Não consigo não ser solidária. A verdade é essa e entrou na minha vida como forma de ser vida. Dando vida. Desde a invasão das forças russas sobre a Ucrânia que vejo o mundo ter uma fome inacreditável de ajudar o outro. No entanto, o outro, os outros, os 22 milhões de outros, encontram-se em África. A nossa localização geográfica, permite-nos ser os europeus, lá longe, da diarreia que mata diariamente, da malária, da seca, da fome. Do inferno que esta guerra destapou, mas que já existia e piorou. Eu acho que a minha sorte, foi nunca ter visitado a Etiópia, a Somália ou o Sudão do Sul, nem nenhum desses países. Com certeza, estão todos lembrados, da fotografia do pequena rapariga subnutrida, que esperava pela morte enquanto um abutre aguardava que ela sucumbisse ali, no meio do nada. Essa fotografia foi tirada por Kevin Carter, no dia 11 de março de 1993. Carter para expor de forma agressiva a fome no Sudão, tirou essa fotografia mas não agiu, ganhou o Pulitzer. O debate gerado e a opinião pública foi tão feroz sobre se Kevin devia ter agido, se devia ter feito mais, que acabou por cometer suicídio com 33 anos de idade. Quantos de nós, não seríamos como Kevin? Mas na verdade ele chamou a atenção para a fome no Sudão do Sul. A pergunta que faço é: estamos a olhar para o mundo da mesma maneira? Não. Não estamos. Fiquei emaranhada nesta campanha da Unicef, como fico em todos os casos, campanhas ou petições a que me disponibilizo. No entanto eu não estou na Etiópia, na Somália ou no Sudão do Sul. «De acordo com os últimos dados da OMS [Organização Mundial de Saúde], já morrem mais crianças em consequência de água e saneamento inseguros no Sahel do que em qualquer outra parte do mundo», lê-se no comunicado.
A nota salienta ainda que mais de 2,8 milhões de crianças nas duas regiões – Corno de África e Sahel –, «já sofrem de subnutrição aguda grave, o que significa que correm até 11 vezes mais risco de morte por doenças transmitidas pela água, do que as crianças bem nutridas».
A UNICEF salienta que dispõe apenas de 3% do financiamento necessário para prosseguir «assistência vital e serviços multissetoriais resilientes às crianças e às suas famílias que precisam urgentemente de ajuda em todo o Corno de África e no Sahel.
«Deste montante, a verba destinada à assistência em matéria de água, saneamento e resiliência climática é muito reduzida. O apelo para a resposta às necessidades das crianças e famílias vulneráveis em matéria de água, saneamento, e programas de higiene na região do Sahel central está financiado em apenas 22%», frisa a organização.
Apenas, assisto a milhares de quilómetros de distância ao que corajosos Kevin’s e tantos ativistas de terreno e fotojornalistas me trazem: seca e fome. Seca e fome. Sejamos mais. Melhores. Façamos algo.