Há umas semanas escrevi neste espaço uma crónica intitulada Professores primários por turnos. Embora as reações tenham sido positivas houve vários leitores, sobretudo professores, que se indignaram com o facto de me referir aos professores de 1.º ciclo como ‘professores primários’. Alguns perguntavam se a insistência na antiga nomenclatura seria uma forma de desvalorização. Tenho a certeza que não, muito pelo contrário. Acho que simplesmente muitas pessoas continuam a identificar-se mais com ela.
Curiosamente, embora a minha mãe fosse professora de 1.º ciclo, e eu só tenha frequentado o ensino primário durante um ano, porque entretanto passou a ser denominado 1.º ciclo, para mim estes professores nunca deixaram de ser professores primários ou de ensino primário e as escolas mantiveram-se sempre escolas primárias.
Isto porque acho que a antiga terminologia representa muito melhor a ideia destes primeiros quatro anos de escolaridade. O 1.º ciclo não é só o primeiro de três. É um período diferente dos outros. Da mesma forma, a denominação ‘docente do 1.º ciclo’ é mais abstrata do que a de professor primário ou, mais corretamente, professor de ensino primário.
É como se a nova nomenclatura quisesse oferecer uma imagem mais intelectual, sofisticada e complexa, mas que é também mais impessoal, de um período que se distingue e prima precisamente por ser mais familiar, em que se acolhe as crianças que vêm do pré-escolar ou de casa, que faz a adaptação do mais simples para o mais complexo, sendo primária só no sentido em que lança as bases essenciais para a continuação do percurso escolar. O professor primário é o primeiro de todos os professores, o professor que estabelece a relação mais íntima, o professor da infância, das aprendizagens e dos afetos. É o professor que, sozinho, na relação próxima e prolongada com os alunos, consegue ensinar uma turma inteira a ler, a escrever e a contar.
O que quero dizer é que os professores de 1.º ciclo estão no seu direito e terão as suas razões para não gostarem de ser chamados professores primários, chegando a senti-lo como uma ofensa. Do mesmo modo que preferirão que se use a nova terminologia de 1.º ciclo, 1.º, 2.º, 3.º e 4.º anos e EB1 qualquer coisa, que de alguma forma reflete o percurso do Magistério Primário às Escolas Superiores de Educação.
Quero deixar claro que não quis ofender ninguém e que, se usei a antiga terminologia, ainda que incorreta, foi porque é aquela que me é mais familiar. Tenho o mesmo respeito e admiração por estes professores sejam eles do 1.º ciclo ou primários e sinto-me imensamente grata não só à minha, como às professoras dos meus filhos. Independentemente da terminologia, tenho a certeza de que não deixam ninguém indiferente. Basta perguntar: quem não se lembra do nome da sua professora primária? (Já se perguntarmos pela docente do 1.º ciclo provavelmente a resposta não será imediata.)