O caso que chocou o país mas não suficiente para meter toda a equipa que trabalhava no lar da Santa Casa de Boliqueime na rua e sujeitos a processo criminal e de onde resultou apenas a suspensão de dois funcionários do horário noturno faz-me questionar, que esta decadência que vivemos ao nível humano para com as mulheres e crianças, sempre foi também acerca dos idosos. Num país que tem uma população onde cerca de dois milhões de pessoas são idosos, como é que é possível, sermos destaque, em outros países, por vermos a cara de uma senhora, amarrada, com os olhos abertos, com uma ferida, coberta de formigas que percorriam um carreiro que nunca mais acabava. Depois de esta denúncia vir cá para fora, é inacreditável como a provedora da mesma instituição, sentiu que o problema seria a manipulação de um vídeo que não era manipulável, onde já tinham aparecido mais duas fotografias, uma com uma idosa cheia de diarreia e outra com um idoso caído no chão com a cara na terra.
Depois surgiram mais depoimentos e acusações, de ex funcionários, de maus tratos continuados, de alimentação estragada, fruta podre, iogurtes fora de prazo, insultos e agressões. Numa altura em que a dona de um lar em que morreram sem qualquer assistência duas idosas está a ser julgada em tribunal pelos mais ignóbeis crimes de maus-tratos, o que nos diz dos lares legais, quando ninguém está a ver, sendo que este era um lar “ilegal”?
A mim diz-me o mesmo que uma criança que não se consegue defender nem proteger. Os maus-tratos podem ser sucessivos e continuados que ela não se consegue expressar. Diz-me também, que o que está por fora e que a aparência destes ditos lares é ainda mais assustadora do que os filmes que vemos. Bonitos por fora, infernais por dentro, sem que ninguém se consiga expressar existindo um clima de intimidação e malvadez. Acredito que isto acontece em lares, legais e ilegais, em casas pelo país fora, em hospitais onde os idosos já perderam o seu “prazo de validade” e utilidade enquanto cidadãos e cidadãs. Este caso, fez-me ver que claramente, nem mostrando algo destas proporções se tomaram atitudes imediatas mesmo que o fundador do lar, tendo dito que foi o primeiro a reportar denúncias e acreditando que existem agressões no mesmo lar. Que sorte tenho, em acreditar que a velhice não é um fardo mas sabedoria. Não é ódio mas amor pelos nossos. Não é abandono mas cuidado. Que vergonha sinto de viver num país que em vez de dar um enterro digno a esta senhora e lhe deixar uma flor na cabeceira, a sujeitou a dias sem fim de tortura interminável por uma cambada de insectos!