Depois de guerras cósmicas, de ter assassinado metade do universo e de ter aberto as portas ao multiverso, a Marvel decidiu dar um passo atrás nas suas aventuras e, em vez de entrar num novo campo de batalha, decidiu entrar numa sala de tribunal acompanhado por She-Hulk, alter-ego de Jennifer Walters (interpretada por Tatiana Maslany), numa série de comédia que foi comparada pela argumentista Jessica Gao com produções como Fleabag ou Deadpool.
A série estreou esta quinta-feira, dia 18, na plataforma de streaming Disney+, e segue a vida de Jen, uma advogada que depois de sofrer um acidente de carro com o seu primo, que é não mais que Bruce Banner (Mark Ruffalo), o homem que consegue transformar-se em Hulk, este verte uma gota de sangue para o seu corpo, o que faz com que esta também adquira poderes do super-herói esmeralda.
Contudo, ao contrário de Banner, que demorou anos a conseguir dominar a “arte” de se transformar no Hulk, passando grande parte dos primeiros filmes em que surgiu no Universo Cinematográfico da Marvel (MCU) a tentar dominar este monstro que reside dentro dele, Jen consegue quase imediatamente dominar estes poderes, conseguindo reverter a sua transformação quando bem entender.
Críticos e público divididos “Eu sou melhor que tu?”, pergunta a certa altura a advogada ao seu primo que, apesar de desvalorizar a pergunta, é o que a série parece dar a entender, com Jen a explicar que depois de passar a vida inteira no planeta enquanto uma mulher, “manusear” o Hulk que agora vive dentro dela é uma “brincadeira de criança”.
Mas She-Hulk: A Advogada não é uma série sobre um “braço de ferro” entre os dois primos com tons de verde, é uma sitcom que pretende colocar estas absurdamente fortes criaturas em situações absurdas e mundanas.
“Eu sabia exatamente o tom que queria para a série desde o início”, explicou Gao à Variety. “O meu tipo favorito de comédia é pegar num conceito elevado de ficção científica, como um ser extraordinário como um Hulk, e depois baseá-lo nas minúcias da vida quotidiano”, disse a argumentista que, antes deste trabalho tinha trabalhado em séries como Silicon Valley ou Rick and Morty, onde teve oportunidade de explorar melhor esta paixão, nomeadamente, no episódio Pickle Rick, um dos mais famosos desta série de animação, onde o cientista Rick se transforma num pickle.
Apesar de ser improvável que Jen se transforme também num pickle, podemos ver a advogada a enfrentar diversos desafios nomeadamente, encontrar roupa que sirva no seu novo corpo verde e gigante ou como ir a um encontro com esta “renovada” aparência física.
Esta nova abordagem da série parece estar a dividir críticos e a audiência. Os que defendem a qualidade desta produção elogiam o tom cómico e a forma como a She-Hulk quebra a “quarta parede” para falar com a audiência, à semelhança da série Fleabag ou dos filmes do Deadpool.
“Os primeiros episódios de She-Hulk são exatamente o que eu queria que fossem e muito mais”, escreveu no Twitter Nora Dominick do BuzzFeed. “Gosto muito do formato de comédia. Sem surpresa, Tatiana Maslany é excelente como Jen. A forma como quebra a quarta parede, o timing cómico, como muda rapidamente da sua personalidade nerd para a She-Hulk. É um sim gigante para mim”, elogiou.
“A mais recente entrada do MCU, tem um sentido de humor ocasional, mas está em falta em quase tudo o resto”, argumenta Mae Abdulbaki do Screen Rant.
Profissionais sob pressão “Não há dúvida de que a série pode ser muito agradável, e há aspetos da série que o público certamente achará divertido, incluindo as notáveis estrelas convidadas (para além de Mark Ruffalo, a serie conta ainda com Tim Roth, Charlie Cox e Benedict Wong, atores que interpretam, respetivamente, Abomination, Daredevil e Wong), mas a própria She-Hulk é uma personagem subdesenvolvida, o que deixa os quatro primeiros episódios a parecerem vazios e sem rumo, apesar do humor”, justifica a crítica.
Para lá das queixas apontadas ao argumento da série, muitos fãs queixaram-se da aparência da She-Hulk na série, críticas apontadas assim que estreou o primeiro trailer da série, com utilizadores do Twitter a apontar para o facto da personagem parecer irreal e inacabada e a fazer comparações humorísticas com o Shrek.
Os efeitos especiais das últimas produções da Marvel têm estado sob intenso escrutínio de fãs e críticos, até com o próprio realizador de Thor: Love and Thunder, Taika Waititi, a queixar-se que a personagem Korg não parece real.
Mas tem surgido diversas vozes que apoiam as equipas responsáveis por este aspeto técnico dos filmes que explicam que os profissionais estão sob imensa pressão e stress por parte do estúdio, que é conhecido por fazer diversas mudanças à última hora que acaba por prejudicar o seu trabalho.
“É um grande empreendimento para uma série ter o personagem principal inteiramente feito com efeitos especiais”, disse Gao, durante um painel de imprensa em agosto, citado pelo The Ringer. “É terrível que muitos artistas se sintam apressados e que a carga de trabalho é muito grande. Acho que todos neste painel se solidarizam com todos os trabalhadores”, afirmou.