Há pouco mais de três anos, a conceituada e experiente jornalista Fátima Campos Ferreira fez uma interessante entrevista à Dra. Manuela Eanes, por ocasião do seu octogésimo aniversário.
Dizia a jornalista em nota introdutória. «De certa forma, penso que todos temos a impressão de que a conhecemos desde sempre». Eu também me incluo nesse grupo. E igualmente subscrevo as palavras elogiosas de algumas personalidades – como, por exemplo, do nosso Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, com base na entrevista: «Olhando para trás e até aos tempos de hoje, há características que nunca se apartam da sua personalidade, da sua maneira de ser e de agir. O sentido de missão e, portanto, de serviço aos outros».
No mesmo contexto, Leonor Beleza considerou-a «ímpar figura familiar, de dedicação a causas e de presença constante na vida coletiva…».
Contudo, foi a partir do momento em que lancei o meu livro Vida Plena, em setembro passado – cujo prefácio me deu a honra de escrever –, que passei a conhecer efetivamente esta grande senhora, que faz parte da história deste país.
Para mim, ela constitui «a referência». De facto, a sua vida tem sido pautada por uma autêntica missão de serviço aos outros, defendendo causas que vão ao encontro dos mais necessitados. O Instituto de Apoio à Criança, que ajudou a criar em 1983, é apenas um exemplo. Esta obra, pela função que desempenha a favor das crianças mais carenciadas, deve merecer da nossa parte o maior respeito, carinho e admiração. É preciso olhar com outros olhos para as crianças – que são os adultos de amanhã –, na formação das quais temos uma responsabilidade inalienável. Nos dias de hoje elas estão cada vez mais expostas às intempéries da própria vida e acabam infelizmente muitas vezes por pagar o preço das convulsões impiedosas desta sociedade, onde os valores se vão perdendo.
No prefácio que escreveu em Vida Plena, Manuela Eanes faz referência a D. Helder Câmara, dizendo que «é graça divina começar bem, graça maior persistir na caminhada certa, mas graça das graças é não desistir nunca». Por aquilo que tenho visto, aquele pensamento assenta na perfeição à Dra. Manuela. Ao longo da vida nunca virou costas às dificuldades que foi encontrando nas mais variadas missões a que se tem dedicado, empenhando-se a fundo na resolução dos problemas dos outros, qualidade que me fascina. Dizia-me há poucos dias: «Quando tenho vinte assuntos para resolver e só consigo chegar a dez, fico preocupada por não ter conseguido satisfazer os outros dez e tenho sempre a sensação de que fiz pouco».
A todas as suas virtudes, Manuela Eanes acrescenta mais esta: é uma pessoa muito simples, transparente, acolhedora e solidária.
Sabemos que é mulher do ex-Presidente da República general Ramalho Eanes e que desempenhou brilhantemente o papel de primeira-dama. Ao lado de um grande homem está sempre uma grande mulher – e tudo isto se confirmou durante os dez anos que Manuela Eanes passou em Belém. O que mais me surpreende, contudo, é que, tanto tempo depois, continua com preocupações sociais e a lutar pelos valores em que acredita. Um verdadeiro exemplo nos nossos dias, onde as pessoas após a reforma desistem de fazer qualquer coisa pela sociedade ou a favor dos outros, por mais pequena que seja.
Foi para mim uma agradável surpresa ter descoberto este mundo fascinante de solidariedade onde vive Manuela Eanes. Revejo-me nos valores que defende e comungamos dos mesmos ideais de vida. Ambos damos valor à prevenção em todas as áreas e queremos acreditar com esperança num mundo melhor e mais justo.
Parece que ainda estou a ouvi-la dizer-me recentemente ao telefone: «Luís, não desista de escrever. Aquilo que diz é muito importante para ajudar os outros». Por aqui se vê que o seu apurado sentido de missão e de serviço aos outros está sempre presente em todos os momentos da sua vida.
Admiro-a muito, Dra. Manuela! A sociedade precisa de pessoas com a sua estatura moral. Não só como médico, mas essencialmente como cidadão, manifesto-lhe o meu apreço e a mais profunda gratidão pelo seu Trabalho, pela sua obra e pelo testemunho que nos deixa. A História nunca a esquecerá.
Nota – Os direitos de autor de Vida Plena revertem na totalidade para o Instituto de Apoio à Criança.