Muito se escreveu e continua a escrever sobre as circunstâncias que levaram à tragédia na madrugada de 31 de agosto de 1997. Era sábado à noite quando Diana e o egípcio Dodi al-Fayed, herdeiro dos armazéns de luxo Harrods, saíram do hotel Ritz, na Praça Vendôme, onde tinham jantado, e entraram num Mercedes com destino a um apartamento na rua Arsène Houssaye.
Contudo, o casal não chegaria ao destino. Já passava da meia-noite em Paris, quando o carro guiado pelo motorista Henri Paul e onde ainda seguia o guarda-costas Trevor Rees-Jones se despistou no túnel que passa por baixo da Ponte da Alma, numa fuga aos paparazzi.
Apenas o guarda-costas sobreviveu ao violento acidente. Tanto Dodi, namorado de Diana, como o motorista foram declarados mortos no local. Já a princesa de Gales acabaria por morrer, aos 36 anos, nas primeiras horas de domingo, no hospital de Pitié-Salpêtrière, não tendo resistido aos ferimentos.
Quase 25 anos depois, são múltiplas as teorias que se formularam em torno do trágico acidente, mas todas se sustentam na mesma crença: que alguém queria matar Diana e que a família real britânica ajudou a orquestrar o acidente fatal daquela noite.
Essas teorias foram tão difundidas que as autoridades britânicas foram forçadas a lançar a conhecida Operação Paget, um inquérito para estabelecer se havia algum fundamento de verdade nestas teorias. Durou anos, custou milhões de libras e pôs um ponto final a todas as suspeitas conspiratórias, concluindo que tudo se tratou de um acidente infeliz.
Uma das teses que chegou a ser alimentada por Mohamed al-Fayed, o pai de Dodi, baseava-se na suposição de que Diana estaria grávida, o que motivaria o descontentamento do Palácio de Buckingham e da rainha Isabel II. Em declarações à imprensa, Fayed chegou a alegar que a família real «nunca poderia aceitar que um muçulmano egípcio pudesse eventualmente ser o padrasto do futuro rei da Inglaterra». E, assim, planeara matá-la.
O burburinho sobre uma possível gravidez surgiu antes mesmo de Diana morrer e a especulação foi impulsionada pelos jornais franceses. Contudo, nada indicava uma gravidez no exame post-mortem. E outros testes ao sangue de Diana também apontavam no mesmo sentido. Além disso, não há evidências sequer de que a própria suspeitasse de uma gravidez, não tendo mencionado qualquer possibilidade de estar grávida aos seus confidentes.
O principal fator por trás de todas as teorias fundamentava-se na crença de que a própria Diana pensava que ia ser morta.
E, ao que tudo indica, isso seria verdade, uma vez que veio a público uma carta divulgada por Paul Burrell, antigo mordomo de Diana, onde a princesa de Gales confidenciava essa suspeita.
«O meu marido está a planear ‘um acidente’ no meu carro, uma falha nos freios e ferimentos graves na cabeça para deixar o caminho livre para se casar de novo», lia-se na carta.
De facto, Diana receava pela sua segurança. Mas parece não haver nenhuma evidência de que realmente seria morta, mesmo que a sua relação com alguns membros da família real fosse conturbada.
Logo após o acidente, o público em geral também depositou as culpas nos paparazzis que seguiam atrás do Mercedes pelas ruas de Paris. Em parte isto refletia uma preocupação que perseguira Diana ao longo de sua vida: o interesse da imprensa pela sua vida de forma abusiva e intrusiva.
Outro alvo das teorias de conspiração era Henri Paul. Suspeitava-se que o chefe de segurança do Ritz, em Paris, que conduzia o Mercedes naquela noite, teria sido pago para pôr fim à vida de Diana. De acordo com os relatórios do acidente, o motorista estaria bêbado naquela noite, acabando por se despistar ao tentar fugir dos fotógrafos. Contudo, havia quem desconfiasse de que esta versão oficial era falsa, partindo de uma intenção para encobrir um suposto assassinato. Um dos argumentos desta teoria era que o corpo de Henri Paul teria sido trocado, para que os resultados toxicológicos batessem certo com a versão das autoridades.
