Apesar das incógnitas que continuam a rodear o assassínio de Darya Dugina, filha do grande ideólogo de Vladimir Putin, Alexander Dugin, vitimada pela explosão do automóvel em que se deslocava, a Ucrânia está a tentar “virar o bico ao prego” afirmando que a culpada é, na realidade, a Rússia.
O secretário do Conselho Nacional de Segurança e Defesa da Ucrânia, Oleksii Danilov, afirmou que o assassínio de Dugina foi uma “execução realizada pelos serviços secretos russos”.
“O FSB [Serviço Federal de Segurança da Federação Russa] fê-lo [o homicídio] e agora estão dizer que foi alguém do nosso lado que o cometeu”, acrescentou o secretário do Conselho Nacional de Segurança e Defesa.
Danilov revelou que Dugina e o seu pai criticaram o que a Rússia designa por “operação especial” militar na Ucrânia, que achavam estar a prolongar-se por demasiado tempo, e acrescentou que os ucranianos “não trabalham assim”.
“Não estamos envolvidos na explosão que matou esta mulher, isso é obra dos serviços secretos russos”, reiterou, frisando que estes estão a começar a livrar-se das pessoas que criticam os alegados “sucessos” militares da Rússia na guerra.
Dugina é jornalista, especialista em política e uma figura da comunicação na Rússia, ocupando o papel de comentadora por diversas vezes no canal de televisão nacionalista, Tsargrad, onde expressava opiniões na linha das do seu pai, Alexander Dugin, que há muito defende a unificação das regiões e territórios de língua russa como parte de um novo império russo – alguns analistas denominam-no, por isso, como o “cérebro de Putin”, ou “Rasputin de Putin”, numa referência ao místico russo Grigori Rasputin, que se insinuou com o último imperador da Rússia, Nicolau II.
Segundo observadores internacionais, Dugina não era o alvo do ataque. O veículo que a mulher conduzia pertencia ao pai, que era, provavelmente, o alvo, avançou a agência de notícias estatal TASS, que citou o chefe do movimento social Russky Gorizont (Horizonte Russo), Andrei Krasnov, que conhecia a família.
O pai e a filha estavam a participar num festival cultural nos arredores de Moscovo e decidiram trocar de carro subitamente, escreve o jornal russo Rossiiskaya Gazeta.
Apesar do ataque não ter sido reivindicado, vários funcionários pró-Kremlin atribuíram imediatamente as culpas a Kiev pela explosão.
Investigadores russos revelaram que abriram um processo por homicídio e que serão feitos exames forenses para tentar determinar exatamente o que aconteceu, acrescentando ainda que estavam a considerar “todas as versões” quando se tratava de descobrir a identidade do responsável.
A Ucrânia negou, este domingo, qualquer envolvimento na morte de Dugin. “Sublinho que a Ucrânia nada tem a ver com isto, porque não somos um Estado criminoso como a Federação Russa e não somos um Estado terrorista”, disse o conselheiro presidencial ucraniano Mikhail Podoliak, citado pela agência espanhola EFE.
A cerimónia fúnebre de Dugina, onde compareceram centenas de russos, realizou-se esta segunda-feira, num salão do centro Ostankino TV de Moscovo. Uma foto de Dugina foi colocada diante do caixão aberto.
Dugin e sua esposa, que compareceram no evento, sentaram-se ao lado do caixão da filha. “Ela morreu pelo povo, pela Rússia, na frente da batalha. O frente da batalha é aqui, não é na Ucrânia”, afirmou Dugin no início da cerimónia.