Todos os dias são Dias dos Avós

por Nélson Mateus e Alice Vieira

Querida avó,                                                                                      

Esta semana celebra-se o “Dia dos Avós”. Dia de Santa Ana e de São Joaquim, pais de Nossa Senhora, avós de Jesus.

Sabes que é um tema que abordo ao longo do ano.

Já desde criança que olho para a importância da ligação entre avós e netos.

Começou logo com a Heidi (dos desenhos animados). A pobre criatura tinha acabado de perder os pais, aos 5 anos, e foi morar com o avô paterno. Um homem frio e carrancudo que cuidava de cabras no alto dos Alpes. O amor vence tudo, e a relação desta neta com o velho pastor fez parte da minha infância e dos da minha geração.

Lembras-te do genérico? «Avôzinho diz-me tu, quais são os sons que oiço eu?/ Avôzinho diz-me tu, porque eu na nuvem vou?»…

E lá ia a Heidi aos pinotes pelos Alpes abaixo.

Não és só tu que recebes cartas!

Recebo frequentemente correspondência sobre avós e netos. Recentemente recebi uma carta, que duvido que seja verdadeira! Provavelmente não foi nenhuma criança que a escreveu.

No entanto, não resisto a partilhá-la contigo:

«Uma avó é uma mulher que não tem filhos por isso gosta dos filhos dos outros. Como não têm nada para fazer, basta estarem ali. Andam devagar para não pisar as flores nem as lagartas. Geralmente são gordas e não se conseguem dobrar. Como tal, não usam sapatos com atacadores.

Uma avó de verdade nunca bate numa criança e quando se zanga é a rir.

As avós usam óculos e algumas até conseguem tirar os dentes.

São as únicas pessoas adultas que têm sempre tempo para nós.

Quando nos leem histórias, nunca saltam bocados e não se importam de repetir as mesmas histórias vezes sem conta.

Não são fracas como dizem, apesar de morrerem mais vezes do que nós.

Toda a gente deve fazer os possíveis para ter uma avó, principalmente os que não têm televisão».

Não é uma delícia?

Feliz dia querida avó.

Bjs

 

 

Querido neto,

O que eu me ri com a história da Heidi! Os meus filhos e eu sabíamos isso de cor! Lembro-me de andarmos a marchar no corredor e a cantar isso! Bons tempos em que a televisão dava bons desenhos animados!

Mas agora vou dar-te uma triste notícia… Essa carta que tu recebeste – muito gira, concordo – recebeste tu e uma data de gente. É um texto que anda há anos a circular na net, como sendo uma carta que um miúdo escreveu à sua avó – o que se descobriu logo ser mentira. Mas continua a andar por aí.

Mas pronto, falando de avós e netos. Mais uma notícia de que podes não gostar muito, ah,ah… Tenho mais um neto postiço… A juntar a ti, ao Nuno, à Carolina e à Anabela – agora tenho mais o Miguel.

Estava eu ontem na esplanada da praia e tinha na mesa um livro meu que tinha prometido dar a uma amiga que ia passar por lá. Mas estava tanto calor que decidi voltar para casa. Estava a meter tudo no saco quando um miúdo se chega ao pé de mim.

«Já li esse livro e gostei muito».

E continuou logo:

«Vive muito longe daqui?».

Apontei-lhe a minha casa.

«Ah, então é perto. Vou dizer à minha mãe e depois vou ajudá-la a levar as coisas até sua casa».

A mãe sorriu para mim, acenou-me e lá fomos. Claro que eu levei o meu saco grande e dei-lhe a ele o saco do tricot que é muito leve.

Lá fomos, sempre na conversa, até que ele me perguntou se eu tinha netos. Fui-lhe dizendo o nome de todos, o que faziam, que viviam todos muito longe, e que por isso até tinha netos postiços

O que ele se riu. «Postiços, como os dentes?».

Lá lhe expliquei o que era, e claro ele saltou logo, muito contente:

«Também quero! Também quero!».

E pronto, mais um neto na minha lista.

E depois vim para casa a pensar “o que é que os meus netos postiços são uns para os outros? Primos postiços?”.

Vou investigar.

Fica bem e não derretas.

Já agora, não fiques com ciúmes!

Bjs desta avó que tanto te quer bem.