Brasil. Bolsonaro e Lula trocam acusações

Começou a campanha eleitoral no Brasil e os dois principais candidatos, Lula e Bolsonaro, já lançaram as primeiras farpas.

É quase uma redundância dizer que existe um mundo de diferenças que separam o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e o candidato e antigo líder do país, Lula da Silva, mas estas prometem ficar ainda mais evidentes com o início de uma das mais ‘agressivas’ campanhas eleitorais dos últimos tempos.

Este processo, que arrancou na quarta-feira, foi marcado pela troca de insultos entre os dois candidatos, com um dos maiores a assumir a forma de um painel publicitário na lateral de um prédio em Porto Alegre, onde é feita uma associação entre o Partido Comunista do Brasil e a facão criminosa Primeiro Comando da Capital, o PCC, mas também afirmando que estes são contra a liberdade e permitem a liberdade a «bandidos».

O Partido Comunista não ficou de braços cruzados e apelou a um tribunal para que o painel fosse removido, uma ação que acabou por ser aprovada por um juiz do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul, mas este seria apenas o início de diversos ataques que marcaram a primeira semana da campanha eleitoral.

No lançamento da campanha de Lula, o ex-Presidente afirmou que Bolsonaro estava «possuído pelo diabo», uma reação aos esforços do candidato de extrema-direita para o «demonizar» e arrecadar os votos de milhões de eleitores evangélicos. 

«Se tem alguém possuído pelo diabo é esse Bolsonaro», disse o homem que foi Presidente entre 2003 e 2010 durante um discurso às portas da fábrica da Volkswagen, em São Bernardo do Camp, um lugar marcante na sua carreira porque foi nesse local que Lula começou a sua ascensão política, onde ficou conhecido como dirigente sindical.

«O Bolsonaro está a tentar manipular a boa-fé de homens e mulheres evangélicos», disse o político de 76 anos, que tem feito discursos enquanto usa um colete à prova de balas devido a receios de ser atacado por apoiantes do seu rival e da extrema-direita.

Lula pediu ainda aos eleitores para punirem o ainda Presidente pela sua resposta «negacionista» e «mentirosa» ao surto de covid-19 que matou mais de 680 mil brasileiros.

«Estamos a enfrentar uma pessoa que é desequilibrada mentalmente, uma pessoa desestruturada do ponto de vista psicológico», disse durante um comício em Belo Horizonte. «Uma pessoa que acha que a polícia tem de matar, em vez de prender. Que tem de vender armas, e não livros. Que tem de estimular o ódio, e não o amor», argumentou Lula.

Já a campanha de Bolsonaro começou de uma forma algo atribulada. Depois de ter sido insultado pelo youtuber, Wilker Leão, à saída do Palácio do Planalto em Brasília, o Presidente brasileiro saiu do automóvel e tentou tirar o telemóvel com que Leão o filmava. 

O jovem foi atirado para o chão enquanto o líder brasileiro o insultava, com nomes como «vagabundo» ou «safado».

Entre os insultos do youtuber, este disse que Bolsonaro era um «covarde» e «tchutchuca do Centrão». «Tchutchuca» é uma expressão utilizada pela banda funk, Bonde do Tigrão, que significa «mulher submissa». Já a referência ao «centrão», que é o conjunto de parlamentares assumidamente clientelistas, surgiu devido ao Presidente supostamente se ter rendido a este grupo de forma a evitar um eventual impeachment.

Antes de toda esta confusão, a campanha de Bolsonaro foi inaugurada na cidade de Juiz de Fora, onde foi alvo de um ataque em 2018, mencionando a alegada ameaça «comunista» no governo do ex-Presidente Lula da Silva.

«Este país não quer retrocessos, não quer ideologia de género nas escolas, não quer liberar drogas. Este país respeita a vida desde sua conceção e não quer o comunismo», disse Bolsonaro em Juiz de Fora, no interior do estado de Minas Gerais.

Nesta primeira fase das campanhas eleitorais, as sondagens para as presidenciais no Brasil dão vantagem a Lula da Silva, com cerca de 45% das intenções de voto, face a Bolsonaro que regista pouco mais de 30% das intenções de voto.

Apesar da vitória esmagadora em 2018 de Bolsonaro, que venceu Fernando Haddad, por 55% contra 44%, a sua popularidade desceu consideravelmente entre os apoiantes pela forma desastrosa como lidou com a pandemia de coronavírus.

Existem sondagens que indicam que Lula até poderá conquistar a vitória na primeira ronda, ao conquistar mais de 50% dos votos, mas observadores internacionais argumentam que Bolsonaro ganhará terreno graças ao pagamento do programa, Auxílio Brasil, que ofereceu um beneficio de 600 reais (114 euros) a mais de 20 milhões de famílias.

«Acho que os números provavelmente ficarão mais renhidos à medida que nos aproximamos das eleições. As sondagens ainda colocam Lula na frente, mas não por uma grande margem», disse o embaixador dos EUA no Brasil durante o governo de Barack Obama, Thomas Shannon, citado pelo Guardian.

A fase inicial da campanha eleitoral termina a 1 de outubro, véspera da primeira volta das eleições.

Prevista apenas para cargos executivos, ou seja, para as disputas do governo regional dos 27 estados do país e a Presidência da República, a segunda volta das eleições brasileiras será realizada em 30 de outubro caso nenhum candidato alcance maioria absoluta dos votos válidos na primeira votação.

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