias da nossa vida política, económica e social. 

Entre os episódios recorrentes que fui observando, estiveram alguns ataques repetidos a Mário Ferreira.

Primeiro centradas no diário o Público, agora com o epicentro nas publicações do grupo Cofina.

Durante esse período publiquei dois livros. Num deles pus em destaque Mário Ferreira, quando escrevi que ele era o verdadeiro vereador do turismo do Porto das últimas duas décadas. Afirmei-o com convicção. Ele e as companhias de aviação low cost.

Entretanto, estes últimas ataques, muito ad hominem, culminaram com o embate de sexta à noite na SIC-Notícias, com o José Gomes Ferreira.

Para a maioria dos observadores, que olham sempre para estas sessões como se fossem um combate de boxe, Mário Ferreira venceu por um quase knock out.

Porque ia razoavelmente preparado, porque raramente foi arrogante ou altivo (um defeito que muitos lhe costumam apontar), porque foi convincente na maioria das explicações que explanou, porque foi a jogo, sem medo, na casa da concorrência.

O entrevistador, que considero bem intencionado e sério, estava mal preparado (cingindo-se à cartilha mal sustentada das publicações jornalísticas dos últimos dias), foi muitas vezes excessivamente agressivo, não foi capaz de introduzir nenhuma novidade ou elevação na entrevista. Aliás, esta postura, tem sido invulgarmente a sua nos últimos meses. 

Há pois que fazer rapidamente ‘reset’ e voltar às origens (muitos convidados incredíveis, muita agressividade e demasiadas ‘certezas’, não sustentam a imagem de coragem e credibilidade que construiu ao longo de muitos anos.

Ao invés da ‘cantelinária’ dos ataques mal sustentados das últimas semanas, existiam outras matérias, essas sim substantivas, dignas da qualidade de ambos.

Era interessante conhecer mais das atividades globais de Mário Ferreira e como ganha o País com elas (do Sena ao Reno, do Danúbio aos Polos). 

Era interessante conhecer a estratégia empresarial que levou MF do Vale do Douro a uma quase globalização da sua atividade. Em pouco mais de uma década. A peculiaridade seu génio é falada, mas era interessante ouvir a história contada pelo próprio. 

Era também interessante conhecer as motivações que o conduziram ao complexo negócio da comunicação social. 

Era igualmente interessante escalpelizar o meritório e visionário negócio do Douro, desmontando as críticas, de certo muito injustas, sobre a repartição do valor acrescentado que ele dividirá entre Portugal, Espanha e os principais países fornecedores dos seus turistas tradicionais, nomeadamente os USA.

Todas estas questões nada teriam de ofensivo, mas são as que mais interessariam ao esclarecimento público sobre uma personalidade idolatrada por muitos e que, aparentemente, outros tantos invejam e perseguem.

Uma nota final. Quando escrevi o livro que o referenciava pela positiva, mandei entregar-lhe pessoalmente um livro autografado. Nunca tive uma acusação da sua receção ou um curto agradecimento.

Depois disso tentei contactá-lo várias vezes por mensagem. Para lhe mostrar solidariedade em relação a ataques que, em meu juízo, eram incorretos e estritamente persecutórios. 

Também para lhe pedir conselhos avisados e experientes sobre uma aventura de ‘Alojamento Local’ em que me envolvi. Não obtive qualquer resposta.

Voltei a fazê-lo nas últimas semanas, para de novo lhe dar uma palavra de conforto e simpatia, tendo dois telefonemas sido rejeitados instantaneamente na origem.

Também nunca mais fui convidado para nenhuma cerimónia pública do seu grupo. Não me acrescentariam nada, mas conhecendo o lote tradicional de convidados, registei a discriminação negativa.

Nada disto muda a minha apreciação isenta sobre um percurso que já demonstrou ter construído muita coisa importante para o país e para a região. 

Nada disto me fará passar a ser um crítico em detrimento do apreciador justo que sempre fui, mas sei como poucos que o poder e o dinheiro são os grandes catalisadores de multidões de apoiantes, admiradores incondicionais e amigos.

Assim, o Mário Ferreira, muito atacado, mas em alta, não perde nada em ouvir conselhos de quem já passou por muitas dessas encruzilhadas. 

A ribalta é sempre efémera, não nos garante nada, até porque acaba um dia para todos. Na melhor das hipóteses no dia em que morremos. E há gente que espera para o seu rancor ser ativo mesmo depois de nos finarmos. Alguém cá ficará para sofrer as consequências dessa paciência maldosa.

Assim, humildade, boa educação e memória são ingredientes que a todos ajudam, às vezes de forma decisiva, a cimentar o justo prolongamento do sucesso. Antes e depois da nossa morte.