Aos 23 anos, todos os jovens têm muitos planos… Mas nenhum deles contempla uma doença grave. No entanto, Simão Correia, no dia 16 de setembro, foi diagnosticado com leucemia linfoblástica aguda tipo B e, agora, luta para que os portugueses se inscrevam como dadores de medula óssea para que tenha cada vez mais probabilidades de encontrar um dador compatível.
"O Simão foi diagnosticado no dia 16 de setembro, no Dia Mundial do Dador de Medula Óssea", começa por explicar Pedro Correia, pai do rapaz, em declarações ao Nascer do SOL, enquanto a mãe, Dulce Correia, elucida: "o Simão, no dia 3 de setembro, começou a sentir náuseas e a ter diarreia. Pensou que tinha comido algo que lhe tivesse feito mal. Pensámos que era uma coisa passageira, como acontece a toda a gente, e acabámos por desvalorizar. Pusemo-lo logo a dieta e a beber muita água, mas os sintomas não desapareciam. Uma semana depois, teve febre e procurámos ajuda de uma médica que é nossa familiar: ela explicou que o facto de ele melhorar não era bom sinal e prescreveu-lhe um antibiótico. E avisou que, se ele continuasse mal, teria de fazer exames", esclarece.
"A febre baixava com o Benuron, mas no intervalo das oito horas já estava mal novamente. Eu disse 'É melhor marcarmos uma consulta e vais ser visto pela médica do seguro'. Ela prescreveu análises e não havia melhoria nenhuma. Na quinta, o Simão disse: 'Não tenho forças nem para ir ter com a minha namorada'. Havia ali qualquer coisa grave, que nos ultrapassava", recorda.
"Ligámos para outro seguro de saúde que temos e a médica, ao ver as análises e perceber aquilo que se estava a passar, prescreveu outro medicamento. Como ele já tinha as análises marcadas para sábado, tudo bem. Fui à farmácia e era mais um antibiótico. Ele estava a ficar pálido e perdeu cinco quilos em 10 dias", diz, lembrando que, nesse mesmo dia, declarou: "Filho, vamos a uma urgência".
"Podíamos ter ido a uma clínica ou a um hospital privado, mas decidimos ir ao Amadora-Sintra: achei que tinha de ser, era o sítio onde podiam fazer um despiste mais pormenorizado. Assim que começaram a ver o caso dele, já não saiu de lá. Ao fim de mais ou menos uma hora, disseram-nos que teria de ficar sob observação".
"Tinham encontrado um parâmetro muito elevado e pensaram até que a análise estava mal feita. E estava com uma anemia grande", avança Pedro, sendo que Dulce admite que, mesmo nesse momento, não imaginou um diagnóstico grave porque o filho sempre fora saudável.
"Teve otites, como os miúdos têm, e acabou por fazer uma cirurgia aos ouvidos, mas foi algo normal. Tudo passou. Em toda a vida dele, tinha tomado uns três antibióticos. Ninguém pensaria que ele ficaria assim. A médica que falou connosco disse que sabia que ele não tinha maus hábitos", garante.
"Entrámos com a suspeita de uma gastroenterite e, no dia seguinte, foi transferido para o IPO com suspeita de leucemia linfoblástica que se veio a confirmar. E, a partir daí, fez todo o tipo de exames e análises. As equipas médicas que trabalharam com ele, até agora, foram simpáticas, muito profissionais e estiveram atentas a todos os sinais. Não temos nada a dizer", realça Pedro, alinhando-se com a esposa quando esta referiu: "Quando recebemos a notícia, caímos de um avião sem paraquedas".
"Parecia que estava a ver uma série ou um filme, como a Anatomia de Grey. Aquelas imagens que temos na cabeça… Nós éramos os protagonistas e não queríamos acreditar. Ficámos os dois a olhar um para o outro e, infelizmente, entendemos que era verdade. Quando vimos aquele ambiente e o Simão já numa cadeira de rodas… Acho que ainda nem nos caiu a ficha, digamos assim. É uma sensação horrível e nunca imaginámos que isto aconteceria", adianta o pai, confessando que tanto ele como Dulce pediram, nas suas orações, que o sofrimento de Simão fosse sentido por eles, para que o jovem ficasse bem.
