por Francisca de Magalhães Barros
A verdade é que seríamos ilhas, isoladas e afundadas pela dureza do mar. Já percebi há muito tempo que uns sem os outros não construímos caminho ou mudança. Dediquei-me sem precedentes à campanha da Unicef por iniciativa própria, para ajudar a combater a fome no Corno de África, arrasado pelas alterações climáticas, pelas guerras entre as suas próprias castas. Falei com artistas e atletas e pretendo chegar ao objectivo de 10 mil euros, pois esta campanha consome um ser humano até ao tutano, apenas por olharmos a realidade de frente, de não fugirmos dela, recostados no nosso conforto. Visitamos a terra árida, sem gota de água, os ossos, as moscas em volta da boca, em seres humanos tão pequenos que podiam ser nossos filhos: no entanto, isto é permitido como se fossem apenas os piores monstros de um planeta que não o nosso. Cada euro foi de suor e súplica. Volto a dizer, nós vamos pelas mãos uns dos outros.
Há poucos dias, apareceu-me o caso do Luís Miguel Cardoso, pouco notado ou visto, com o infortúnio de ter tido um aneurisma roto em Nova Iorque e de ficar com uma dívida de 150 mil euros. No caso dele, ele não sabe o que lhe acontece se não pagar, uma penhora, mas talvez pior para ele que isso seja o nome dele e do país, o facto de a vida não ter preço e de não puder ficar com esses números a riscarem-lhe o coração endividado segundo o país que lhe salvou a vida. Dei a mão a esse caso. O jornal Nascer do Sol e a Maria deram a mão a esse caso. Artistas deram a mão a esse caso. A comunicação social deu a mão a esse caso. Sei que a sua família tentou recorrer a ajudas, a alguém que os guiasse, mas quem os guiou foi uma legião. Um exército do bem. Apenas porque se não fôssemos pela mão dos desinteressados, dos que não possuem cargos há muito tempo, no mesmo sítio, o Luís Miguel continuaria no mesmo lugar. E a campanha da Unicef também. Que demos as mãos, quantas vezes forem necessárias, aos desinteressados de mão estendida para ajudar.