Com apenas 18 meses de vida, Diana Pifferi foi deixada sozinha, com um biberão de leite ao lado, num apartamento degradado em Ponte Lambro, Milão, durante seis dias. No decorrer desse tempo, a mãe esteve, alegadamente, com o companheiro: de acordo com o Corriere della Sera, Alessia terá afirmado que sentiu “que era crucial não interromper os dias” com o namorado, admitindo que “tinha medo” que a filha morresse, mas assumindo que “o futuro” com o namorado – o eletricista Mario D’Ambrosio, de 58 anos – “era mais importante”.
Tal não é de estranhar, na medida em que a pequena Diana era fruto de um relacionamento aparentemente conturbado, pois nem sequer foi registada pelo pai, tendo nascido no chão da casa de banho do mesmo e tendo sido encarada, desde o primeiro dia, como um fardo para a mãe, atualmente com 36 anos. Depois de ter sido presente em tribunal, Alessia Pifferi viu o juiz de Milão, Fabrizio Filice, concluir que não almejava matar a filha, mas, efetivamente, desejava a morte da menina.
Ao namorado, Alessia terá dito que havia deixado Diana com a irmã e, segundo a imprensa italiana, o magistrado considerou que o orgulho de Alessia não constitui uma justificação para não ter pedido ajuda à tia da bebé. “Estava a contar com a possibilidade de ter um futuro com ele e, de facto, fui tentar entender isso durante esses dias”, terá explicado a progenitora em tribunal, como é possível ler no despacho da audiência.
No entanto, os dias não terão corrido como Alessia esperava – em tribunal admitiu que discutiu com o namorado.
Contudo, achou que ele a levaria a casa. “Mas quando vi que ele pegou na minha mão e se dirigiu para Leffe (perto de Bergamo, onde vive), percebi que íamos voltar para a casa dele e não disse nada. Nesse ponto, tive medo que a criança morresse, mas por outro lado tive medo das reações – do julgamento negativo da minha irmã e da reação do meu namorado. Quando penso nisso agora, a minha perceção é de que esses dois medos tinham igual força sem que um prevalecesse sobre o outro. Quando o sábado começou, quando mais dias do que o costume começaram a passar, comecei a ficar mesmo com medo que a criança morresse mas, em todo o caso, tive esperança que isso não acontecesse. Este desejo na minha mente era um pouco como uma espécie de esperança, um pouco como um pensamento de que talvez as coisas que eu tinha deixado com ela fossem suficientes”, afirmou.
Sabe-se que, quando terá chegado à habitação que partilhava com a filha, Alessia terá atirado água para cima da pequena Diana, fazendo manobras de reanimação e, já sem esperança, chamado uma vizinha que, quando deparou com o sucedido, contactou o número de emergência 118 (que corresponde ao 112 português). Quando a equipa médica chegou ao local, concluiu rapidamente que a bebé teria morrido há pelo menos 24 horas devido a desidratação e fome severas.
Por isso mesmo, Alessia foi acusada de homicídio voluntário e os contornos desta história conseguem atingir proporções cada vez mais sórdidas. A título de exemplo, jornais como o La Repubblica, noticiaram que a menina, após ter nascido no chão de casa do pai, esteve um mês internada, numa instituição hospitalar e, posteriormente, ficou aos cuidados da avó enquanto a mãe estava em Montecarlo com o companheiro que tinha àquela época. A bebé começou a apresentar febre cada vez mais elevada e sofria de uma doença renal por ter nascido prematuramente.
“A história da morte da pequena Diana afetou profundamente toda a Itália” “Não há fotos da pequena Diana. Pelo menos não aquelas que esperamos – com familiares, amigos, da festa de aniversário, enquanto toma banho, enquanto sorri. Para lembrá-la há apenas balões, velas e peluches trazidos pelos habitantes de Ponte Lambro durante a procissão de tochas em sua memória. É como se hoje só restasse um nome dela, escrito em letras prateadas no portão.
Diana Pifferi não estava nos registos do serviço social, não apareceu nas listas de espera da creche, não foi atendida pela Caritas do bairro. Ela morreu de fome e sede aos 18 meses numa casa fechada, sem respirar”, escreveu o Corriere della Sera, dando conta do estatuto de vítima que Diana sempre tivera e nunca fora oficialmente reconhecido pelas entidades que deviam ter zelado pelo seu bem-estar, assim como pela sua segurança.
“A história da morte da pequena Diana afetou profundamente toda a Itália porque o comportamento da sua mãe parecia muito cruel desde o início. Eu mesmo, quando fui a Leffe, uma pequena cidade de 4.300 habitantes nas montanhas de Bérgamo, para entender as circunstâncias do que aconteceu, fiquei literalmente emocionado com o que encontrei: em tantos anos de ‘crime’ nunca havia acontecido nada deste género, embora eventos noticiosos, mesmo sérios aqui na Lombardia, infelizmente aconteçam com frequência, mas com essas características são felizmente muito raros”, conta, em declarações ao i, Fabio Conti, jornalista do L’Eco di Bergamo.
“O mais infame foi o da pequena Yara Gambirasio, sequestrada e morta aos 13 anos em 2011. No caso recente de Diana, senti os mesmos sentimentos vivenciados durante a história de Yara. O que mais me impressionou foi, em particular, o total desinteresse da mãe Alessia Pifferi pela menina, já que, enquanto a pequena morria sozinha e no calor de Milão (hoje por aqui as temperaturas ultrapassam os 30 graus e temos picos de 35), a mãe foi vista passeando tranquilamente pelo festival de Leffe, entre barracas de comida e bebida, como se nada tivesse acontecido”, critica o jornalista, recordando igualmente a história da adolescente que desapareceu enquanto voltava para a casa de um centro desportivo da cidade de Bérgamo, em 26 de novembro de 2010, e cujo cadáver foi encontrado somente em fevereiro de 2011, a aproximadamente 10 quilómetros daquele centro.
Risco de prisão perpétua “Até os habitantes locais ficaram petrificados com essa atitude absolutamente antinatural para uma mãe. O próprio Mario D’Ambrosio, sem saber de tudo, disse ter ficado chocado ao descobrir que a mulher havia deixado a criança sozinha na casa milanesa para ir vê-lo. O comportamento de Alessia Pifferi parecia o de uma mãe quase aborrecida com a presença da sua filha que – como decorreu das investigações – já havia no passado saído sozinha de casa por um período mais curto que o anterior, que se revelou fatal, durante o qual talvez (a autópsia foi realizada hoje e os resultados ainda são aguardados) também a teria sedado com benzodiazepínicos para poder divertir-se”, avança Fabio, referindo-se a uma garrafa que foi encontrada juntamente com o biberão.
“Uma atitude que faz qualquer um estremecer: os investigadores, os vizinhos, os jornalistas que acompanham o caso e muitas mães que estão a enviar e-mails ao Ministério Público de Milão explicando que estão desconcertadas com o que Alessia Pifferi fez, desejando que lhe seja aplicada a pena máxima: e, de acordo com o sistema judicial italiano, de facto, corre o risco de prisão perpétua”, conclui.