Essencialmente prática, a águia alemã de Roger Schmidt concluiu ontem a sétima jornada com sete vitórias, batendo o Marítimo na Luz por 5-0, e aproveitando o empate do FC Porto na Amoreira (frente ao Estoril, 1-1) e a derrota do Sporting no Bessa (1-2 perante o Boavista) para cavar uma distância de cinco pontos para o primeiro e de onze para o segundo. Se somarmos as seis vitórias na fase de play-offs e de grupos da Liga dos Campeões, já são treze os triunfos consecutivos do novo treinador encarnado pelo que o apelido Vitória encaixa perfeitamente na Águia até agora airosa e alegre, praticando um futebol ofensivo e virado para os golos e, ainda por cima, dominando com mestria todas as fases do jogo seja contra que adversário for, mostrando um estilo agradável à vista e divertido para o público.
Ontem, por acaso, o opositor até era dos mais fracos, pelo que não exigiu despesas extraordinárias de energia ou o impor de um ritmo avassalador. Mais depressa ou mais devagarinho, o Benfica fez aquilo que era dele esperado – podemos dizer que não goleou; foi goleando – e encara a interrupção do campeonato para jogos da selecção (Liga das Nações) com um à vontade sumamente agradável. Fim de semana em vermelho, sim. Fim de semana vermelho em flor. E, em redor do estádio, o sol fazia reflexo no marfim dos sorrisos escancarados.
Protagonistas maior da época até ao momento, ainda que tenham entrado nela sob uma manta de desconfiança, de tal ordem foram deprimentes as últimas, com o seu futebol a atingir pontos de mediocridade e, sobretudo, de desleixo, os encarnados exibem uma saúde mental assinaláve, ainda por cima quando comparada com as que se vivem no Porto e do outro lado da Segunda Circular onde alegrias e agonias se sucedem de forma incontrolável – ainda na terça-feira passada os adeptos do Sporting impavam de orgulho (com motivos para tal) pela vitória sobre os ingleses do Tottenham.
Os companheiros de agonia O FC Porto atravessa, nitidamente, não apenas uma crise de qualidade (neste caso de falta dela) como, igualmente, uma crise de confiança. Depois da derrota caseira frente ao FC Brugge, por 0-4 – dá a sensação de que já ninguém, na Europa, respeita o poder das velhas Antas –, mais um jogo sem vencer e, ainda por cima, empatado sobre os minutos derradeiros de uma forma demasiado polémica, para não lhe chamar absurda – a primeira infracção é, obviamente, a do fora de jogo e não a da (indiscutível) grande penalidade. Contava-se que o desastre europeu oferecesse a Sérgio Conceição e à sua equipa uma injeção de revolta que os levasse a atropelar o adversário de sábado à tarde. Mas o treinador do FC Porto parece estar a passar por um desfazamento inequívoco com o clube que se revelou, subitamente, no estúpido ataque ao automóvel que transportava a sua família, aos assobios e apupos com que o grupo foi recebido na chegada ao estádio, depois dos dois pontos deixados na Amoreira, e ao silêncio a que este se entregou, recusando-se a comparecer nas conferências de imprensa. Fá-lo-á numa concertação com a política de comunicação do FC Porto – a quem deu sempre tanto jeito o seu estilo intempestivo –, ou por iniciativa própria, o que significaria de que já não tem confiança nos seus assessores para a comunicação social?
Não deixa de ser de certa forma abusivo escrever o que escrevo, mas é uma convicção intrínseca minha, e portanto vale o que vale, que nem Conceição nem Amorim continuarão nos seus postos na próxima temporada, independentemente dos resultados que venham a obter no final da época.
O treinador do FC Porto já deu demais ao clube e pouco recebeu em troca e, esta época, recebeu mesmo zero, embora continue a suportar aos ombros uma enorme carga de exigência.
O técnico do Sporting, à distância de 11 pontos do Benfica à sétima jornada, atravessa a sua pior fase desde que chegou a Alvalade, e a euforia da vitória sobre o Tottenham desfez-se no espaço de três dias tal o acumular de erros que se viu no Bessa, de onde os leões saíram derrotados por 1-2. O desgaste não se tapa com uma peneira e as divergências com a direcção também não.
Varandas foi a Braga buscar um treinador jovem que levou, finalmente, ao fim de tantos anos, o Sporting ao título nacional. Acertou em cheio mas não se preparou para o tamanho do monstro que estava a criar. Nos momentos que correm, os méritos das conquistas leoninas são vistos pelos adeptos verde-e-brancos, bem como pelo povo em geral, como tendo um único responsável: Ruben Amorim.
Pagando os custos de não ter apenas um plantel mais fraco mas também mais desequilibrado – francamente faltam avançados com características de goleadores para um candidato ao título –, o treinador dá a ideia de ter atingido o máximo das suas capacidades no exercício de um cargo que prometia, desde início, ser um berbicacho dos antigos. E fica mais uma vez a sensação de que o Sporting, por mais passos em frente que dê, cedo ou tarde, volta a andar para trás. E isso não pode, de forma alguma, ser atribuído a Amorim.