Sempre nutriu interesse pela Fisioterapia?
Ao contrário de outras profissões, não me parece que a grande maioria das pessoas que decide ser Fisioterapeuta tem exatamente a noção do papel que esta classe tem. Muito menos, na área em que dedico a minha carreira profissional. Mas apaixonei-me cedo pela área das condições cardiorrespiratórias, e nunca a deixei.
Quando chegou a hora de se candidatar ao Ensino Superior, sabia que essa seria a área que escolheria? Ou indicou outros cursos nas primeiras opções?
Eu tinha a noção que me interessava algo na área da Saúde, e Fisioterapia era muito apelativa. À altura, não sabia muito bem porquê. Hoje, não me via a fazer outra coisa, dentro das várias dimensões do 'ser Fisioterapeuta', do contexto clínico, à docência e investigação.
A sua primeira experiência profissional foi no Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental?
Não, antes tive algumas experiências em contexto desportivo, quer em Castelo Branco, quer em Lisboa. Mas o meu objetivo sempre foi trabalhar em ambiente hospitalar, em particular em contexto agudo e crítico. Comecei por trabalhar alguns anos em Pediatria, como na Urgência Pediátrica e Cuidados Intensivos Neonatais, e há cerca de 10 anos que me dedico à pessoa em condição urgente e crítica. Trabalhei alguns anos no serviço de urgência do Hospital S. Francisco Xavier e em todas as UCI dos dois hospitais, estando há 6 anos na UCIP do Hospital Egas Moniz, onde me sinto belissimamente. A equipa multidisciplinar é notável. A equipa médica, de enfermagem, assistentes operacionais, técnicos que nos apoiam, são incríveis, e é um orgulho enorme pertencer a este grupo de profissionais.
Como é que tem sido trabalhar no Hospital de Egas Moniz e no Hospital de São Francisco Xavier? Nota diferença entre estas instituições e o Hospital da Luz, que integra o setor privado? Se sim, em que pontos?
Sempre senti um pouco como uma segunda casa, quer o Hospital S. Francisco Xavier, quer o Hospital Egas Moniz. Considero, sinceramente, que ambos os hospitais têm aspetos muito positivos, em todas as realidades em que desenvolvi atividades. Guardo com muito carinho todas as aprendizagens que fui fazendo ao longo dos últimos 15 anos. A experiência do Hospital da Luz foi exclusivamente em Pediatria, e também foi muito positiva. O paradigma é um pouco diferente, mas como tudo, terá os seus pontos mais positivos e outros menos. Pessoalmente, sinto-me muito realizado no setor Público, a nível profissional. A valorização dos Fisioterapeutas parece-me ter as mesmas limitações dos outros profissionais de saúde, com uma dissociação que nem sempre me parece justa entre responsabilidade, nível de diferenciação e recompensação financeira.
É também pós-graduado em Fisioterapia Respiratória, tem uma especialização em Ventilação Mecânica no Doente Crítico Agudo e participou no Programa Doutoral em Atividade Física e Saúde. Acredita que aprender progressivamente e ir atualizando os conhecimentos é essencial em todas as áreas mas, acima de tudo, na da saúde?
Aprender é vital. Evoluir constantemente é a única forma de abordar a realidade, sendo profissional de Saúde, em particular pelo seu grau de responsabilidade. Não é válido não acompanhar as atualizações e investir na diferenciação na prestação de cuidados, em particular no contexto agudo e crítico, a meu ver. Em nenhuma altura deixei de receber e investir em formação, apesar de, nos últimos 10 anos, equilibrar muito a formação que recebo com a que forneço. Mas ouso utilizar o cliché de que ensinar é uma experiência de aprendizagem única. Não sei, sinceramente, onde aprendo mais: a leccionar, ou a receber formação. Mas faz-me muito feliz a possibilidade de realizar ambos.
Para além de nutrir uma paixão pela aprendizagem, parece nutrir outra pelo ensino. Como é que tem sido lecionar na Escola Superior de Saúde de Alcoitão e na CESPU – Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário?
