Madeira: da poncha ao bolo do caco, do sol à neblina

Há décadas que a Madeira é destino turístico por eleição para milhares de visitantes oriundos dos mais variados pontos da Europa. Churchill passou por lá em 1950 e o Vinho da Madeira é amplamente apreciado pelos seus compatriotas. A ilha tropical possui um microclima muito específico, com sol e calor, mas também com a característica…

Em pleno Oceano Atlântico, o arquipélago da Madeira, composto pela ilha da Madeira e pela ilha do Porto Santo, cada uma com os seus encantos que atraem todos os anos milhares de visitantes, tanto de Portugal continental como da Europa e do mundo inteiro.

Da gastronomia – com a espetada, os filetes de espada, o bife de atum, as lapas, o bodião, o bolo do caco e o milho frito – à bebida – com a poncha, o vinho da Madeira, a Brisa e, claro, a cerveja Coral – há todo um mundo por descobrir neste arquipélago, de onde milhões de emigrantes partiram ao longo dos séculos para criar uma diáspora espalhada por todo o mundo, da Venezuela à África do Sul, sendo até os responsáveis pelo transporte do cavaquinho até ao Havai, onde, várias transformações depois, ganhou o título de ‘ukulele’.

Madeira dos encantos

A ilha da Madeira – localizada a cerca de 950 quilómetros da costa continental portuguesa – é um dos principais destinos turísticos da Europa, e não é por pouco. O seu clima tropical resulta numa temperatura relativamente amena durante o ano inteiro, ótima para visitar locais icónicos como o próprio Jardim Botânico ou os vários miradouros: desde o do Cabo Girão até ao do Cristo Rei.

Mas é melhor ir por partes. Afinal, quais são os locais deste arquipélago que mais atenção chamam entre os milhares de turistas oriundos do mundo inteiro que o visitam?

A pergunta é de difícil resposta, mas falar inicialmente da cidade do Funchal será uma aposta certeira. A ‘capital’ da Madeira tem cerca de 100 mil habitantes e é o ‘epicentro’ do turismo na ilha. Plantada nas montanhas aos pés do Oceano Atlântico, esta cidade serve frequentemente de postal para o arquipélago, com um leque variado de opções no que toca a hotéis, restaurantes, bares e atrações turísticas.

Encostada a paisagens naturais com vibrantes tons de verde e azul e recebendo quantidades exorbitantes de sol durante o ano inteiro, o Funchal ganhou importância também como um dos principais pontos de paragem das linhas de cruzeiros no Atlântico, que tendem a largar âncoras a poucos metros do centro da cidade para permitir aos seus passageiros deliciar-se com aquilo que a cidade tem para oferecer.

Logo à chegada têm, por exemplo, a extensa e bela Praça do Povo, ‘paredes-meias’ com a Marina do Funchal, onde as várias palmeiras definem o tom tropical deste sítio, que no Natal é casa da gigante árvore luminosa que marca a chegada da época natalícia, e que no verão é local de repouso e descanso para os pés cansados de quem passa o dia inteiro a visitar a cidade.

À sua volta, algumas das principais atrações turísticas da ‘capital’ madeirense: o Palácio de São Lourenço, construído no século XVI, a própria Avenida do Mar, com várias lojas e cafés caricatos e, não muito longe, bastando percorrer uma parte da pitoresca Rua Dr. António José de Almeida, a Sé Catedral do Funchal, com o seu estilo gótico do século XV.

Mas como falar do Funchal sem referir o Mercado dos Lavradores? Construído em 1940, este mercado é a ‘montra’ de algumas das principais exportações da Madeira: o seu vinho e, claro, as bananas, tão específicas desta região de Portugal. Mas há um pouco de tudo, e o mercado é paragem obrigatória para os visitantes do Funchal, nem que seja para apreciar a arquitetura do edifício desenhado por Edmundo Tavares, com vários azulejos de João Rodrigues, um pouco por todo o mercado.

Natureza

Há mais na Madeira do que o Funchal, no entanto, e o que não falta são opções para relaxar e divertir-se na natureza, quer para aqueles que gostam de praia, sol e calorzinho, quer para aqueles mais aventureiros, ou então os que se sentem melhor no meio da neblina, em sítios recônditos.

Para o primeiro grupo nomeado, a resposta é simples: a praia Formosa tem de fazer parte do roteiro, pois é a maior referência da ilha em termos de locais para ‘fazer praia’ – com bandeira azul e todas as amenidades necessárias para passar um agradável dia ao sol, ou então na água, cuja temperatura se mantém regularmente agradável.

Se o plano é, no entanto, deleitar-se com as fantásticas paisagens naturais que a ilha da Madeira tem para oferecer, o melhor é começar pelo miradouro do Cabo Girão, bem perto da pitoresca aldeia de Câmara de Lobos (já lá vamos), de onde é possível vislumbrar o Cabo Girão, uma das falésias mais altas do mundo com uma altura aproximada de 580 metros, bem como os arredores de Câmara de Lobos, o mar e a Fajã do Cabo Girão. Por lá, aliás, para os mais corajosos, existe uma estrutura de vidro suspensa, de onde a vista é ainda mais incrível, mas que requer uma dose de coragem para lá chegar.

Mas o que não falta na Madeira são miradouros: se o do Cabo Girão é, talvez, o mais conhecido, o do Cristo Rei não fica atrás, dando ao visitante toda uma experiência diferente. Aqueles que visitam a Ponta do Garajau encontram a estátua do Cristo Rei de Garajau, criada por Georges Serraz em 1927, de onde a vista sobre o oceano Atlântico é de tirar o fôlego.

Uma rudimentar escadaria de madeira a descer desde a estátua parece levar os visitantes diretamente ao oceano Atlântico, dando uma sensação única de adrenalina.

