Portugal viveu, na semana passada, uma série de dias consecutivos em que os termómetros chegaram a ultrapassar os 40oC, e encontra-se agora a medir forças com vários incêndios no país. Mas não é só por cá, neste pequeno retângulo virado para o Atlântico, que o calor tomou de assalto a vida quotidiana. Em Londres, capital do Reino Unido, por exemplo, às 14h de ontem registavam-se 36oC. No mesmo dia do ano passado, a temperatura máxima situou-se nos 27oC.
Já em Paris, à mesma hora, os termómetros marcavam 37oC, quando, no mesmo dia, mas no ano passado, a máxima se situava também nos 27oC.
Escolas fechadas, comboios não recomendados No Reino Unido, país conhecido pelo clima ameno, chuvoso e de céus cinzentos, os últimos dias foram de sol brilhante e temperaturas bem mais altas do que aquilo a que os britânicos estão acostumados (a não ser nas suas viagens de verão para o Algarve ou para o Sul de Espanha).
Aliás, para hoje as máximas previstas em Londres estavam nos 39oC. Números que assustam as autoridades, que emitiram – pela primeira vez desde a sua criação – um aviso vermelho de calor extremo para a maior parte do país, e que levaram mesmo escolas em vários condados, como Nottinghamshire e Hampshire, a fechar. Augurava-se, aliás, que se possa bater o recorde do dia mais quente de sempre no país (atualmente detido pelos 38,7oC registados em 2019) ainda esta semana, estando previstas temperaturas de 41oC para hoje em Worksop, Nottinghamshire. Até à hora de fecho esta edição, no entanto, tal não tinha acontecido. Mas no País de Gales foi registado o dia mais quente de sempre, com a localidade de Hawarden a atingir os 37.1.ºC.
Registaram-se, também, alterações aos serviços da Network Rail, empresa responsável pela gestão da maioria da ferrovia em Terras de Sua Majestade, que apelou aos seus utilizadores que evitassem utilizar o comboio na segunda-feira e na terça-feira. Durante a manhã de ontem, aliás, a Transport for London (TfL), responsável pela gestão dos transportes públicos na capital britânica, disse que foram registadas cerca de 1.06 milhões de entradas e saídas por utilizadores do Metro de Londres até às dez da manhã de segunda-feira, o que representou uma queda de 18% comparado com o mesmo período da semana passada. Já nos autocarros londrinos registaram-se 1.07 milhões de viagens, um decréscimo de 10% relativamente à semana passada.
“O número de passageiros na segunda-feira é normalmente menor do que em outros dias da semana no transporte público. Normalmente, a TfL também vê uma pequena redução no número de passageiros nesta época do ano, à medida que as escolas entram na última semana do período letivo e as pessoas começam a sair para férias. No entanto, as altas temperaturas recentes levaram a uma redução maior do que o esperado antes de ser emitido o nosso conselho para fazer apenas viagens essenciais durante esse clima extremamente quente”, revelou a TfL, em comunicado.
relato “Tem sido uma onda de calor enorme, eu vivo cá há cinco anos e este tem sido o verão mais quente de todos. Já houve dias muito quentes, mas hoje tem estado um calor enorme”, conta ao i Maria Inês Reis, estudante e trabalhadora portuguesa em Londres, que revela alguns dos entraves colocados por este fenómeno meteorológico: “Em Inglaterra não há quase ar condicionado nas casas, e as pessoas queixam-se muito disso e acabam por ir para os cafés. Eu tenho condições para combater o calor no meu espaço de trabalho, mas, por exemplo, hoje [ontem] esteve fechado precisamente por causa da meteorologia”, conta a jovem de 22 anos.
governo diz para ‘aproveitar’ Nem todos estiveram de acordo na forma como se deveria encarar esta onda de calor. Enquanto os britânicos foram aconselhados a não andar de comboio e as escolas foram fechando pouco a pouco, o vice-primeiro-ministro britânico Dominic Raab admitiu ser necessário tomar precauções, mas insistiu que as escolas não fechassem e que as pessoas fossem ‘resilientes’ para “aproveitar o sol”.
“Obviamente, estamos a falar de alguns conselhos práticos de bom senso: mantenha-se hidratado, fique longe do sol nos horários mais quentes, use protetor solar”, disse Raab à Sky News. “Devemos aproveitar o sol e, na verdade, devemos ser resilientes o suficiente para algumas das pressões que ele colocará”, complementou.
Na segunda-feira, a Water UK (associação britânica dos provedores de água no Reino Unido) revelou que a procura por água atingiu picos durante segunda-feira. “As empresas de água estão a registar um pico de procura sem precedentes por água durante este evento de clima extremamente quente. Pedimos a todos que considerem cuidadosamente a quantidade de água que estão a usar neste momento. Todas as empresas de água têm contactado diretamente os seus clientes com informações e conselhos para ajudá-los a reduzir o uso de água”, disse fonte da Water UK citada pelo The Guardian.
‘apocalipse’ em frança Ao mesmo tempo, em França, e mais especificamente na zona ocidental do país, o calor também atingiu picos invulgares, o que levou mesmo um meteorologia a referir-se a um ‘apocalipse de calor’ nessa região, citado pela AFP. Mas os efeitos desta onda de calor estão a sentir-se um pouco por todo o país. Em Brest, cidade da Bretanha, no noroeste do país, os termómetros chegaram a marcar 40oC, cerca do dobro da média de temperaturas no mês de julho.
E o mais grave prende-se com os incêndios resultantes desta subida das temperaturas. O número de pessoas obrigadas a deixar para trás as suas casas devido aos incêndios ascendia ontem a 24 mil, sendo que Gironde, uma região turística popular no sudoeste francês, foi particularmente atingida, deixando os bombeiros locais a lutar para controlar os incêndios, que destruíram mais de 14 mil hectares de terra.
tour em dúvida? O Tour de France está nas estradas francesas desde o início do mês, mas a onda de calor que atingiu recentemente o país tem levantado dúvidas sobre se a prova poderá ou não continuar nestes dias, sendo que o seu fim está marcado para 24 de julho. Ontem, os organizadores da prova invocaram o Protocolo de Clima Extremo (Extreme Weather Protocol, em inglês) da UCI antes da etapa de 202,5 km de Rodez a Carcassonne, com temperaturas previstas de 40oC na Occitânia. O Extreme Weather Protocol, introduzido em 2016, exige que, quando houver previsão de condições meteorológicas extremas, os organizadores e o médico chefe da corrida, bem como os representantes das equipas e dos pilotos, realizem uma reunião para determinar quais medidas devem ser adotadas.