Várias organizações não-governamentais (ONG) apelaram esta segunda-feira às autoridades de saúde nacionais para permitirem o uso preventivo de parte das vacinas contra o vírus Monkeypox nas pessoas com maior risco de contrair a doença.
Em comunicado, 26 organizações pediram ao "Ministério da Saúde, DGS [Direção-Geral da Saúde], e Infarmed [Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde] que tomem as decisões necessárias que permitam o uso preventivo de parte das vacinas para as pessoas em maior risco, continuando a vacinar em pós-exposição os contactos de casos positivos", defendendo, contudo, que "dada a aparente escassez de vacinas, é urgente autorizar e privilegiar a administração intradérmica que, de acordo com a evidência que existe neste momento, permite vacinar até cinco pessoas com uma só ampola".
No mesmo comunicado, as ONG's lembram que a vacinação intradérmica já foi validada pela Agência Federal norte-americana, pela Agência Europeia de Medicamentos e pela Direção-Geral da Saúde e Segurança Alimentar, da Comissão Europeia.
Recorde-se quena passada quinta-feira, dia 15, a DGS atualizou a norma acerca da vacinação contra a Monkeypox mas, segundo as ONG, a atualização fala apenas "na possibilidade de estar em estudo a utilização intradérmica e uso preventivo da vacina, sem se comprometer com a publicação da revisão", como as organizações entendem que deveria ter sido feito desde a data de aprovação pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês).
Para as organizações, é necessário que fique claro que, apesar de à data de hoje, esta ser uma doença que tem tido impacto sobretudo entre homens, entre os quais gays, bissexuais e outros homens que têm sexo com homens, as dinâmicas de transmissão do vírus "não são estanques e podem alterar-se a qualquer momento".
"O acompanhamento da situação epidemiológica permite compreender a complexidade deste novo surto e a necessidade de implementar normas e estratégias de vacinação equitativas. Lembramos o surto de hepatite A em 2017, cujas dinâmicas de transmissão tiveram incidência expressiva em homens gays, bissexuais e outros HSH, e que foi controlado com a ajuda de uma estratégia de vacinação preventiva dirigida", lê-se na nota.
É ainda feita referência à necessidade de uma comunicação e atuação "clara e transparente" acerca da situação europeia em relação aos problemas com o número de vacinas disponíveis e com os calendários de entregas, sendo ainda preciso uma comunicação e informação que ajude a "reivindicar o aumento da produção de vacinas e a fazer pressão sobre a indústria farmacêutica e a UE, de modo a garantir a cobertura de todas as necessidades, em todos os países e não apenas nos países mais ricos".
"Parece-nos que a posição da Bavarian Nordic, a companhia detentora da patente da vacina, que não faz acordos com outras empresas com capacidade de produção instalada e pede um preço exorbitante por cada vacina, não é aceitável num cenário de crise de saúde pública", consideram as ONG.
"Cumpre-nos, por isso, exigir e unir esforços para que as autoridades nacionais exerçam a diplomacia necessária junto dos organismos europeus, de modo a que fique claro que a saúde pública não pode estar refém de lógicas de mercado e de racionamentos com base em critérios geopolíticos que extravasam a preocupação central com a saúde humana", escrevem ainda.
As organizações consideram que "o caminho a seguir" é aquele que já foi feito noutros países, passando este por um regime de vacinação em modo "casa aberta" para as pessoas mais afetadas, lembrando ainda que é necessário alertar para eventuais situações discriminatórias de modo a que "não se repitam erros históricos que ainda hoje estão por sanar", sublinhado que "a vida pública e privada de pessoas LGBTI+, mas também das pessoas com VIH e pessoas migrantes, continua a ser altamente escrutinada dentro do espetro danoso do preconceito".
De acordo com os últimos dados, Portugal terá registado 898 casos de Monkeypox desde o início do surto.