Britânicos céticos quanto ao futuro Governo

Tanto Truss como Sunak são impopulares entre a vasta maioria dos britânicos. Os conservadores terão de lidar com o fosso entre o seu líder e o eleitorado.

O Reino Unido terá um novo primeiro-ministro visto como incapaz pela vasta maioria dos britânicos, quer os conservadores optem por Liz Truss ou Rishi Sunak nas suas eleições internas, mostram as sondagens. O vencedor será conhecido, mas a clara favorita é a ministra dos Negócios Estrangeiros, que subitamente subiu à ribalta herdando grande parte dos apoios políticos de Boris Johnson. No entanto, parece que quanto mais os britânicos vêm de Truss, menos gostam dela. Esta ministra, que começou a corrida somente como a 10.ª figura conservadora mais conhecida, passou de ser considerada competente por 55% dos eleitores conservadores, no início de agosto, para apenas 35%, segundo sondagens do Opinium para o Observer. E até Johnson, que terá ajudado a campanha de Truss nos bastidores, tem escrito a imprensa britânica, deu-se ao luxo de criticar publicamente algumas das políticas, durante a sua despedida, incluindo a promessa de apostar ainda mais em combustíveis fósseis.

Entre o eleitorado no geral, a impopularidade de Truss ainda é mais profunda. Somente dos 12% britânicos consideram que será uma boa primeira-ministra, segundo o YouGov, 17% acham que será fraca e 35% anteveem que seja terrível. Mas tudo indica que terão de aprender a viver com isso, dado que não são os britânicos a eleger o próximo chefe do Governo, mas sim os 160 mil militantes do Partido Conservador. E mesmo estes têm a sua escolha limitada, não tendo podido sequer votar na sua candidata favorita, a secretária de Estado do comércio, Penny Mordaunt, que foi eliminada pelos deputados conservadores na primeira ronda de votação, sobrando apenas Sunak e Truss.

Talvez a grande vantagem que Truss tem seja não ser Sunak. O antigo ministro das Finanças é visto por muitos conservadores como tendo dado uma facada nas costas de Johnson, por a sua demissão ter despoletado a rápida queda do primeiro-ministro. E Johnson, apesar de ser apreciado por somente 30% dos britânicos, segundo o YouGov, continua a ser muito popular entre militantes conservadores. 63% dos quais prefeririam que este se mantivesse primeiro-ministro em vez de Truss, chegando aos 68% quando comparado com Sunak, segundo uma sondagem Opinium.

Com o Reino Unido sob a liderança de Truss, a promessa é de apostar em cortes fiscais para enfrentar o aumento do custo de vida, recorrendo a empréstimos para compensar a perda de receitas. Contudo, alguns das medidas já propostas pela ministra dos Negócios Estrangeiros têm sido consideradas insuficientes pelos seus críticos, ou como não tendo grande impacto nos agregados familiares numa situação mais desesperada. Como é o caso da prometida diminuição do IVA, tendo em conta que no Reino Unido os produtos essenciais como comida e alimentos têm IVA mínimo ou até nenhum. 

Já no que toca ao brutal aumento do custo da energia, estando planeado que em breve o Governo britânico levante os seus limites nos preços, Truss prometeu “ação imediata quanto às contas de eletricidade e ao abastecimento de energia”, numa entrevista ao Sunday Telegraph, sem especificar. Contudo, o público britânico não está muito convencido, dado que 65% não confiam na favorita à liderança dos conservadores para enfrentar o aumento do custo de vida, segundo o YouGov.