A ESS Alcoitão tem sido a 'minha' escola, a que 'visto a camisola'. Há sensivelmente 10 anos que tenho tido a possibilidade de ser professor convidado nesta, que foi a primeira escola de Fisioterapia em Portugal, e é um baluarte de excelência na Fisioterapia nacional, desde a formação base à formação pós-graduada. Ao longo do tempo tenho investido muito, na prática e em formação, no contexto crítico, razão pela qual tenho sido convidado para ser professor assistente de outras entidades de ensino superior, como a CESPU, a ESS Porto ou a ESS Santa Maria, nas suas ofertas formativas pós-graduadas na área das condições cardiorrespiratórias e críticas. E é algo que faz sentir completamente realizado, a possibilidade de contribuir para a formação de pessoas, contribuindo para a diferenciação da sua prática. Em última instância, otimizando a prestação de cuidados e a Saúde de tod@s @s que elas recorrem. É uma pirâmide positiva que me entusiasma, para ser concreto, no que me parece ser a vocação dos Profissionais de Saúde, seja de que classe forem: otimizar a Saúde.
Os conhecimentos técnicos e práticos são essenciais no Ensino Superior, mas há outros ensinamentos que goste de transmitir aos seus estudantes? Por exemplo, a sua experiência pessoal, as características de um bom fisioterapeuta, a forma como devem agir perante os doentes que acompanham, etc.?
Parece-me que a excelência em ser Fisioterapeuta está exactamente na triangulação do que refere que, na realidade, é a base da Prática Baseada na Evidência: a solidez do conhecimento teórico e o rigor de um raciocínio clínico diferenciado; aliados a experiência clínica reflexiva relevante, sempre tendo em conta a pessoa que acompanhamos no processo quer de reabilitação, quer de promoção de Saúde. Este último tem sido descrito como Prática Centrada na Pessoa, que é um alicerce da Saúde para o qual os Fisioterapeutas têm um papel importante, nomeadamente no contributo para a Literacia em Saúde.
Até hoje, qual foi a maior lição que os seus alunos lhe ofereceram?
Os meus alunos são incríveis. Digo, repito e reitero que aprendo tanto com os meus alunos (e formandos, das várias formações contínuas que direciono ou em que colaboro) como (espero que) vice-versa. E a experiência de dar aulas a pessoas desde os 18 aos 60 anos é incrivelmente rica em tantas dimensões. Ensinam-me, por exemplo, que o desafio não é forçar aprendizagem. O desafio é conseguir passar a paixão pelos temas que palestro, e inflamá-los com o entusiasmo. Ninguém aprende, com prazer, nada que não o entusiasme. E é muito interessante também voltar à base com profissionais mais experientes, e (re)pavimentar o chão da pirâmide que foram construindo, para que se possa erguer mais alto ainda.
O que o levou a criar a página de Instagram @fisiointensivamente, no Instagram, há três anos?
Creio que a ausência de um espaço, em Portugal, de partilha sobre Fisioterapia em Cuidados Intensivos, que pudesse ser um ponto de discussão e atualização sobre temas neste contexto. @fisiointensivamente foi evoluindo, e hoje tenho a possibilidade de abordar todos os temas que me apaixonam, da Ventilação Mecânica Invasiva e Não-Invasiva, ao papel fundamental e insubstituível dos Fisioterapeutas como os profissionais não-médicos mais presentes em todo o mundo nos protocolos de Reabilitação Cardíaca e Respiratória, até à prescrição e implementação de Exercício e Atividade Física em contexto clínico e promoção de Saúde. Foi com o objetivo de partilha que esta página foi iniciada, dentro de uma área que não é, de todo, a mais visível dentro da Fisioterapia. Normalmente, somos muito mais associados ao contexto desportivo ou neurológico. Podíamos ser mais Fisioterapeutas Respiratórios, mas a evolução nesta área tem sido muito positiva, nos últimos anos. A pandemia COVID-19 também veio demonstrar a importância inequívoca do nosso papel desde os Cuidados Intensivos, até aos processos de reabilitação da Condição Pós-COVID19.
Já tinha tido outros projetos de divulgação de conhecimento online? Se sim, quais? Se não, já tinha tido vontade de os criar anteriormente?
Não, partilhava algumas coisas nas minhas redes pessoais, mas nada sistemático. Partilhava, e continuo a partilhar, muita literatura científica e conhecimento por vias não públicas, presencialmente ou virtualmente.
Atualmente, tem mais de 7000 seguidores. Quando decidiu avançar com esta ideia, imaginou que a mesma atingisse estas proporções?
