por Manuel Monteiro
Antigo presidente da Juventude Centrista
Corria o ano de 1984, quando pessoalmente conheci o Professor Adriano Moreira. Estava então na Juventude Centrista, a organização política de jovens a quem Adriano Moreira muitas horas e muitos dias deu do seu tempo. Essa permanente disponibilidade, testemunhada por incessantes momentos de diálogo, depressa contribuiu para que os mais jovens membros do CDS o passassem a admirar e a querer seguir. Ele sabia como os jovens gostavam de ser ouvidos e também sabia como era para eles relevante sentirem a importância que a idade ainda não lhes permitia ter. Sensível às suas inquietudes, atento às suas constantes dúvidas, consciente de muitas das suas incertezas e ansiedades, compreendendo os seus entusiasmos e paixões, Adriano Moreira nunca recusou um encontro, uma reunião, ou uma simples conversa, com os jovens centristas. Antes de muitos, e seguramente contra muitos, explicou-lhes a distinção entre a direita dos valores e a direita dos interesses, referiu-lhes a importância da ligação entre as gerações e transmitiu-lhes que o poder político é apenas um meio e nunca um fim. Foi, pois, sem surpresa que a maioria dos jovens centristas o apoiou e nele votou, quando concorreu, em 1986, à presidência do CDS. Sem calculismos impróprios de quem é verdadeiramente jovem, movidos exclusivamente por convicções e indiferentes a eloquentes vozes da época que protestavam contra o que diziam ser um regresso ao passado, essa maioria de jovens esteve nesse tempo sempre ao lado de Adriano Moreira. Esteve a seu lado quando se candidatou, esteve a seu lado quando foi eleito e continuou a seu lado quando a força dos votos foi superior à força das ideias que não se esgotam na espuma de um ato eleitoral. Eram os valores e não os interesses que os guiavam, eram os princípios e não o puro pragmatismo que os motivavam e era a sólida crença de que o presente é só um ponto de partida para o futuro, que os manteve genuinamente leais à mensagem, à palavra e ao testemunho que tinham recebido. Quando muitos desses jovens assumiram mais tarde novas responsabilidades políticas, Adriano Moreira disse presente. Fê-lo perante a desconfiança e a incerteza de alguns, ao tranquilizar os avós e os pais dizendo-lhes que poderiam confiar nos netos e nos filhos, fê-lo com a autoridade que lhe era reconhecida quando moderou e decisivamente contribuiu para ultrapassar divergências e tensões no seio do CDS, e fê-lo ainda no parlamento, entre 1992 e 1995, ao juntar a sua voz à dos novos dirigentes do CDS-PP. Durante esse período nem sempre houve acordo, nem sempre existiu plena sintonia, mas Adriano Moreira e esses jovens sabiam que aquilo que os ligava era muito superior ao que pontualmente os poderia separar. No fundo, todos reconheciam que a essência das coisas é sempre mais importante que a sua volátil aparência, algo afinal que o próprio Adriano Moreira nunca se tinha cansado de repetir.
De então para cá vários anos se passaram e também de então para cá não só a política dos valores parece ter sucumbido à pura política dos interesses, como a ideia de Portugal no mundo, algo que sempre ocupou Adriano Moreira, se encontra em lugar incerto. Durante este tempo, o que poderá sempre ser considerado normal, também se registaram encontros e desencontros que serão sempre irrelevantes diante os cem anos de vida que agora se celebram. Resta-nos por isso, em nome de um passado intensamente vivido, recordar e honrar o legado político que na década de oitenta do século XX, a Juventude Centrista recebeu.