A guerra tem trazido alguns problemas e o consumo de gás é um deles. Por isso, a Comissão Europeia apresentou esta quarta um plano de contingência que tem como principal objetivo avançar com uma meta para a redução do consumo de gás no bloco comunitário de 15% entre 1 de agosto deste ano e 31 de março do ano seguinte.
Segundo este pacote, o objetivo é “poupar gás para um inverno seguro”, uma vez que “a União Europeia enfrenta o risco de novos cortes no fornecimento de gás da Rússia, com quase metade dos Estados-membros já afetados por entregas reduzidas”.
E acrescenta: “A Rússia está a chantagear-nos, a usar a energia como arma. Por isso, na eventualidade de um corte de gás russo, seja parcial ou total, a Europa tem de estar a postos”, disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen.
“Estamos a pedir aos Estados membros para reduzirem em 15% o consumo de gás. 15% porquê? É o equivalente a 45 bcm [mil milhões de metros cúbicos] de gás e, com tal redução, podemos ultrapassar com segurança este inverno”, afirmou a presidente Ursula Von der Leyen.
Para a responsável não há dúvidas que os estados-membros da União Europeia têm de estar preparados para perturbações ou até um “corte total” no fornecimento de gás e, por isso, a Europa “tem de preparar-se agora” a contar com “mais problemas no abastecimento de gás, e até mesmo para um corte total do abastecimento do gás russo”.
A presidente da Comissão Europeia defende que se espera que Vladimir Putin continue “a utilizar a energia como arma”.
E vai mais longe: “A Rússia está a chantagear-nos e a usar a energia como arma. A Europa precisa de estar preparada” e “reduzir o consumo de gás é necessário para nos protegermos”, defendeu. “Quanto mais depressa agirmos, mais pouparemos e mais seguros estaremos”, disse.
Bruxelas quer então reduzir em dois terços as importações de energia russa até ao final deste ano para que se possa libertar de forma gradual da dependência energética da Rússia, através da diversificação das fontes de abastecimento, da constituição antecipada de reservas de gás, com principal destaque para o fazer através da redução da dependência dos “combustíveis fósseis”.
Este é um plano que surge no seguimento das preocupações sobre a interrupção do abastecimento do gasoduto Nordstream 1, através do qual chegam cerca de um terço das importações de gás russo para Europa. O fluxo de gás tem estado bloqueado face a “problemas de manutenção”, diz a russa de energia Gazprom.
Espanha rejeita corte Entretanto, o Governo espanhol rejeitou este corte de 15%, avançou a empresa espanhola. A vice-presidente espanhola e ministra da Transição Ecológica, Teresa Ribera, não quer acolher esta imposição da Comissão Europeia, garantindo que não vão existir cortes “nem de luz nem de gás” para as famílias ou indústria. E defendeu que Espanha “fez o trabalho de casa” no que diz respeito à transição energética, “pagando mais que os restantes”. “Não nos podem pedir um sacrifício sobre o qual nem sequer nos pediram opinião” e “somos solidários, mas não nos podem pedir um sacrifício desproporcionado”, avançou ainda.
Pior crise energética da história Sobre este assunto, Nuno Mello, analista XTB, defende que os preços do gás natural nos EUA “têm vindo a recuperar desde o início de julho sobretudo devido a dois fatores: o estado do Texas está debaixo de ondas de calor que provocam um aumento significativo na utilização de eletricidade, principalmente por aparelhos de ar condicionado e a Gazprom cortou a transferência de gás para a Europa Ocidental via Nord Stream I em 60% em junho, e nas duas últimas semanas a transferência de gás foi completamente interrompida devido a trabalhos de manutenção”.
Por isso, na sua opinião, apesar das preocupações de que a Rússia não deverá retomar as transferências para a Europa, “o que poderá resultar numa escassez de gás no Inverno, a manutenção está programada terminar amanhã [hoje], esperando-se que as entregas sejam inferiores aos 160 milhões de metros cúbicos habituais por dia e que regressem aos níveis registados a 11 de Julho, ou seja, apenas 50-60 milhões de metros cúbicos”.
E diz ainda que os armazéns na Europa estão a 60% da sua capacidade média dos últimos cinco anos, “e caso o fornecimento de gás não regresse aos níveis habituais, ou pior ainda, seja suspenso por ainda mais tempo, a Europa pode não atingir os 90% necessários, que são necessários para sobreviver ao inverno”. Além disso, diz o analista da XTB, “uma grande parte da indústria alemã utiliza o gás como fonte energética, e a sua escassez pode provocar um declínio da atividade económica que se propagará depois a toda a Europa”.
Para Nuno Mello não há dúvidas: “A Europa atravessa a pior crise energética da sua história e tem ainda um longo caminho a percorrer para se livrar da sua dependência energética da Rússia”. E acrescenta que o continente europeu “deve continuar a procurar outras fontes de gás e energia disponíveis, reativando em último caso as usinas a carvão e limitando ao mesmo tempo o próprio consumo de gás”.
Para finalizar, Nuno Mello recorda que “vale também a pena lembrar que a importância da Rússia como fornecedor de gás está a diminuir significativamente a favor da Noruega e dos Estados Unidos, que aumentaram significativamente as suas exportações recentemente”.