Não! De todo, principalmente porque, como dizia, não somos muitos os Fisioterapeutas apaixonados e com prática neste contexto, em Portugal. Noutros países somos muito mais. Portugal ainda tem algumas limitações que precisa decisivamente de ver colmatadas. De acordo com a evidência científica, por exemplo, a presença da Fisioterapia diminui o número de dias em Cuidados Intensivos e sob Ventilação Mecânica, e melhor significativamente o nível funcional das pessoas hospitalizadas. Ainda assim, em Portugal, ainda há serviços de Cuidados Intensivos que não têm acesso a Fisioterapia. É uma clara perda de benefícios em Saúde e compromisso nos resultados que, todos, temos de colmatar. Não há substitutos possíveis, com validade e critério, para Fisioterapeutas, Terapeutas da Fala, Terapeutas Ocupacionais, Psicólogos…. mas, no entanto, em Portugal, as pessoas não têm, muitas vezes, acesso a eles. E não é por falta de profissionais, mas sim, muitas vezes, pelas barreiras impostas, burocráticas e de outros moldes, ao acesso à intervenção destes profissionais de Saúde. Daí incentivarmos as pessoas a exigir a identificação inequívoca, inclusivamente com número de cédula profissional, sempre que recorrem a cuidados de Saúde.
Nas redes sociais, habitualmente, confrontamo-nos com o melhor e o pior dos seres humanos. Quais foram a pior e a melhor experiência que teve até hoje?
Maravilhosas, todos os dias. Recebo dezenas de mensagens de agradecimento, quer por mensagem direta mas muitas vezes também presencialmente. Suporto com evidência aspetos que são muitas vezes controversos, e vão contra alguns status quo baseados muito pouco em ciência ou prática reflexiva, por isso algumas vezes recebo algumas mensagens desagradáveis. Não vale a pena gastar muita energia com elas, a energia de cada pessoa é limitada e devemos investi-la em construção, em contribuir para um mundo mais saudável e feliz.
Quando analisamos as suas mais de 300 publicações, entendemos que foram adquirindo um design cada vez mais trabalhado e sofisticado, tornando-se apelativos até para quem não trabalha em Fisioterapia. Como é que este processo tem acontecido?
Na realidade, apesar do público alvo de @fisiointensivamente ser primariamente profissionais de saúde, nomeadamente Fisioterapeutas, o que acontece é que estes temas são de interesse para toda a população. O contributo de literacia em Saúde que devemos ter, como Fisioterapeutas, e em que tenho investido, nomeadamente a nível da Atividade Física, Exercício, limitação do comportamento sedentário especialmente em contexto clínico, creio que despoletou interesse de uma população muito mais abrangente. Dessa forma, também a comunicação e a oferta dos conteúdos tiveram de ser adaptados. A tradução de conhecimento e informação cientificamente válida e relevante nem sempre é fácil, e a comunicação deve ser alvo de reflexão e crítica. Principalmente, pela responsabilidade do que, como profissional de Saúde, defendo ou partilho. Mas tem sido um processo relativamente natural, não houve nenhum ponto de viragem brusco. Creio que é a vida a acontecer, como em todas as dimensões em que o faz.
Para além de profissional de saúde e professor universitário, é também formador em Fisioterapia Respiratória, Ventilação Mecânica Invasiva e Não-Invasiva, Estratégias de Remoção de Secreções Brônquicas, Reabilitação Respiratória e Cardiovascular, Prescrição de Exercício em Contexto Clínico e Ecografia Torácica e Muscular. Como é que têm corrido as suas formações?
Muito bem. Como referi antes, é imensamente realizador a possibilidade de partilhar conhecimento que nos apaixona. Todos esses temas são parte do que me apaixona, e sobre os quais invisto a maior parte do tempo da minha vida, quer na prática, quer em estudo. Nos últimos 10 anos tive a sorte de poder contribuir, em formações, palestras, conferências e seminários, para milhares de Fisioterapeutas e outros profissionais de Saúde. Quem não se sentiria realizado com esta possibilidade? Mas obviamente, e como digo muitas vezes, não podemos esquecer o #ABC – 'Always Be Critical'. Penso que o crescimento profissional saudável é acompanhado de humildade, pela enormidade de conhecimento a que nunca teremos acesso. Por vezes, isso é pesado. Daí a importância fundamental das equipas e dos pares – ninguém chega a nenhum lado, sólido, sozinho. Ao longo dos anos, sempre me senti profundamente abençoado pelas pessoas com quem tive a sorte de aprender.
Exerce também atividade enquanto Investigador no CIDEFES – Centro de Investigação em Desporto, Educação Física, Exercício e Saúde da Universidade Lusófona. Como é que organiza os seus dias de modo a ser capaz de cumprir todas as tarefas às quais se propõe?