"Infelizmente, isso não é possível. Temos uma filha, a Carolina, que tem 29 anos, e ontem fomos fazer os testes de compatibilidade. Estamos a aguardar, serenamente, dentro do possível, para sabermos aquilo que nos espera", refere Pedro. "A Carolina, como qualquer irmã ou irmão, tem 1/4 de probabilidade de ser compatível com o Simão. Mas sabemos de casos em que nenhum irmão é compatível. É como encontrar uma agulha no palheiro: aliás, chego a dizer que é meia agulha no palheiro".
"Em todo o mundo, há 13 milhões de dadores de medula óssea: como é que isto é possível? Tanto eu como a Dulce nos registámos, há muitos anos, como dadores. Toda a gente devia ter esta responsabilidade social. Somos dadores de sangue e medula, temos a família motivada para estas causas e o Simão chegou a vir ao IPO, durante a pandemia, tocar e cantar para os garotos que estão aqui. Temos de perceber que uma doença como esta nos pode bater à porta", sublinha, abordando o diário que o filho criou, na página de Instagram @simaoplcorreia, que, ao início da tarde desta quarta-feira, já contava com mais de 6 mil seguidores.
"O Simão teve a ideia de criar o diário para criar alguma rotina e motivação, obrigar-se a ter uma forma de se expressar. Às vezes diz que não sabe se é capaz de escrever, mas incentivamo-lo. Estamos estupefactos com a dimensão que a página está a ter. Para além de as pessoas se sensibilizarem, precisamos de que sejam dadoras de sangue e medula. Ele, assim como os outros doentes, recebe transfusões de sangue dia sim, dia não. Temos de ser solidários. Disseram-nos que têm registado alguma 'agitação' e ficámos muito contentes: não sabemos se será por causa do Simão, mas agradecemos imenso", diz, afirmando quase ao mesmo tempo que Dulce: "Damos um bocadinho de nós e salvamos uma vida. Há melhor sensação que esta?".
"Não sabemos quando vamos receber os resultados do teste, estamos numa angústia enorme, mas sabemos que será breve. Quando o tivermos, saberemos se será compatível com a Carolina: isso seria uma bênção. Se não for, vamos recorrer ao banco internacional e não sabemos quanto tempo demorará. Por agora, vamos concentrar as nossas forças e orações na possibilidade de a irmã ser compatível. Ouvimos que tem de se levar 'um dia de cada vez' e agora entendemos mesmo o significado desta expressão", conta o pai do rapaz licenciado em Arte Multimédia que quer regressar o mais rapidamente possível à sua rotina habitual para iniciar o mestrado em Design de Comunicação, em que ingressou. "Estamos em contacto com a faculdade e os médicos e decidimos não anular nada. Quando sair daqui, quer continuar o percurso e os sonhos dele", confirmam os pais.
"Somos de Sintra, a Leonor Cunha, a namorada dele, é de Oeiras. Tem sido incansável e uma força enorme para nós e ele. Costumamos dizer que ele é o piloto e ela é a co-piloto. É muito atenciosa, prestável e para nós é ótimo vermos que ela vem aqui todos os dias como nós. Ganhámos mais uma filha e temos a certeza de que o Simão escolheu bem: se dúvidas houvesse, agora não existem!", exclamam, agradecendo o auxílio que a companheira de Simão lhes tem dado diariamente sendo que, nas entradas do diário, que começou a redigir, Simão frisa sempre que ver a família e Leonor constitui o ponto alto dos seus dias.
"Como ajudei vários casos, ao nível de encaminhar pacientes oncológicos, durante a pandemia, acho que todos podemos fazer esforço para ser dadores de medula óssea! Não custa nada!", afirma, ao Nascer do SOL, a ativista dos direitos humanos Francisca de Magalhães Barros.
"E podemos salvar a vida do Simão, que é um rapaz extraordinário e cheio de força!", salienta a também cronista e pintora que promete continuar a acompanhar o caso do jovem músico e prestar-lhe toda a ajuda que estiver ao seu alcance.
Segundo o Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST), para se ser potencial dador de medula óssea é necessário: ter entre 18 e 45 anos; ter no mínimo 50kg e 1.50m de altura; ser saudável e nunca ter recebido uma transfusão de sangue, desde 1980. Clique aqui para saber mais.