O sonho de Hitler era erguer um império que durasse mil anos, mas o terror que desencadeou nutre uma relação bem mais íntima com o tempo, esse que se percebe melhor em grãos de areia ou segundos. O pavor é uma medida de expansão sem igual. E percebe-se o fascínio que um relógio que pertenceu ao líder nazi possa exercer entre os tantos colecionadores que perdem a cabeça por artefactos relacionados com um dos capítulos mais negros da história humana. E, no entanto, adquirir um totem com esta carga de pesadelo obriga o colecionador a tomar precauções, preferindo o anonimato. Foi o que aconteceu com a aquisição em leilão, por milhão de euros, do relógio em causa, que tem uma suástica e as iniciais de Hitler gravadas. Descrito pela leiloeira como uma «relíquia da II Guerra Mundial de proporções históricas», o relógio terá sido oferecido a Hitler em abril de 1933, por ocasião do seu 44.º aniversário. Foi encomendado pelo Partido Nazi e gravado pela relojoaria alemã Andreas Huber, em Munique.
Realizado pela Alexander Historical Auctions, em Maryland, nos EUA, o leilão foi criticado por líderes da comunidade judaica. «Este leilão, inconscientemente ou não, faz duas coisas: uma é incentivar aqueles que idealizam o que o partido nazi representava. A outra é oferecer aos compradores a possibilidade de contentar alguém com um item pertencente a um assassino genocida», disse o rabino Menachem Margolin, presidente da Associação Judaica Europeia, com sede em Bruxelas.