Nem sempre de forma fácil. Creio que o grande desafio está em encontrar um equilíbrio, que é diferente para cada um, entre ligar e desligar. Na geração passada, era tendencialmente valorizada a dedicação e resiliência profissional; hoje, é muitas vezes apontada como profundamente negativa. Referi há pouco a prática centrada na pessoa, e aqui não é diferente: o que torna cada um completo e feliz depende da sua individualidade. Eu sinto-me muito realizado com o ritmo de trabalho que tenho, que me parece ser elevado. Pessoalmente, creio que o burnout, como o Sandman, está associado especialmente à dissonância trabalho – realização e valorização, mais que ao seu volume. No entanto, creio que a aprendizagem dos tempos certos de pausa, com o tempo necessário para que a energia não esgote, são um ponto de sucesso. De forma individual. Sem dedos apontados.
Relega para segundo plano a sua vida pessoal, tendo em conta que está envolvido em inúmeras atividades, ou consegue manter um equilíbrio entre este campo e o profissional?
Relego para segundo plano a minha vida pessoal relativamente à sua partilha. Sou muito feliz a produzir e a partilhar conhecimento, e fardado; e muito feliz a fazer muitas outras coisas que fazem parte da minha identidade pessoal. Enquanto as primeiras são relevantes para partilha pública; as últimas não, ou numa medida muito, muito mais pequena.
Enquanto fisioterapeuta que trabalha com doentes críticos, em Unidades de Cuidados Intensivos, o surgimento da pandemia de covid-19 tem sido o maior desafio da sua carreira profissional?
Creio que sim. Desde há 3 anos que o desafio profissional dentro e fora da UCI foi significativo. A aprendizagem, partilha, desafios diários, exigência de atualização, foi exaustiva não só para mim, mas para todos os Profissionais de Saúde. Pessoalmente, creio que não somos heróis, é o nosso papel e já o fazíamos antes com o mesmo entusiasmo. Mas sinto que, especialmente em Portugal, os profissionais de Saúde são francamente competentes, resilientes e dedicados. Por vezes, essa valorização por parte institucional e civil surge. Por vezes, menos.
Quais foram os casos que mais o marcaram desde março de 2020? E porquê?
Creio que todos os que recebemos na fase inicial, em Março/Abril. A apresentação clínica era relativamente nova, e prestar cuidados continuamente com equipamento de proteção individual, inicialmente, não foi fácil. Situações-limite, por vezes, trazem o melhor das pessoas. Recordo-me de uma pessoa mais velha em UCI, intubada e ventilada que, a dada altura, me escreveu numa folha que, se fosse preciso, daria o seu ventilador a alguém mais jovem. Obviamente, essa possibilidade nem se punha, mas o sentimento de honra e generosidade surge em momentos particulares. Alguns casos que foram partilhados em comunicação social também foram marcantes, pela possibilidade de ouvir a experiência que vivemos por outro ângulo, fenomenologicamente. E, no global, a generosidade das pessoas que passaram por nós foi inspiradora. Creio que todos sentimos isso. A todos os níveis.
Que consequências sente que a pandemia tem tido, aos níveis físico e psicológico, nos fisioterapeutas? E, em especial, no seu caso?
O óbvio: o cansaço e a exaustão. O burnout existe, e apesar do que referi anteriormente, o volume tem peso. Os Fisioterapeutas estiveram sempre na linha da frente e acompanharam todo o processo. No início da pandemia, criámos uma formação online com alguns dos mais destacados Fisioterapeutas nacionais, que foi oferecida a todos os colegas que potencialmente estariam a prestar cuidados de saúde neste contexto, e, em retrospectivo, recordo-o como um momento especialmente desafiante. Foi muito difícil produzir conteúdos com base na evidência que existia na altura, com a análise crítica devida, sobre algo sobre o qual não existia experiência. Não podemos também menosprezar o impacto em todos aqueles cuja homeostasia de vida foi abalada. O ritmo profissional, de atividade física, contextualização sociofamiliar, evoluiu, e ainda não parou de evoluir.
Acredita que a classe profissional em que se insere é devidamente reconhecida em Portugal? O que é que mais nos distingue dos outros países nesse aspecto?
Infelizmente, ainda caminhamos para uma valorização da Fisioterapia Respiratória e Intensivista adequada e de acordo com o que, cientificamente, sabemos que se traduz em melhores resultados.
O Governo, nomeadamente o Ministério da Saúde, presta atenção aos fisioterapeutas?
Vou falar apenas sobre a área em que desenvolvo a minha atividade profissional. O Ministério da Saúde, durante a pandemia, e de acordo com as recomendações internacionais e melhor evidência disponível, definiu em parecer oficial que os Fisioterapeutas deverão estar associados diretamente às unidades de Cuidados Intensivos, 24 horas por dia, e num rácio de 1:6 pessoas. Infelizmente, não é ainda uma realidade, apesar do benefício claro que será, assim que for instituído. Espero que Portugal evolua nesta dimensão nos próximos anos. Pela Saúde de todos.
