por João Maurício Brás
Imagine que vai para a direção de um clube de futebol, e que muitas das suas medidas acabam por empobrecer o seu clube e enriquecer outro. E se essa for a política do PS e do PSD (no caso dos Açores)?
O setor privado é fundamental e o Estado tem a obrigação de zelar pelo bom funcionamento dos setores públicos. Quando o negócio privado prospera à custa do Estado, que desse modo destrói os seus recursos, algo está errado mesmo sendo legal.
No caso da saúde imagine que é médico no SNS, recebe 2 mil euros líquidos, pretende receber melhor, que a sua carreira não se encontre congelada, que não receba uma miséria por horas extras, e o seu patrão, o Estado diz-lhe que ‘não’. Alguns abandonam esse patrão e deixam de fazer essas horas.
O Estado paga pouco a médicos e enfermeiros, porque alega não ter dinheiro, e desinveste no SNS, apesar dos malabarismos com os números, mas depois porque há falta de médicos e enfermeiros recorre a empresas privadas que transacionam esses recursos, muitas vezes que trabalham no público, e que por exemplo, em vez de receberem os 2000 euros do público, vão receber 3000 euros pagos pela empresa privada como tarefeiros. Estas empresas de prestação de serviços dizem que cobram 15% a 20% do valor pagos aos médicos cedidos ao SNS. Na verdade é o Estado que paga quase tudo, mas como não quis pagar melhor ao seus funcionários e melhorar os seus serviços, paga quase o dobro ao setor privado ligado a estas áreas. Os médicos e enfermeiros conseguem assim receber o que o Estado não quis pagar diretamente.
Quem ganha em quem perde neste processo? Qual o objetivo? Quem são estas empresas? Quem são e o que fazem os seus administradores? São perguntas legítimas que só uma sociedade onde falta o escrutínio e que revela menoridade cívica não faz, premiando assim este tipo de política
O SNS vai ficando cada vez mais empobrecido e o setor privado enriquece de modo que é muito pouco liberal à custa do Estado, ou seja do setor público.
Nos últimos 5 anos quatro empresas do setor privado ganharam 54 milhões de euros. Pouparia o Estado se investisse nas carreiras dos SNS e nos seus serviços de saúde?
Agora viajemos até aos Açores que tem um hospital público (HDES) com uma gestão e um trabalho de excelência contra tudo e contra todos, que é desorçamentado, e onde qualquer falha é exposta imediatamente nos jornais locais, na televisão local, nos partidos da oposição e até em alguns partidos da coligação do governo. Ora, em vez desse governo apostar mais nos seus serviços como é o caso desse hospital, vê deputados do partido no Governo defenderem o investimento no hospital privado da ilha em detrimento do seu hospital público. Por exemplo, apoiando, de certo modo, a deslocação de doentes e ou serviços, às expensas do erário público para esse hospital, em vez de dotar de meios o HDES para que se capacite melhor para fazer esse trabalho. Quando os recursos públicos são de certo modo direcionados para o privado, este será cada melhor com o dinheiro do Estado, e o serviço público estará cada vez mais remendado e com mais falhas.
Imagine também que existiriam deputados e ou membros importantes do partido que estariam no Governo da ilha e que trabalhariam nesse hospital privado e que participariam nas políticas públicas a adotar pelo governo nessas ilhas. O que pensaria de algo assim?