O gasoduto Nord Stream 1 que liga a Rússia à Alemanha e abastece a Europa encontra-se encerrado para manutenção até amanhã, dia 21 de julho. Mas o risco de não voltar a reabrir quando o processo de manutenção ficar concluído é já um cenário traçado por Bruxelas. “Não estamos à espera que [o Nord Stream] volte”, admitiu o comissário europeu para o Orçamento, Johannes Hahn, adiantando que a Comissão Europeia está a trabalhar em soluções “na suposição de que [o gasoduto] não volta a operar”. Se for esse o caso, vão ser precisas “medidas adicionais”, alertou.
O receio de que Moscovo não restabeleça os fornecimentos no pipeline cresce, especialmente após a empresa estatal russa Gazprom ter avisado os seus clientes na Europa que não poderá garantir o abastecimento de gás por “motivos de força maior”. Até agora, nem Moscovo nem a Gazprom deu alguma indicação de que o fornecimento não será reiniciado. Desde o início da guerra na Ucrânia, perante as sanções aplicadas à Rússia por vários países do Ocidente, a Gazprom tem vindo a reduzir os fluxos de abastecimento de gás, pondo em causa as reservas para o inverno e obrigando o bloco europeu a procurar soluções alternativas.
A interrupção do fornecimento de gás russo à União Europeia pode ter um impacto catastrófico na economia dos Estados-membros, especialmente na Alemanha ou na Polónia, países mais dependentes do gás russo importado através do gasoduto Nord Stream. Esta terça-feira, o Fundo Monetário Internacional (FMI) avançou num relatório que o encerramento total do fornecimento de gás da Rússia para a Europa teria um efeito devastador sobretudo nos países da Europa Central e de Leste, que poderiam registar contrações de 6% do Produto Interno Bruto (PIB). Na Alemanha, motor económico da UE, o PIB cairia cerca de 3% no caso de um encerramento total. Por ordem decrescente, os países que seriam mais afetados seriam a Hungria, Eslováquia, República Checa, Itália, Alemanha, Áustria, Roménia, Eslovénia, Croácia, Polónia e Holanda.
Face ao risco elevado da torneira do gás não voltar a abrir, a União Europeia vai hoje apresentar uma estratégia para mitigar os impactos de um possível corte definitivo e dar resposta a uma eventual crise energética este inverno. O documento, intitulado “Poupar gás para um inverno seguro”, deverá sugerir um conjunto de recomendações aos Estados-membros, incluindo uma atualização dos planos de contingência nacionais, a diversificação do abastecimento e talvez compras conjuntas de gás. Além disso, pode estar em cima da mesa um racionamento do uso de energia.
Além dos impactos económicos, a não reabertura do Nord Stream 1 pode comprometer os abastecimentos para o inverno. “Os países europeus têm que se preparar para o inverno perante a possibilidade de uma interrupção total”, alerta Carla Fernandes. Em declarações ao i, a investigadora do IPRI-NOVA e perita em Energia e Segurança defende que essa preparação deve passar pelo aumento das reservas internas, a aposta em contratos para fornecimento de gás com outros países, como o Azerbaijão, através do gasoduto trans-adriático, mas também a limitação do uso de energia.
“O racionamento do consumo depende muito das estratégias de cada país, da sua capacidade de reserva, do seu nível de dependência e de outros fatores. Mas num plano a longo prazo, se faltarem reservas, esse racionamento será normal”, admite.
No caso português essa realidade não se impõe, afasta a especialista, já que “Portugal não tem uma dependência da Rússia” em matéria de fornecimento de gás. “Em Portugal não está em causa a segurança de fornecimento, aqui a questão do Nord Stream poderá afetar em termos de preços, por causa das mudanças em termos de geopolítica”, esclarece.