Que medidas governamentais deveriam ser tomadas para que esta profissão fosse mais respeitada?
Creio que as medidas estão escritas. A recente Ordem dos Fisioterapeutas, por exemplo, é potencialmente de um grande valor para o cidadão relativamente à regulação da prática profissional da Fisioterapia. Vivemos tempos de mudança, esperemos que exista a inspiração para que seja positiva, no sentido de uma Fisioterapia válida, credível e suportada por alicerces sólidos; e que se afaste categoricamente de práticas anedóticas.
Considera que a vossa remuneração é justa? Ou depende de cada local onde exercem a profissão?
Acredito que o ponto mais recompensador do setor Público não é, de facto, o financeiro. No entanto, não me parece que seja penalizador em particular para os Fisioterapeutas. Creio que a adequação da remuneração ao nível de diferenciação profissional e académica, assim como a responsabilidade profissional, é algo pelo que todos os Profissionais de Saúde devem lutar.
Alguma vez ponderou deixar esta profissão para trás? Se sim, porquê? Imagina-se a trabalhar noutra área?
Não, creio que serei Fisioterapeuta até ao dia em que entre em assistolia sem retorno. Mas ser Fisioterapeuta são tantas coisas, do contexto clínico prático, à docência e formação, à investigação… Atualmente abordo todas as dimensões. Não sei, com o evoluir do tempo, o continue a fazer.
Acredita que a Ordem dos Fisioterapeutas tem vindo a representar bem os profissionais? E defende os vossos interesses?
Considero que a Ordem dos Fisioterapeutas tem o potencial de dar um contributo decisivo para a Saúde em Portugal em nome da Fisioterapia. O papel de uma Ordem não é defender os interesses dos profissionais, apesar de muitas vezes, em Portugal, existir esse equívoco – isso será o papel sindical. O papel de uma Ordem é regular a profissão, assegurando que a prestação de cuidados dessa classe é realizada de forma evidente, válida, rigorosa e segura, de acordo com normas de excelência, especialização e diferenciação categóricas. Ainda é uma Ordem recente, mas tenho uma profunda convicção da competência das pessoas que integram os seus órgãos, e foi com um sentimento misto de orgulho e humildade que aceitei fazer parte do seu Conselho Geral.
Em novembro do ano passado, António Lopes foi eleito bastonário desta Ordem. Na sua lista de objetivos, desempenhar este cargo um dia é um deles?
Não me parece que seja para os próximos 10 anos.
O que deve mudar urgentemente na Fisioterapia em Portugal?
O abandono de práticas anedóticas, e o caminho para o rigor da prática baseada na evidência e centrada na pessoa. A presença de Fisioterapeutas nos locais onde têm um contributo decisivo positivo, desde os Cuidados de Saúde Primários, onde temos um papel importantíssimo; às Unidades de Cuidados intensivos. Mas para isso é também fundamental que a Literacia em Saúde permita que sejam exigidas aos Fisioterapeutas intervenções evidentes. Não há Fisioterapia com rigor e validade realizada em 10 ou 15 minutos, nem excelência paga a 3 euros por hora; ou receitas de intervenção que tenham sucesso e vão de encontro às necessidades de uma pessoa. Outro dos aspetos importantes é a normalização da referenciação para e da Fisioterapia, legalmente profissionais com prática autónoma, em paridade com médicos e outros profissionais de saúde.
Qual é a importância do Dia Mundial da Fisioterapia?
É especialmente importante para celebrarmos esta profissão que é essencial. Este ano, a doença escolhida para assinalar esta efeméride foi a osteoartrose. É a doença reumática com maior prevalência na população. Ainda por cima, esta data engloba todos os fisioterapeutas do mundo!
Quais são os seus maiores sonhos profissionais e pessoais?
Ser feliz, ter mais tempo para ler e gravar (mais um) disco. Os meus sonhos profissionais são os que vivo dia a dia. Chamamos-lhe 'objetivos', quando a variável 'trabalho' entra na equação. E os objetivos devem ser flexíveis de acordo à constante mutabilidade da realidade. Para auspiciar o dito bem-estar físico, mental e social que definem, atualmente, o que é Saúde. Assim sendo…. ser saudável. Não é uma definição perfeita, mas ouvi dizer que a perfeição é extremamente aborrecida, por isso mais vale a realidade.