Vilas e vilazinhas

Longe do Funchal, a Madeira está recheada de caricatas e pitorescas vilas e aldeias, que merecem uma visita, nem que seja para tirar algumas fotografias e apreciar a curiosa paisagem. Entre elas encontra-se Câmara de Lobos, a apenas oito quilómetros do Funchal, onde os barcos dos pescadores estacionados na água, frente à rua marginal onde várias casas coloridas preenchem a vista, completam uma paisagem digna de uma visita.

Um pouco mais longe, a 24 quilómetros da capital madeirense, está a Ponta do Sol, outra pequena – mas colorida – vila piscatória, na costa sul da ilha, onde se podem visitar a Igreja de Nossa Senhora da Luz e o Palacete do Lugar de Baixo.

A Porta do Sol tinha ainda uma curiosidade, que, infelizmente, já não é possível encontrar: entrar (ou sair) da vila vinha com uma parte do trajeto que parecia saído de um filme. Se recorresse à Estrada Regional 101, o visitante acabaria por passar pela cascata dos Anjos. O troço de estrada acabaria fechado, no entanto, após uma série de deslizes de terra.

Nem tudo na Madeira, no entanto, está localizado à beira-mar. Afinal de contas, há muita vida no ‘interior’ da ilha, e o Curral das Freiras é um dos principais pontos de interesse longe do oceano. Entre montes e montanhas surge uma pequena vila que esteve isolada até 1959, ano em que foi construída a primeira estrada que a liga ao resto da ilha, e que forma uma das paisagens mais caricatas da ilha.

É possível observar a vila em todo o seu esplendor a partir do miradouro da Eira do Serrado, mas uma visita mesmo também compensará, nem que seja para beber uma ginja ou a tradicional sopa de castanha.

Mas como falar de vilas e cidades na Madeira sem referir Santana, ‘casa’ das tradicionais casas com tetos em V que são um dos principais símbolos da ilha da Madeira?

Todo o município de Santana é, aliás, Reserva de Biosfera da UNESCO, pelo que não só de casinhas tradicionais se faz o fator apelativo deste local.

Picos

Também longe – bem longe – do mar se encontram os picos mais altos da ilha da Madeira, com os seus respetivos microclimas e vistas fenomenais. Fale-se, por exemplo, do pico Ruivo, a 1862 metros de altitude, que é o ponto mais alto da ilha, e o terceiro mais alto do país – a seguir ao Pico, nos Açores, e à Torre, na Serra da Estrela. 

Para lá chegar, o visitante terá de percorrer um percurso pedestre, entre os quais uma das sugestões passa pelo trilho que liga a Achada do Teixeira ao Pico Ruivo (2,8 km). Além de ser um dos trilhos mais acessíveis, surpreende pela beleza, e por dar a sensação de que é possível até tocar nas nuvens. Trata-se, no entanto, de uma subida de 300 metros, que poderá demorar até uma hora e meia.

Mas é impossível falar de picos na Madeira sem referir o Pico do Areeiro, talvez o mais conhecido da ilha, a 1818 metros de altitude. É possível, até, percorrer um trilho de 7 quilómetros entre o Pico Ruivo e o Pico do Areeiro, mas este é também alcançável com o automóvel, daí que seja também um dos mais populares da ilha. Há, também, outro detalhe curioso sobre este pico: o seu microclima. Se há muita gente que associa – e bem – a ilha da Madeira ao sol e ao calor, o pico do Areeiro é, muitas vezes, invadido por um nevoeiro e humidade no ar que fazem sentir que não se está na mesma ilha onde se estava quando se começou o trajeto.

Piscinas marítimas e cavernas

Há um local na ilha da Madeira, no entanto, ao qual uma visita não pode imperativamente faltar: a vila de Porto Moniz, no noroeste da ilha, onde as suas piscinas vulcânicas naturais pedem um mergulho, não estivesse a temperatura da água sempre à volta dos 20-21 graus Celsius.

E se a beleza está à superfície, também está no interior da ilha. As grutas de São Vicente, resultado de uma erupção vulcânica ocorrida há mais de 890 mil anos no Paul da Serra, são também uma interessante atração da ilha, onde os visitantes podem percorrer um percurso de 700 metros repleto de tubos de lava solidificada que formam a paisagem. No fim da visita, o visitante tem direito a passar no centro vulcânico, onde lhe será explicado como se formam as erupções vulcânicas e como foi criada a ilha da Madeira.

Porto Santo encantador

O arquipélago da Madeira não é composto unicamente, no entanto, pela ilha da Madeira. A poucos quilómetros da costa oriente está a ilha do Porto Santo, que vibra pelas suas praias de areia branca.

São apenas 11 quilómetros de comprimento por 6 de largura, mas a Ilha Dourada – como é apelidada por muitos – é um tesouro para quem procura relaxamento e descanso. São, afinal de contas, nove quilómetros de praia com areia branca e fina, banhada por águas azul-turquesa, ricas em iodo, cálcio e magnésio, que não descem geralmente dos 17.ºC.

O Porto Santo é também história: foi a primeira descoberta ultramarina de João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira, que mais tarde descobririam também a Madeira. Os portugueses deram o nome ‘Porto Santo’, uma vez que a ilha lhes deu abrigo após terem sido desviados por ventos fortes da sua rota de exploração da costa ocidental de África.

Mas não só de praia é feita esta ilha: passeios de barco, pesca desportiva, mergulho, windsurf, kite surf, esqui aquático, BTT, ou parapente são algumas das atividades ao ar livre que o Porto Santo promove, sem esquecer a possibilidade de dar umas tacadas no Porto Santo Golfe, projetado pelo campeão espanhol Ballesteros.