por Miguel Pinto-Correia
Economista
A República portuguesa, há muito sem estratégia económica sustentável de longo prazo, prepara-se para, aparentemente, cometer um ‘suicídio’ estratégico no que diz respeito à decisão para uma potencial localização de novo aeroporto.
O Aeroporto Humberto Delgado já atingiu a sua capacidade máxima de crescimento devido ao cerco proporcionado pela expansão do município de Lisboa, incompreensível do ponto de vista estratégico e de planeamento urbano naquela direção. Tal facto, quando combinado com crescimento do turismo, obriga a encontrar alternativas estratégicas de longo prazo, que se coadunem com as presentes e futuras necessidades turísticas e que ao mesmo tempo façam sentido do ponto de vista económico-estratégico.
Desde já, a situação economicamente mais credível, com vista a satisfazer as necessidades turísticas e logísticas, seria a expansão do atual Aeroporto Internacional de Beja. Beja apresenta várias vantagens: pista com capacidade para receber A380s, possibilidade da expansão dos terminais e do número de pistas no futuro (dada a sua localização geográfica e condições topográficas do terreno), proximidade de carro da capital exequível no espaço de 1h e 49 min.
Outra das vantagens da expansão do Aeroporto Internacional de Beja seria a sua potencial conexão via TGV ou comboios de alta velocidade que o ligariam à capital, a Faro, Espanha (servindo a popular Andaluzia) e ao Porto de Sines, tornando e dinamizando a região numa plataforma logística única que fariam de Portugal a verdadeira ponte económica entre a UE, EUA, América Latina e África.
De igual modo a alternativa de Beja permitiria a manutenção da Base Aérea N.º 6 MHIH (Base Aérea do Montijo) e do Campo de Tiro, em Alcochete, ambos instalações da Força Aérea Portuguesa, evitando o impacto ambiental da potencial necessidade de construção de uma terceira ponte rodoviária e ferroviária sobre o Tejo, e do próprio aeroporto.
No cenário da opção do aeroporto de Beja, o importante é reduzir o tempo de ligação ferroviária a Lisboa a uma hora. Porém não será nada que a afamada ‘Bazuca Europeia’ não possa resolver dada a apetência da União para o investimento nas ferrovias como forma de mobilidade sustentável.
É importante referir que o Aeroporto de Beja funcionaria como um aeroporto destinado à carga, às companhias aéreas low-cost e à manutenção de aeronaves, ao passo que o atual Aeroporto Humberto Delgado ficaria destinado às denominadas companhias aéreas de bandeira.
P.S. – Para quando a concessão da ‘quinta liberdade do ar’ aos Aeroportos Internacionais Cristiano Ronaldo e João Paulo II, na Região Autónoma da Madeira e na Região Autónoma dos Açores, respetivamente? Condição essencial à diversificação económica destas regiões insulares e ultraperiféricas portuguesas, à semelhança do que já acontece com os aeroportos da Comunidade Autónoma de Canárias.