Começa hoje a terceira edição do Operafest, o festival de ópera independente que nasceu durante a pandemia. Dirigida pela soprano Catarina Molder e com a produção da Ópera do Castelo, avizinha-se uma verdadeira avalanche de ópera, com uma programação que se estende até 10 de setembro e se debruça sobre o mote do destino em vertigem, com o pano de fundo do Jardim do Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.
Um Baile de Máscaras (1859) de Verdi foi a obra escolhida para dar início às ‘hostilidades’, que terminam com uma variação contemporânea, a rave operática Um Baile de Máscaras Para Desafiar o Destino. Pelo meio realiza-se a Noite Americana, com a estreia nacional da ópera Labirinto (1963), de Gian-Carlo Menotti, e ainda a ópera breve Uma partida de Bridge (1959) e o famoso Adagio, de Samuel Barber, ou O Homem dos Sonhos (2022) de António Chagas Rosa, a partir de Mário de Sá-Carneiro.
Para os mais novos também há programação, com Jeremias Fisher (2007), a história do menino peixe de Isabelle Aboulker, apostando em talentos emergentes na encenação de ópera e na divulgação de repertório “na gaveta” com o concurso Maratona Ópera XXI, Ópera Express para Novos Encenadores e ainda em novas criações, com a estreia a absoluta da ópera Minotauro, de João Ricardo.
“Maravilhar a todos os níveis” “É um programa vibrante em torno do destino em vertigem, do destino fatal que a todos atinge. Esperamos continuar o trabalho de impacto que já obtivemos nas duas primeiras edições: dinamização da oferta operática nacional, aposta na ópera do presente e em novos públicos, presentear todos os públicos com ópera entusiasmante e rica para os maravilhar a todos os níveis”, conta ao i Catarina Molder, responsável pela organização desta grande festa de ópera, que espera chegar a um total de 7500 pessoas.
“Não vou arriscar algo que não me diz grande coisa até porque primeiro tenho de estar apaixonada para fazer apaixonar os outros”, confessa a soprano, sobre as dificuldades em organizar este festival, que é “fora da caixa”, defende, uma vez que “foge do tradicionalismo recorrente do mercado operático em geral, cruza tradição vanguarda, gostos e afinidades várias”. “Como arrisco sempre dinheiro do meu bolso, já que dependemos ainda muito da bilheteira, têm de ser óperas, compositores que não só são fantásticos como eu os adoro”, continua. “O principal problema é o subfinanciamento, andar a contar os tostões e ver o máximo que conseguimos fazer e viabilizar com parte significante da bilheteira. Mesmo assim temos de descontos para jovens em todos os espectáculos, porque consideramos mesmo prioritário a renovação do público da ópera”.
Falta de opções A ópera continua a ser um género musical que vive de pequenos festivais, muito direcionados a nichos específicos, mas isso não significa que não possa alargar os seus horizontes em Portugal. “Potencialmente, grande parte do público gosta de ópera, tem é poucas oportunidades para a fruir e o mercado de ópera internacional de uma forma geral é ultra tradicionalista, vivendo quase só do passado, a produção contemporânea é muito reduzida”, reflete Catarina Molder. “O mercado nacional ainda é quase inexistente, portanto assistimos a uma procura, que não é satisfeita na maior dos teatros portugueses, porque por um lado o preconceito e desconhecimento ainda vigoram”, considera a soprano, apontando também a falta de condições, “porque a maioria do repertório necessita de um teatro com fosso” e falta de capacidade de investimento “porque a ópera é a arte performativa mais dispendiosa”. Por outro lado, “a maioria dos grandes teatros não está voltado para criar relações com o público de hoje, nem tão pouco com a sociedade de hoje”, argumenta. Catarina Molder defende que é preciso “contrariar esta tendência” e “fazer muito mais ópera contemporânea, com muito mais variedade para conquistar qualidade”. Mas isso “não cai do céu”, admite. “Exige risco, treino, conhecimento”.