Há uma série de razões pelas quais muitos acreditaram nesta tese. Nas imagens de vigilância do Ritz, o motorista não aparentava estar bêbado no início da noite, aparecendo por exemplo a atar os atacadores dos sapatos sem qualquer dificuldade. Contudo, numerosos testes mostraram que Henri Paul continha álcool no sangue e de que este teria conduzido embriagado naquela noite de agosto.
Outro dos elementos centrais das teorias da conspiração é talvez o carro que transportava Diana. Há quem afirme que o carro tinha sido mexido e que circulava a uma velocidade excessiva para o trajeto.
Porém, as investigações levadas a cabo pelas autoridades francesas e britânicas concluíram que tudo parecia estar em conformidade com o carro, apesar de o Mercedes ter entrado no túnel a uma velocidade muito acima do limite legal.
O simples facto de Diana ter chegado ao hospital ainda com vida também foi motivo para alimentar a especulação sobre a conduta dos profissionais de saúde que a socorreram tanto no local do acidente como no hospital, com o povo britânico a especular que os médicos permitiram que Diana morresse ao não oferecerem o tratamento mais adequado.
Na verdade, a abordagem francesa em casos de emergência é diferente da do Reino Unido. Em França, as equipas de socorro concentram-se em dar tratamento no local antes de transferir uma pessoa para o hospital. Já no Reino Unido, opta-se por chegar ao hospital o mais rápido possível.
Tal como é descrito no relatório da Operação Paget, para que esta teoria tivesse algum fundamento um número substancial de médicos e de outros profissionais teriam de quebrar com o código de ética e depois mentir em conjunto às autoridades. Algo que é pouco plausível.
Além disso, é impossível aferir se Diana teria mais hipóteses de sobreviver caso tivesse sido levada de imediato para o hospital. De qualquer forma, na altura, os médicos alegaram que os ferimentos eram fatais.
Curiosamente, as teorias da conspiração em torno de Diana circulavam mesmo quando ainda estava viva – e, de facto, era a própria que as alentava. Em 2004, o canal norte-americano NBC exibiu um vídeo no qual Diana falava sobre Barry Mannakee, um ex-guarda-costas com quem viveu o seu «maior amor».
«Foi tudo descoberto e ele foi expulso [da segurança real]. Depois foi morto. Acho que foi eliminado», afirmava Diana nas imagens, dando a entender que a família real teria orquestrado o acidente de carro em que Mannakee morreu.
A poucos dias de se assinalarem os 25 anos sobre a data, persistem as desconfianças em torno da morte de Diana e o próprio príncipe Harry anda a investigar a morte da mãe. A viver nos EUA e recentemente afastado das funções reais, Harry anda a reunir material para escrever um livro de memórias. A trabalhar nesse projeto tem uma equipa de investigadores que terão já contactado as autoridades francesas para apurar os pormenores do trágico acidente. O objetivo, segundo a imprensa internacional, é tentar esclarecer o mistério que ainda persiste em torno do caso.
Certo é que um quarto de século depois, a população britânica ainda guarda na memória a imagem de Diana como uma das figuras mais marcantes do século XX. Desde que anunciou o seu noivado com o príncipe de Gales, em 1981, até à sua trágica morte, a popularidade da educadora de infância que se tornou na ‘princesa do povo’ nunca parou de crescer.
E foi com grande tristeza que os ingleses receberam a notícia da sua morte, enquanto William e Harry passavam férias com o pai, o príncipe Charles, e os avós – a rainha Isabel II e o duque de Edimburgo – no castelo escocês de Balmoral.
Assim que a informação foi tornada oficial, um mar de gente munido de ramos de flores começou uma peregrinação de seis dias até aos Palácios de Kensington e Buckingham para prestar homenagem à admirada Lady Di.
Até ao dia do funeral, a 6 de setembro de 1997, na Abadia de Westminster, o Reino Unido viveu seis dias com o silêncio da monarquia, que já na altura era vista como distante e fria.
