Bob Dylan – Highway 61 Revisited
Data de lançamento – 30 Agosto de 1965
por Telmo Marques
Este é um daqueles álbuns que bastaria ser um EP para ter todo o significado que teve e que perdura ainda nos dias que correm.
Farto de ser tratado unicamente como mais um "folk singer", Bob Dylan reinventa-se aqui por completo, com um álbum que rompe com todas as tradições que vinha carregando consigo ao longo de três "intermináveis" anos.
Os Byrds tinham singles em nº1 com músicas de Bob Dylan, bem como os Peter, Paul & Mary, mas quanto a singles, Sir Bobness, como afecciosamente o trato, nada de significativo tinha para mostrar!!!
Terá porventura achado que seria altura de colocar todas as cartas na mesa e jogar todos os seus trunfos, algo que com este álbum, fez um autêntico Full House!
Começando pela escolha de Like a Rolling Stone, que nos transporta para um mundo turvo, fosco e toldado, quase sem apego a nenhuma realidade concebível, com um coro repetitivo de "How Does It Feel", e que é lançada como single contra toda uma corrente opinativa da CBS. Nada de incomum, exceptuando um pequeno detalhe…a música tem mais de 6 MINUTOS, o que para single, era algo de inaudito nos idos dos 1960's, e talvez até nos dias de hoje
Atente-se apenas à sua introdução, com o que parece ser um disparo d'uma arma, para começar a batida na tarola e o orgão Hammond, tocado magistralmente pelo guitarrista Al Kooper e começa:
"Once upon a time you dressed so fine
Threw the bums a dime in your prime, didn't you?
People call say 'beware doll, you're bound to fall'
You thought they were all kidding you
You used to laugh about
Everybody that was hanging out
Now you don't talk so loud
Now you don't seem so proud
About having to be scrounging your next meal
How does it feel, how does it feel?
To be without a home
Like a complete unknown, like a rolling stone”
Para primeiro verso duma música, nada mal. Mas a mesma encontra-se repleta de pérolas como esta, carregada de hipérboles e eufemismos, mas sem nunca ninguém perceber exactamente toda a extensão e profundidade da respectiva letra.
Todas as músicas que compõem o álbum são clássicos instantâneos, fazendo ainda parte da set list de Sir Bobness nos concertos ao vivo, se não até aos dias de hoje, pelo menos, até há relativamente pouco tempo.
Tombstone Blues remete-nos no imediato para um western de John Ford ou Sam Peckinpah, com a diferença dum batimento rítmico completamente desenfreado, ao contrário dos filmes realizados por estes dois directores.
Passamos depois para "It Takes A Lot To Laugh, It Takes A Train To Cry", uma música que demonstra mais uma vez a veia artística e poética do seu autor, não deixando seus créditos por mãos alheias.
Ballad of a Thin Man é outra das músicas intemporais de Sir Bobness, tocada pelo próprio ao piano, e com ajuda extra do seu novo protegido Al Kooper, no Hammond Organ.
Queen Jane Approximately é considerada por quase todos os "Dylanófolos", como uma achega a Joan Baez, do qual este se terá distanciado, após o início dos 60´s,
Todo o 2º lado do LP carrega músicas mais que suficientes para fazer uma carreira, algo que daquilo que fui e vou conhecendo, encontra-se apenas ao alcance dos predestinados.
Eis-nos então chegados à última canção do LP, "Desolation Row", que com mais de 11 minutos, é o final estrondoso dum dos mais significativos álbuns da carreira de Bob Dylan.
Sir Bobness na guitarra acústica e voz, e com Charlie McCoy na guitarra espanhola, constrói toda uma panóplia de personagens, passando por Rimbaud a Einstein, Cinderella, Noé, Caim e Abel, etc, etc…
Talvez a canção mais Fellinesca de Dylan, exacerbando toda uma panóplia de personagens, reais, inventadas ou mitológicas, cruzando-as entre si, e construindo praticamente uma realidade alternativa, sobretudo para os nossos ouvidos, ou principalmente para os meus…!!!