O golfe é um ativo de Portugal

De acordo com os dados disponibilizados pelo Plano Regional de Eficiência Hídrica para o Algarve (julho 2020), o consumo de água para rega de campos de golfe é excecionalmente reduzido (6,4%) face aos consumos agrícolas (56%) e urbanos (34%).

Por Miguel Franco de Sousa, Presidente da Federação Portuguesa de Golfe

São cerca de 300.000 os turistas que nos visitam todos os anos com o propósito de jogar golfe, sobretudo no Algarve. São estes turistas que são responsáveis pelos cerca de €€2.000 milhões de impacto económico direto e indireto em Portugal (1). É também devido ao golfe que são gerados e mantidos mais de 16.000 postos de trabalho, sobretudo numa região fortemente caracterizada pela sazonalidade – o Algarve.

É precisamente nesta região – o Algarve – onde a questão da utilização dos recursos hídricos é mais complexa, devido à escassez de água, de uma forma transversal a todo este território.

Estamos hoje, uma vez mais, perante uma situação de seca extrema (33%) e seca severa (66%) no país e é, como sempre, nestes momentos em que todos se lembram que existe um problema grave ao nível dos recursos hídricos em Portugal. Este não pode ser um problema que deva ser olhado apenas quando sentimos na pele a falta de água. É uma questão que requer políticas e investimento público para que não nos vejamos tão privados deste bem cada vez mais escasso.

Perante as vozes mais críticas relativamente à utilização de água para rega dos campos de golfe, é importante para o golfe, enquanto setor económico e com relevante papel social nas regiões onde está implantado, esclarecer alguns ‘mitos’ que se vão levantando nestes momentos, em que se procuram bodes expiatórios para encobrir as falhas estruturais e a ausência de políticas e investimentos públicos.

Apontar o dedo ao golfe nestas alturas é fácil, mas é feito de forma inconsistente, ideológica e de forma desenquadrada da realidade. 

De acordo com os dados disponibilizados pelo Plano Regional de Eficiência Hídrica para o Algarve (julho 2020), o consumo de água para rega de campos de golfe é excecionalmente reduzido (6,4%) face aos consumos agrícolas (56%) e urbanos (34%).

Além disso, é aterrador verificar que a água que se perde na rede de distribuição do Algarve daria para regar os cerca de 40 campos de golfe existentes na região.

Os campos de golfe sitos nesta região do país consomem, em média, 15 hm3/ano, sendo que o consumo de água para rega das principais culturas permanentes, nomeadamente a alfarrobeira, citrinos e olival consomem uma média de 64 hm3/ano.
As culturas permanentes ocupam uma área de 36.500 hectares (dados de 2019), sendo que a dos campos de golfe ocupam apenas 4% dessa área.

No Algarve por cada hm3 de água utilizado na rega para agricultura são gerados €€845.000 de riqueza para região, enquanto no golfe são gerados €€33 Milhões por cada hm3. 

Os proprietários dos campos de golfe têm vindo a realizar investimentos significativos na requalificação dos sistemas de rega, com o intuito de aumentar a sua eficiência e eficácia na gestão dos recursos hídricos, tal como, por exemplo, na aquisição de estações meteorológicas e sondas de humidade do solo. Adicionalmente tem sido realizado um esforço no sentido de reduzir a área relvada e de substituir as relvas de estação fria por relvas de estação quente, havendo, consequentemente, uma redução considerável do consumo de água. 

Pelo exposto pode-se concluir que a escassez de água no Algarve não tem, nem terá, origem na rega dos campos de golfe. 

A prática de reutilização de água residual está a aumentar consideravelmente na União Europeia, sobretudo para colmatar a falta de recursos hídricos em certas regiões – países do sul da Europa –, mas também para proteger o ambiente, especialmente nas águas costeiras, através da redução de descargas em zonas sensíveis. 

Assim, as crescentes preocupações relativamente à escassez de água e à proteção do meio ambiente justificam que os campos de golfe caminhem no sentido da reutilização de águas residuais, mas também na procura de águas provenientes de origens alternativas, como a dessalinização ou o aproveitamento de águas pluviais.

Estamos, como não poderia ser de outra forma, ao lado de todos aqueles que queiram procurar soluções sérias e sustentáveis e que não comprometam uma atividade tão importante para Portugal, como é o caso do golfe.

(1) Anuário 2018 da Federação Portuguesa de Golfe by Deloitte