A tristeza coletiva provocada pela morte de Diana forçou Isabel II a romper o silêncio para viajar da Escócia ao Palácio de Buckingham,e caminhar pela multidão para ver o mar de flores, um ato sem precedentes e que surpreendeu o país.
Forçada a responder diante de uma nação desolada, a monarca transmitiu ao vivo uma mensagem para manifestar, «como rainha e como avó», o seu profundo pesar pela morte de Diana de Gales.
Assim como no seu casamento, o seu funeral foi tratado como um espetáculo – 750 milhões de pessoas assistiram ao casamento de Diana e de Charles e 2,5 mil milhões assistiram ao cortejo fúnebre. Centenas de milhares de pessoas encheram as ruas de Londres para ver o caixão da a ser transportado para a Abadia de Westminster, onde políticos, celebridades e realeza se reuniram para o funeral. Elton John interpretou uma versão da sua música Candle in the Wind, e o irmão de Diana, Lord Spencer, aproveitou o momento para culpar os media pela morte da sua irmã. Diana foi enterrada em Althorp, na propriedade da sua família em Northamptonshire, Inglaterra.
Grande parte da admiração pela princesa resultou do empenho que dedicou à caridade e às causas humanitárias, em especial pelo grande envolvimento que demonstrou no combate ao HIV/SIDA e na Campanha Internacional pela Proibição de Minas Terrestres. Mas sobretudo pela forma como se relacionava com o povo.
Esta ligação de Diana foi um legado que ainda hoje é seguido pelos seus dois filhos. Ambos adotaram a abordagem mais próxima como a mãe, por oposição à figura distante que a rainha sempre demonstrou, prosseguindo a tarefa de humanizar a instituição real britânica.
À sua maneira, William e Harry têm usado a sua posição e experiência para quebrar tabus, falando abertamente sobre os seus problemas de saúde mental – relacionados com a perda da mãe enquanto eram muito novos – tal como, no seu tempo, Diana quebrou tabus ao abraçar doentes com SIDA para acabar com os receios sobre a doença.
A grande marca de Diana, contudo, é a ideia de que as celebridades e as figuras públicas podem usar essa ‘ligação’ com as massas como agentes de mudança. Engolida pela máquina real quanto tinha apenas 20 anos, Diana encontrou o seu propósito ao perceber que o público ficava fascinado com tudo o que fazia ou dizia.
Depois era ágil em manipular esse interesse público e usá-lo a seu favor, promovendo causas beneméritas, mas também puxando o povo para o seu lado, como quando o casamento com Charles colapsou, devido ao relacionamento do príncipe com Camilla Parker Bowles.
Durante o seu casamento de 15 anos com o príncipe Charles, herdeiro do trono britânico, Diana transformou-se numa das pessoas mais famosas e fotografadas do mundo. A sua história de vida serviu de inspiração para inúmeros livros, programas de televisão e filmes e a sua imagem apareceu em inúmeras capas de revistas, ao longo dos anos.
O fascínio com a sua vida pessoal e a perseguição pelos paparazzi foi ainda mais exacerbada após a sua separação de Charles em 1992. Com o surgimento das acusações de infidelidade de ambos os lados, o casal acabou por se divorciar oficialmente a 28 de agosto de 1996. Mesmo depois do divórcio, Diana continuou o trabalho humanitário que havia iniciado ainda como membro da família real.
Antes do acidente que lhe roubou a vida, ainda se encontrava no processo de definir a sua vivência pós-monarquia. Agora, Harry atravessa um processo semelhante após se ter afastado de seus deveres como membro da realeza em 2020. Aos 37 anos – um ano mais velho que Diana quando ela morreu – Harry disse que queria continuar o legado da mãe.
«Não tenho dúvidas de que a minha mãe ficaria incrivelmente orgulhosa de mim. Estou a viver a vida que ela queria viver para si mesma, a viver a vida que ela desejava que pudéssemos viver. Então, não só sei que ela está incrivelmente orgulhosa de mim, mas que ela me ajudou a chegar aqui – e eu nunca senti sua presença mais do que senti no último ano», declarou após a mudança para os Estados Unidos, onde agora reside com a mulher Meghan Markle e o filho Archie.