Diz-se por aí que a águia tem os bofes de fora

Hoje, pelas 20h00, o Benfica dá o primeiro passo na fase de grupos da Liga dos Campeões. O adversário não podia ser mais simpático – mesmo para uma equipa em nítida queda.

Dificilmente os adeptos do Benfica poderiam ter uma noite como a de hoje, na Luz, para a primeira jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões. O Maccabi Haifa entra na competição à espera que qualquer coisa lhe caia dos céus aos trambolhões, vá lá saber-se o quê. Ponhamos as coisas nos seus lugares. Se virmos este jogo pelo prisma dos israelitas, não restarão grandes dúvidas que eles o olham como aquele no qual (jogando fora) pode ganhar uns pontos e treparem, dessa forma, na lista de favoritos até ao terceiro posto, o que dá acesso a tombar para a Liga Europa. Será isto utópico? Megalómano? Não me parece. De todo. A partir do resultado do sorteio, duas equipas puseram-se logo à cabeça da procissão que só agora sai do adro no Grupo H: Paris Saint-Germain e Juventus. Não apenas por causa da qualidade dos seus plantéis como também pela capacidade financeira que lhes irá permitir voltar a atacar no mercado do Natal. Agradável no futebol, e até agradável a escrever sobre futebol, é essa famosa gloriosa incerteza do desporto. José Torres soltou uma frase para a história do jogo inventado pelos ingleses: “Deixemme sonhar!” Deixaram e nem se saiu mal de todo, como se recordam. E, posto isto, para mim não sobram motivos para que o Maccabi sonhe com repescagem para a Liga Europa, tal como os benfiquistas sonharão com uma passagem às eliminatórias. Tudo a bater certo, para já. O quadrado da hipotenusa continua a a ser igual à soma do quadrado dos catetos. Parabéns ao velho Pitágoras que acertou na mouche. Mas não é de teoremas nem de triângulos rectângulos que viemos para aqui arengar pelo que nada como voltar à vaca fria, ou aos kebbabs, que calha aqui mais a propósito.

 

Benfica preocupante

Num jogo destes, a tentação é de, na véspera, repetir o que aqui já deixei escrito aquando das pré-eliminatórias com Midjytilland e Dínamo de Kiev – por via da sua superioridade em diversas vertentes, desde a qualidade dos jogadores e treinadores, ao ambiente popular e à experiência, o Bnfica tem de preocupar-se sobretudo consigo próprio porque, assim sendo, poderá mostrar sobre o relvado a sua verdadeira categoria e expressá-la num resultado que, mais do que a importância desportiva e financeira, reflectir-seá na consolidação da equipa e do estilo que Schmidt pretende. Aqui chegados, não há forma não de entregar ao Benfica, de mão beijada, o favoritismo no jogo de hoje. Uma vitória do Maaccabi entraria directamente para a prateleira das grandes surpresas da Liga dos Campeões.

Barak Bakhar, o treinador dos verdes de Haifa, essa cidade portuária construída na base do Monte Carmelo, onde Elias mandou entornar fogo do céu, não pode ter deixado de sorrir perante a paupérrima exibição dos encarnados na última sexta-feira. Falta arrepiante de imaginação e criatividade – com excepção de uma boa meia-hora de Neres – um empastelamento de toques e retoques na proximidade da grande-área do Vizela, a habitual e desesperante lentidão de todos os quatro defesas que, a partir do momento que a bola entra no espaço aberto entre eles e Vlachodimos se encorpora praticamente em golo, como se viu quando Otamendi parecia parado ao lado da lebre Osmajic, que à primeira vista não tem nome de roedor mas foi capaz de fazer uma luras valentes com a sua rapidez com bola sob controlo. Os problemas do Benfica já foram aqui dissecados como uma rã de barriga aberta no pavilhão das aulas de fisico-química. Difícil é que não entrem pelos olhos dentro de quem observa os jogos da equipa da águia.

Lentidão é, decidamente uma delas. E alastrada a todo o onze, desde a baliza ao ponta de lança, ficando dois ou três fora da equação mas que, por outro lado, se vejam obrigados a fazer piscinas de trás para a frente, como é o caso claríssimo de Rafa. Hoje é também um dia fundamental para o treinador Roger Schmidt. Não que o seu lugar esteja em risco, seja o resultado qual for, mas porque começa a deparar-se com sintomas de cansaço em jogadores importantes, algo que me encanita particularmente já que, francamente, ainda só se jogaram nove partidas e a época está para lavar e durar. Assunto que começa a levantar a questão da qualidade dos preparadores que pululam pelo futebol português – afinal os nossos jogadores só duram até ao Natal? Pelo menos os que jogam no City ou no Liverpool têm pilhas bem mais duradouras. Vai ser também no campo físico que o encontro de hoje, na Luz, assentará. Veremos se a águia está mesmo com os bofes de fora para aguentar um opositor de bem maior envergadura (globalmente), ou se as notícias sobre as suas fraquezas (Paços de Ferreira e Vizela) são mais do autênticas e, sim, um facto indesmentível.