Se dúvidas existissem, foram todas dissipadas com o consistório que decorre em Roma, onde o Papa se reúne com altos dignitários da Igreja (cardeais) para analisar e decidir os assuntos mais importantes. Se o Papa quisesse escolher um novo cardeal e aceitar o pedido de renúncia de D. Manuel Clemente já o teria feito.
O próprio cardeal-patriarca de Lisboa, que regressou de férias, assume que vai continuar a sua missão numa ‘Carta aos diocesanos de Lisboa no início do ano pastoral 2022-2023’. «Iniciamos o ano pastoral 2022-2023 com o horizonte cada vez mais próximo e definido da Jornada Mundial da Juventude, que se realizará entre nós na primeira semana de agosto de 2023.
Com o Papa Francisco, queremos que ela seja para grande número de jovens de todo o mundo uma ocasião por excelência de renovar a esperança e reforçar a solidariedade, após tempos difíceis de pandemia, guerras e dificuldades de subsistência em geral. Certamente que nada se resolverá num ápice, mas ainda mais certo é o facto tão comprovado destas Jornadas, em torno de Cristo e do Evangelho, animarem a muitos no caminho do bem e da paz. – Assim acontecerá de novo!».
Fonte próxima do cardeal-patriarca diz que D. Manuel Clemente está rejuvenescido, depois de ter feito uma introspeção, e determinado a seguir as diretivas do Papa, de tolerância zero e transparência máxima. «A Igreja de Lisboa está totalmente com Francisco, e D. Manuel Clemente ficou contente com a compreensão demonstrada pelo representante máximo da Igreja, no encontro que tiveram os dois», disse a mesma fonte. Já o cardeal-patriarca não deixou de falar no tema na sua carta aos diocesanos de Lisboa.
«Não posso deixar de aludir às notícias de abusos sexuais que foram aparecendo entretanto. Já tive ocasião de explicar o que se fez e continuará a fazer na diocese, para corrigir e prevenir tais casos (cf. “Carta Aberta” de 29 de julho, disponível no “site” do Patriarcado de Lisboa). Podem reler o que então escrevi e tive ocasião de comunicar pessoalmente ao Papa Francisco, na audiência de 5 de agosto, gentilmente concedida. Retomo o que disse na última Missa Crismal, dirigindo um pedido de perdão institucional e convicto a quem foi vitimado e garantindo tudo fazer para que tais casos não se repitam, ou tenham tratamento eficaz entre nós, seguindo as determinações civis e canónicas, como aliás temos feito também no âmbito da Comissão Diocesana de Proteção de Menores, a trabalhar desde 2019. É o nosso indispensável contributo para a resolução dum problema que surge na sociedade em geral. No campo institucional, é inegável que a Igreja Católica em Portugal está na primeira linha da resposta a tão grave questão. E não poderia ser doutro modo».
«Está muito energético, quer a purificação da Igreja e promete grande proximidade às vítimas. No retiro que fez, pensou muito sobre o que se passou e como resolver os problemas da Igreja. Temos o escuteiro de volta», diz ainda a mesma fonte.
D. Manuel Clemente acredita que a Jornada Mundial da Juventude é muito importante para a Igreja e para o país. «Ainda sobre a Jornada e a sua preparação, permito-me insistir na primeira condição do seu êxito. Refiro-me à oração. A oração com que Jesus sempre iniciava e marcava a sua ação, pois tudo fazia ‘a partir do Pai’. Com Jesus e com Maria, constante ‘Serva do Senhor’, teremos de garantir em Deus tudo o que pudermos realizar. Peço encarecidamente para que em todas as comunidades se reze sempre e muito pela JMJ e os seus frutos, que hão de ser de santidade, acima de tudo. Sei que as comunidades de vida contemplativa da nossa diocese já o fazem com especial aplicação. Façamo-lo nós todos também, pessoal, familiarmente e em grupo». E foi mais longe ainda, mostrando a sintonia com o Papa.
«De um modo geral, sobressaem os apelos ao reconhecimento da qualidade batismal de todos os fiéis e da respetiva capacitação para a vida da Igreja, na variedade dos carismas e dos ministérios, laicais ou ordenados, todos eles respeitados e valorizados. Também isto requer mais vitalidade e prática nas instâncias de participação comunitária, que não são apenas canónicas e administrativas, mas modo autêntico de crescer em comunhão – outro nome da santidade. A instituição prevista nos ministérios de catequista, leitor e acólito, com o conteúdo que o Santo Padre recentemente lhes deu, para leigos e leigas, também irá nesse sentido».
D. Manuel despediu-se com um «convosco, sempre grato e ao dispor».