Considerado por alguns como um revolucionário, um génio ou um insurreto, o lendário músico brasileiro, Caetano Veloso, celebrou, no passado domingo, 7 de agosto, o seu 80º aniversário, assinalando a data com um concerto que pretendia festejar a sua influente carreira.
Este espetáculo, marcado pela presença da família, com os filhos Moreno, Zeca e Tom, da sua irmã, a também influente Maria Bethânia, e de alguns amigos, foi uma oportunidade para homenagear a carreira do artista e recordar o seu longo percurso.
Apesar de hoje ser considerado um dos mais importantes compositores do Brasil, o artista começou por acompanhar a sua irmã, no papel de guitarrista, atuando em bares e salas de espetáculos em diversas partes do país.
Enquanto ajudava a embelezar as palavras da sua irmã, Veloso criava as suas próprias músicas, tendo composto músicas para a cantora Maria Odette, que acabaria por ficar em 11º lugar no importante Festival Nacional da Música Popular, da TV Excelsior, em 1966, com a canção Um Dia, que ajudou a introduzir ao público diversos nomes importantes desta geração de artistas, mas, eventualmente, o artista viria a assumir a luz dos holofotes no centro do palco, mesmo que no inicio da carreira fossem divididas com Gal Costa.
O primeiro lançamento do artista foi o disco Domingo, lançado em colaboração com a cantora de ‘India’, revelando a paixão que Veloso tinha pelo bossa nova e a tradição de João Gilberto (uma das suas maiores inspirações), mas também pela vontade de inovar e de introduzir conceitos políticos e intervencionistas nas suas músicas.
Um ano depois, assinando o disco com o seu próprio nome, o brasileiro iria estrear-se com o seu primeiro trabalho a solo. Com arranjos de Júlio Medaglia, Damiano Cozzella e Sandino Hohagen, Veloso editou um trabalho que seria essencial no movimento tropicália, que misturava elementos da cultura brasileira com algumas tendências da vanguarda que se estavam a viver no estrangeiro, seja na Europa como nos Estados Unidos, e de onde surgiram outros importantes artistas e grupos como Gilberto Gil, Gal Costa, Os Mutantes e Tom Zé.
Apesar de hoje ser tido como um dos mais importantes artistas da história do Brasil, a sua atitude nem sempre era compreendida, com alguns episódios marcantes do início da sua carreira em que as suas atuações eram recebidas com vaias.
Em 1968, quando Veloso participou no disco Tropicália ou Panis et Circensis, disco-manifesto do Tropicalismo, que juntou algumas das mais importantes vozes desde movimento, num concerto de apresentação deste trabalho, no Teatro da Universidade Católica (Tuca), em São Paulo, depois de tocar a música ‘É Proibido Proibir’ com Os Mutantes, era possível ouvir mais os apupos que os aplausos. Mais tarde, devido ao endurecimento do regime militar no Brasil, esta canção acabaria por ser desclassificada do III Festival Internacional da Canção.
Veloso era visto como um inimigo da ditadura, e, em 1969, foi preso, acusado de desrespeitar o Hino Nacional e a Bandeira, uma situação que o levou a partir para o exílio, em Londres. Só regressaria em definitivo ao Brasil em 1972.
«Ser preso, jogado na solitária e ficar um mês sem que ninguém dissesse porque é que tinha sido preso, foi o negócio mais destabilizador. Fiquei diferente», disse em entrevista à Globo.
Foi durante este período que o artista criou um dos seus mais celebrados trabalhos, Transa, que misturava canções em inglês e português, e que foi considerado pela revista Rolling Stone como o décimo melhor disco do Brasil.
«Há uma franqueza emocional e desarmante nas letras de Caetano Veloso e uma bela leitura do velho samba, como se pode ouvir em Mora Na Filosofia», escreveu Andy Beta na Pitchfork, num artigo sobre os 20 discos mais importantes da Tropicalia. «Embora não haja nenhuma referência aberta à política, a incorporação de ritmos de capoeira (antigamente usado para treinar escravos brasileiros para lutar contra os seus donos) e referências ao reggae (originado de comunidades de expatriados caribenhos em Londres) sugerem que a resistência permaneceu no centro de sua música».
Ao longo da sua carreira, a discografia de Veloso e o seu trabalho enquanto escritor elevaram-no a uma das mais importantes mentes da história do Brasil, e, apesar de alguns escândalos que também marcaram a sua vida, como a sua relação amorosa com Paula Lavigne, que começou quando a ex-atriz e mãe dos seus filhos tinha 13 anos, «a relevância de Caetano não é apenas como artista», escreve o Correio Braziliense, notando que nas últimas cinco décadas, o músico «também se distinguiu pelo seu posicionamento e atuação enquanto cidadão».
«Recentemente, deixou claro de que lado está, ao liderar o Ato pela terra, na Esplanada dos Ministérios, em protesto contra os projetos de lei que ameaçam o meio ambiente; e ao homenagear, num concerto no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, o indígena Bruno Pereira e o jornalista Dom Philips, assassinados na região do Vale do Javari, na Amazônia», acrescentando ainda que Veloso é um dos «signatários da carta em defesa da democracia, organizada pela Faculdade de Direito de São Paulo».