Operíodo que o Brasil viveu sob influência dos militares, de 64 a 85, continua presente no debate eleitoral deste ano. O Presidente, que tinha nove anos quando da Revolução, é chamado de saudosista. Mas os números da economia estão na memória popular, pois, na década 70 para 80, auge do regime, o crescimento médio da economia brasileira foi de 6% e, depois, uma única vez chegou à metade deste desempenho. A radicalização leva a uma tentativa de desacreditar os militares, o que pode ser, de fato, um fator desestabilizador do ambiente desejável. A repetitiva alegação, sem base real, de que o Presidente Bolsonaro poderia dar um golpe é maldosa e absolutamente improvável.
Caso o país mergulhe numa eventual convulsão social ou de desordem interna, os militares poderiam intervir, mas jamais para manter no cargo um dirigente em fim de mandato e que tenha perdido eleições. Grave foi a prisão e invasão em domicílios de oito empresários importantes pela divulgação de uma conversa em que cada um deu sua opinião pessoal sobre o momento que o pais vive e decisão pessoal de um membro da Suprema Corte. Nem na Rússia de Putin.
Um raciocínio mais realista poderia avançar na direção de que, eleito Lula, uma tentativa de alinhamento com os regimes bolivarianos possa provocar a intervenção militar cirúrgica. Mas, antes disso, a chance é igual a zero. E provavelmente, neste improvável caso, na linha legal de sucessão.
A essa altura, o eleitor de Lula, na verdade, é o presidente que continua a se colocar contra o bom senso, visivelmente descontrolado sob a pressão das sondagens e das críticas da mídia nacional. Mesmo assim, insiste em gerar atritos e vai se isolando. Os principais aliados entre os políticos já se manifestaram contrários às dúvidas suscitadas pelo Presidente em relação às urnas eletrónicas, usadas com sucesso em 11 eleições. O presidente parece não ouvir ninguém. Patina nos 30%. Já Lula fala cada vez menos, limita-se a tranquilizar os empresários quanto a suas intenções. Bolsonaro trabalha para ele.
VARIEDADES
• Candidato duas vezes a presidente da República, ministro muitos anos, o senador José Serra, de 81 anos, sem condições eleitorais de ser reeleito, é candidato à Câmara dos Deputados. E declarou ter cerca de pouco mais de 200 mil euros de património. A declaração não inclui a residência que mora em São Paulo, que estaria em nome de sua filha. Serra já responde por depósitos na Suíça.
• Morreu em Londres, onde residia, o industrial José Cutrale, de 75 anos, o maior produtor e exportador de suco de laranja do Brasil, que é campeão no setor. Cutrale havia muito era o maior fornecedor da Minute Maid e Simply Orange, marcas mundiais da Coca-Cola.
• O bicampeão de Fórmula 1 Emerson Fittipaldi tem a dupla cidadania e é candidato ao Senado italiano disputando uma das duas vagas que cabem aos italianos da América Latina. Fittipaldi é do partido Fratelli Itália.
• Bolsonaro conseguiu finalmente dobrar a Petrobras e a gasolina no Brasil está a um euro.
• Lula da Silva insinua que pode rever a independência do Banco Central. Já havia se manifestado contra o teto de gastos.
• Os juros no Brasil estão abaixo apenas da Turquia e Argentina. Mas Peru e Colômbia podem superar nas próximas semanas.
• Quanto ao anunciado desfile militar na Av. Atlântica, em Copacabana, o veto da Câmara e dos militares fez com que o Presidente cancelasse o tradicional desfile. Bolsonaro, então, está convocando para uma manifestação à tarde, sem desfile em Copacabana. O presidente anunciou a mudança sem falar com os militares e com a Câmara do Rio de Janeiro. Os militares, para não serem confundidos com a eleição, e a Câmara, pelo pavimento não comportar blindados, não concordaram. Só o que Lula representa pode salvar o Presidente na disputa de 2 de outubro.
• O ex-juiz Sergio Moro, que há quatro anos era o homem mais popular do Brasil, corre o risco de perder a eleição para o Senado. Abandonou 22 anos de carreira para ser ministro, acabou demitido antes de dois anos, cogitou ser candidato a presidente e agora tem eleição duvidosa e concorrendo com o senador Álvaro Dias, que foi seu padrinho na ida para a política.
• O aeroporto de Congonhas, em São Paulo, passa a gestão da AENA, empresa espanhola que detém, entre outros, o Adolfo Suarez, de Madrid.
• Esta semana a inauguração do maior edifício de São Paulo, de 50 andares. A torre vai ser residencial, comercial e um hotel, na região do Tatuapé, das mais populosas da cidade e visa fixar os moradores com opção de trabalho na região.
• Mais de trinta mil brasileiros retiraram seu domicílio fiscal do país este ano. Este número pode chegar aos cinquenta mil até dezembro, no caso de uma vitória de Lula da Silva.
Rio de Janeiro, agosto de 2022